A morte de um coração

Hoje eu revisitei meu coração. Ele continua lá, mas já não bate. Seu silêncio ecoa no vazio do meu peito. Sozinho, já não canta mais as canções que há tão pouco tempo embalavam amores, aventuras, alegrias, tristezas, surpresas, decepções. É... decepções... a última foi um golpe forte demais para ele aguentar. Não falo do coração que bombeia sangue sem parar, dia e noite, uma vida toda. Mas do coração que bombeia a esperança, a alegria, a vontade de viver, que esquenta o nosso peito quando topamos com aquelas pessoas que nos fazem tão bem. É o coração idealizado. E em algumas pessoas é ele quem toma a frente, valente, tendo a coragem como espada e o amor como escudo. Se acha forte, capaz de qualquer coisa, leva um jovem a fazer loucuras. Até encontrar a pessoa amada. Ah, a paixão. Quando ela cresce e vira amor, aquela pessoa se torna a razão de tudo. Nos desarma totalmente. E então pessoas , como eu, confesso, passam a viver um sonho. O coração, pobre estúpido, abandona sua espada, abaixa seu escudo. Se abre, se desfaz e faz daquela pessoa sua metade. Nada mais importa. Porque pessoas que têm um coração assim ficam cegas. Pensamos que o destino pinta o quadro da nossa vida como queremos. Que o amor é para sempre. Mas um poeta já disse: "o 'para sempre' sempre acaba". Um dia o amor que se tornou metade do coração quer ir embora. Separa-se, rasgando tudo, levando embora a sua metade. O coração desaba, agonizando, sem esperanças de se recuperar. E inevitavelmente nos leva junto. Paramos, pensamos, reavaliamos, não é o fim do mundo, não morremos. Mas aquele coração... ele morreu. Aquela fé no amor, morreu com ele.

O meu já não respira mais. Fechou-se num caixão, pela metade, sozinho. A razão se tornou meu guia, a emoção o meu algoz. Eu pensava que o amor era à prova de tudo. Relevava defeitos e decepções poruqe amava. Mas nem todos são assim. Algumas pessoas não conseguem seguir amando alguém que não é exatamente do jeito que querem. Quando esses dois tipos se relacionam, um coração sempre sai ferido, senão morto.

Hoje eu revisitei meu coração. Axei que poderia estar recuperado. Já faz algum tempo. Mas há feridas que não se recuperam nunca.