PESSOAS MAGNÉTICAS E PESSOAS COMUNS

Pois bem. Não sou muito bom em fazer versos, eu confesso. Não sei fazer uma rima simples. “Oh! Aí está a grande diferença!!”... NÃO! Absolutamente, não é esta a grande diferença. Não é uma letra de música (de outro artista, ou própria, tanto faz, já dizia Nei Lisboa, dá tudo no mesmo lugar), ou um poema para tentar explicar sentimentos que vai fazer com que haja um abismo de diferença entre duas pessoas. Aliás, a respeito da poesia, eu já sei disso, mas pode falar, sou uma #@*¢£ de poeta!

Enfim, é fato, se queres seguir uma e só uma profissão, estás enveredando pelo caminho errado, agora se achas que dá pra administrar as duas, a poesia também deve ser tua profissão, és exímia com os versos, sabes encaixar bem as palavras, embora num estilo um tanto ortodoxo demais para meu gosto, não tem como não ver a beleza do modo como escreves teus poemas. Porém... ah, porém!!

As músicas expressam apenas uma faceta não só de mim mesmo, o que é natural, tendo em vista que identifiquei algo de mim numa letra escrita por outra pessoa, a qual sequer conheço pessoalmente, na grande maioria das vezes, como também das minhas emoções, meus sentimentos, ou do que esta ou aquela pessoa (sim, você incluída) e suas ações, palavras, etc, causam em mim. Só que quando tenho que falar do que sinto, na sua totalidade, a prosa me cai melhor que o verso, invertendo um pouco o que disse Belchior, o blues me vai melhor que o tango... não ter obrigação com rima e métrica, nem com linearidade, tampouco, pra mim é bem mais interessante, afinal, o meu pensamento, e creio que o da maioria das pessoas, não é linear, posso me absorver num assunto, não se trata disso, porém há as livres associações, coisas que levam a outras, etc... bueno, um psicólogo pode te explicar tudo isso melhor do que eu.

Então, meu coração encontra-se ferido, porque, apesar da maior aventura (e fracasso amoroso) da minha vida, acabei novamente conhecendo alguém, me apaixonando perdidamente, como se estivesse de volta aos meus tempos de Vila Prado, e me descobri de novo amando. Sim, esse alguém é você. Claro, aqueeeeeeeela entrevista de emprego podia ter sido só mais uma, não teve tanta diferença das outras pelas quais passei, mas, justo por causa de você, acabou se tornando A entrevista de emprego... porque foi lá que a gente se conheceu. De tempos em tempos me recordo DA entrevista, por causa do inusitado, já naquele dia estava apaixonado por você, e aí está a razão por ter sido A entrevista... caramba, só trocamos meia dúzia de palavras! Pois é...

Isto não deve soar mais estranho pra você do que o amor platônico. Aqui vai uma impressão toda particular da minha pessoa, sobre tipos de pessoas, por conseguinte, sobre o tipo de pessoa que você é: claro, há vários tipos de gente perambulando por este mundinho de Deus, mas vou me ater em discorrer sobre dois tipos de pessoas específicos, o meu e o teu.

Pois muito bem... há pessoas que nunca-- ou quase-- sofreram por um amor não correspondido, que nunca se apaixonaram por um alguém pretensamente inalcansável, que nunca tiveram aqueles amores idealizados, em que você só pensa naquela pessoa, em que apenas ver aquela pessoa, ou, de repente, estar há alguns passos dele ou dela já te leva a um êxtase quase espiritual, que portanto não entende o amor platônico, que é tipo o amor da fã pelo artista preferido, porém não se devota a uma pessoa tão inalcansável e tão incomum assim. Essas pessoas naturalmente chamam a atenção dos outros à sua volta, elas não têm que se esforçar para agradar, ou para atrair os olhares, desejos, etc, dos que estão à sua volta, elas são como os imas, têm um magnetismo, inexplicável, porém natural. Não vou dizer que essas pessoas não se apaixonam, se apaixonam sim, faz parte da condição do ser humano, só que elas não têm problema em serem correspondidas, seu problema é exatamente o contrário, o nem sempre corresponder! Por que você me disse, na introdução do teu poema, que procurou imaginar o que seria um amor platônico, como seria amar sem ser correspondida? Bom, porque você É uma pessoa com o magnetismo natural! SE não tivesses tal magnetismo, muito provavelmente já terias sentido na pele o que é isso, MAS... o Patrão Véio foi bem generoso com você e te deu essa capacidade de atrair gente só com tua presença. E não, não estou falando dos atributos físicos! Por isso falei, o magnetismo duma pessoa como você ainda não conseguiu ser explicado pela ciência, tampouco pela religião (embora algumas correntes já tenham batido na trave ao chutar que o magnetismo possa estar no espírito de cada um).

