Casa nova

BsB, 17/08/09

Grande amigo, quando nos veremos outra vez? O tempo parece uma vela que o vento sopra em desespero. É como se fôssemos nos apagando sem a devida preocupação e zelo. Não podemos deixar que isto aconteça, haveremos de reduzir as distâncias, os espaços em branco e o tamanho da saudade.

Um dia desses liguei para você para lhe dar uma grande notícia, infelizmente não o encontrei, pelo visto não estava em casa naquele exato momento. Tentei deixar um recado na secretária eletrônica, porém fiquei preocupado com o que você poderia pensar, aí desisti rapidamente. Apaguei entristecido o que havia dito. Mas ainda bem que isto aconteceu, assim e agora, aproveito para lhe dar as mais recentes notícias dos meus derradeiros dias. Antes preciso dizer que estou feliz da vida com tudo que tem acontecido, eu e minha amada compramos uma casa em fase de acabamento, estamos fazendo planos e croquis para terminá-la ou pelo menos deixá-la em condição de nos mudarmos. Sabemos que não será de todo fácil, mas com boa vontade e perseverança, muito em breve estaremos desfrutando das delícias de um novo lar, provavelmente – um Lar Doce Lar, como ela sempre fala. Reservaremos para você o mais bonito e amplo quarto que tivermos. Você poderá ver a lua quando ela, acintosamente, romper o véu da escuridão, por detrás de algumas árvores que lá existem e encantam. Se vier no início do mês, certamente verá uma lua cheia - esplendorosa: qual uma romã em maturação. A visão que se tem da janela é bucólica: semelhante ao luar do sertão, onde se vê vales e campinas. É possível que escute sabiás em cantoria matinal, em algazarra, no último galho de uma árvore qualquer ou quem sabe, se tiver sorte, de uma recém plantada e florida laranjeira que fica na casa do vizinho do lado direito. Sabiás livres de gaiolas ou argolas. Você poderá reviver a criança que habita suas lembranças, criança que um dia deixou para trás, mas que poderá ressuscitar de uma vez por todas, assim como eu e minha amada estamos fazendo quando vamos para nossa fazenda, andar a cavalo e tomar leite com farinha na caneca desbotada, à beira do curral. Os pés cheios de esterco, para não dizer bosta de vaca e bezerro novo, nos remetem à infância. Lembramo-nos de histórias que vivemos em separado, mas que agora revivemos em conjunto, nos transportando para o passado, o que faz com que nos sintamos jovens de cabelos grisalhos e peraltas. Desde já, deixo o convite para que venha nos visitar assim que nos mudarmos e, quiçá, compartilhar das dificuldades que enfrentaremos com os últimos detalhes da casa. Se gostar de piada, venha preparado para rir em profusão. Minha Flor é uma exímia contadora de anedotas, é verdade que aumenta um pouco e nem fica vermelha. Ainda mais agora que começou a contar piada de pescador. Acho que era isto que eu tinha para lhe contar, o restante, conto quando chegar.

Um grande abraço.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 17/08/2009
Reeditado em 04/12/2022
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