Devaneios noturnos de um romântico desiludido
Mais uma madrugada sozinho. Mais uma vez atormentado pelos pensamentos que atormentam minha alma. Sobreviver às horas aparentemente infindas é uma batalha diária. A sala iluminada pelas luzes artificiais disfarça a escuridão lá fora, mas não a faz ir embora. A necessidade de pôr para fora alguns destes pensamentos é torturante, mas uma pessoa solitária não tem com quem convesar. As cartas são meu refúgio. As palavras são os tijolos com que construo meu caminho de volta à sanidade. A Loucura, esta dama sedutora de vestido vermelho me ronda, sussurra no meu ouvido: "perde a cabeça, deixe-a rolar...". A tentação é grande. Imagine só, esquecer de tudo, sucumbir à insanidade, sair do meu corpo, fazer as besteiras que Ela sugere. Tudo mais fácil, tudo mais... simples. Mas ainda tenho a racionalidade trabalhando forte, sei que não estou louco porque uma parte de mim deseja a loucura. É como saber que se está vivo porque a dor da ferida ainda é lacinante.
Já não aguento mais tanta dor. A espera é insuportável. Lágrimas? Não sobraram. Apenas esta queimação no peito. E as imagens que não saem da minha cabeça. As palavras que não deixam minha mente em paz, eu fecho os olhos e me vejo sendo jogado de uma lado para o outro, sem tempo de me recompor, sem chance de revidar.
"Vire sujeito homem" foi o que me disseram hoje. O que é ser "homem" afinal? Negar aos seus sentimentos por um falso orgulho? Vencer a batalha a qualquer custo? Eu perdi a batalha. Confesso. ELA me venceu. Me fez rastejar e pedir clemência.
Eu achei que seria forte o suficiente e passaria pela tormenta de cabeça erguida até ver o sol brilhando novamente. Eu passei pela tormenta. Mas o que veio depois? Uma pior ainda. Nada é tão ruim que não possa piorar.
Entrego minhas armas. Lutar contra a dor é inútil. Amar é inútil. É escolher sofrer voluntariamente, por a cabeça na guilhotina e escolher seu carrasco. Não luto mais pelo amor. É uma bandeira que já não tem valor algum para mim. Nunca achei que diria isto mas... eu desisto.
Eu não mereci os golpes que levei...