Bom, e por que pra mim é mais fácil compreender o amor platônico? Pelo menos cinqüenta por cento dos amores que mais me marcaram foram platônicos... sim, claro, já fui correspondido algumas vezes, mas não no amor, nunca no amor, somente na paixão, ou na atração, que são sensações e emoções mais passageiras... aliás, anos atrás fiz terapia com uma psicóloga, uns dois anos de terapia, e ela tinha uma definição interessante sobre emoções e sentimentos: as emoções são mais momentâneas e inconstantes, os sentimentos mais perenes e constantes. Portanto... meus sentimentos nunca foram correspondidos, minhas emoções, algumas vezes. Mas por que isso?? Acho que você vai se lembrar, certa vez reclamei que não conseguia atrair o sexo oposto, você me questionou o que estaria errado comigo, pois era inteligente, engraçado, tinha bom papo, e ahn... tinha uma certa beleza (tá! tá bom! mentira! men-ti-ra! não faça mais isso! tu não sabes mentir!). Sim, continua a pergunta, por que não consigo? Por que não sou correspondido? Eu não to aqui agora, não estou aqui desde novembro de 2007, quando fui obrigado a sair de Manaus, quase chutado. EU SEMPRE ESTIVE AQUI!! “Mas espera aí, onde é aí?” Bom, “aqui” é o outro lado, o lado das pessoas sem magnetismo, que apesar de atributos físicos, ou intelectuais, ou ambos, não atraem paixões, não atraem desejos, não atraem olhares. Para nós, os comuns (na falta de melhor definição, vai essa mermo!), as coisas são naturalmente mais difíceis, não basta nossa presença num lugar para atrair a atenção alheia. Se não fizermos barulho, se algumas vezes não nos impormos, na marra, ou inconvenientemente, nem a perturbação momentânea é sentida. Se, como é meu caso, além de comum, o índio também é tímido, retraído, então torna-se ainda mais difícil ser correspondido em seus sentimentos, em suas emoções.

Ou seja: apesar do fato de ter me apaixonado por você ser bastante irônico, não é nem um pouco surpreendente não ter esse sentimento correspondido. Se dói?? Bah!! Pra &¢£%§#@!! Mas não estamos ainda nos mundos mais perfeitos, onde não se sente mais dor. Já senti essa dor antes mesmo de te conhecer, ela não me é de todo desconhecida, não se esqueça que o amor platônico já me é um tanto familiar. “Oh, então por que a revolta?” Não... você ainda não me pegou numa hora em que estou revoltado. Não sabe como sou quando estou revoltado. Poucas coisas me revoltam ainda neste mundo, e essa faz tempo que não é uma delas.

Ah! Mas qual o lado irônico desse amor platônico por você? Bom... é que minhas outras paixões platônicas (antes eram só paixões, agora é amor, é diferente nisso também) foram por pessoas cujo fator de atração estava unicamente em atributos físicos, ou intelectuais, não no magnetismo natural que já mencionei, pessoas, portanto, que em algum momento, apesar de toda beleza, todo shape (sei lá que que é isso, só sei que é a gíria da moda), em algum momento de suas vidas tiveram, ou estão tendo, ou ainda vão ter uma experiência semelhante a minha. Você, ao que tudo indica, não conheceu isso ainda, e nem vai conhecer!

Bom, então te amar platonicamente, sem ser correspondido, não é o que está me destruindo, o que está me matando? Não, nem de longe. Como eu disse, dói sim, não vou negar a dor, mas tenho que conviver com ela, é como aquelas doenças em que tu tens que tomar remédio pelo resto dos teus dias pra aliviar a dor, que não têm cura mesmo, não tem jeito. Porém, lembras do pequeno sermão que me passou? Sobre não se preocupar com os detalhes? Ah sim, os detalhes... sempre eles! Eles sim é que vão matando a gente por dentro. Eles é que pisam o meu peito, que atravessam-no e chegam ao coração, tendo me deixado assustado algumas vezes, tal a dor física, seguida quase sempre de dormência e insensibilidade em uma parte da minha mão esquerda. Que detalhes são esses?? Hein? Qual é? O quê que foi? Ué...

