Contando histórias

BsB, 15/07/09

Grande amigo, quantas luas deitaram suas costas no relento do mar sem que eu lhes contassem as minhas novidades? Quantos peixes pesquei junto com minha amada, sem que você soubesse ou tivesse uma única notícia de nossas travessuras? A vida tem corrido mais do que eu, suas pernas longas e apressadas têm me deixado para trás, a quilômetros de distância. Ando sem tempo e hora para deitar a cabeça no travesseiro, para poder sonhar com outros mundos. Os minutos têm fugido por entre os meus dedos como se fossem grãos de areia que mudam de lugar para edificar novas esculturas ou, quem sabe, destruir aquelas deixadas nas praias como brinquedos de crianças, ainda assim, fomos atrás dos pacus e matrinchãs, lá na boca do velho e belo Araguaia.

Minha amada abusava da beleza da lua lá nos barrancos do rio, como se fosse uma ribeirinha. Às vezes abria os valentes braços e gritava: “pula, pula”. Fazia de conta que estava mirando o céu, mas bem sei que ela só tem braços e olhos para mim... E que braços!!! E que olhos!!! Braços que me acolhem como quem afaga uma velha criança, olhos que me vigiam enquanto canto e rio. Infinitas vezes senti, aqui dentro do peito, que ela é a extensão de um sonho que sonhei quando em seus abraços trafeguei, como um menino fujão.

Temos feito planos como se tocássemos viola a quatro mãos: cada nota uma maravilha maior que a outra, cada música um sonho que se realiza, cada deslize uma volta retumbante. Como todos, planejamos construir uma casa, talvez um castelo que caiba em nossos orçamentos ou, ainda, uma choupana que agasalhe todos os nossos sonhos e frutos. Ah, sonhar faz parte do que há de mais sagrado em cada um de nós, por isto sonhávamos de olhos abertos e atentos, sob a proteção das estrelas cadentes.

Aquela foi a primeira vez que pescamos juntos, que navegamos nas corredeiras mansas de um rio que nos convidava a desfrutar o que havia de mais gostoso e prazeroso em suas águas, ao nosso olhar, cristalinas. Aquela foi a primeira vez... Que sonhos!!!

Um grande abraço,

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 15/07/2009
Reeditado em 04/12/2022
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