Ah... porque agora não estamos mais na mesma cidade... esse é um dos detalhes? É... mas não de suma importância, veja bem... reside aí outro fato, o de que, desde que empreendi a loucura de atravessar o país, sair de Sapucaia do Sul, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para ir até o Amazonas, para conhecer, e mais tarde ficar mais próximo da pessoa que julgava amar, e por quem me julgava amado, o que mais tarde mostrou-se nunca ter sido verdade (lá no shopping te falei isso)... acabei, tipo: encontrando o meu lugar no mundo! Me senti mais feliz e mais a vontade, mais vivo, aí do que na minha terra natal. Não que aqui me sentisse infeliz, é que aqui sempre me senti deslocado e estagnado. No Amazonas eu estava vivo, no Rio Grande, embora tenha orgulho de ter nascido aqui, embora tenha algum amor por este chão, não estou no meu lugar. Estar tão longe de você dói, sim, mas nunca estive tão próximo, também. Mesmo quando estávamos na mesma cidade, você sempre esteve aí e eu sempre estive aqui! Podíamos morar no mesmo bairro, no mesmo prédio, no mesmo andar, trabalhar nos, ou freqüentar os mesmos lugares, que ainda estaríamos você aí e eu aqui.

Algo que me intrigou no teu poema foi: “queria ir até aí e te entregar meu coração, mas não posso”. É mais ou menos isso, né...? pois é, mas por que não pode? Não pode mesmo?! Bom... poder, até que podia... mas onde é aqui?? Exatamente. Não é um lugar físico. Nunca estivemos ambos aqui, ou aí, sempre estivemos em lados opostos! Eu só sou mais um cara, um comum, mais um que é puxado pra dentro do teu campo magnético, quase sempre sem querer, e você não é só mais uma garota comum, e olhe... tenho certeza que não sou só eu que pensa assim!

Então... o que mais me mata, além de nunca termos estado-- pelo menos nesta vida-- do mesmo lado?! Bom... vou logo eu negar que não sinto ciúmes dos outros caras, comuns ou não, que estão, digamos, dentro do teu raio de atração? Também não sou bom mentiroso, então melhor nem tentar... claro que fico chateado se dás a preferência para outro, não importando se ele está “aí”, ou se o número da minha pretensa ficha é menor que o dele! Ainda mais quando, como desde que nos conhecemos, acontece de tempos em tempos, o ser agraciado por tua preferência começa a tomar o espaço dos outros serzinhos comuns (inclusive eu), que são, digamos, repelidos por um certo tempo da tua órbita, devidamente esquecidos, até que alguma coisa aconteça e aquele que conseguiu chegar ao centro do teu raio magnético (podemos chamá-lo de teu coração), por algum motivo, deixe teu espectro de atração, então aqueles seres comuns, que não foram escolhidos, e muitos deles (é bem provável que eu esteja incluso) nunca o serão, saem do ostracismo, do exílio imposto pelo teu momento de amor correspondido, deixam de ser apenas o número de amigos na tua página do Orkut, contatos de MSN temporariamente esquecidos, voltas a dar atenção a tantos outros-- que como eu-- tentam avidamente ter um pouco dela. O meu medo, provavelmente o deles também, é que um dia esse retorno do exílio não aconteça mais. Não sei se nos outros dói tanto quanto, mas sei que em mim isso dói bastante... nossa que egoísmo! É... pode-se dizer que é um certo egoísmo da minha parte. Mas quem não tem desses arroubos?

Claro que se estiveres feliz com quem quer que seja, será ótimo, querer ser um dia quem te faça feliz não exclui de desejar ver você feliz a qualquer preço, até mesmo o da minha própria felicidade. Oh, porque se eu imaginasse mesmo o quão maior é o amor... to acostumado demais a amar sem poder esperar amor em troca, querida, não é por você que descobri o quanto os detalhes podem atrapalhar de se amar plena e livremente... se não vivêssemos correndo tanto atrás de recompensas, também, seria muito mais fácil amar plenamente, desapegadamente, só que ainda estamos num estágio em que, se damos amor, carinho, queremos com amor e carinho ser recompensados. Te amo tanto que gostaria de crer que realmente você sabe viver assim, amar sem buscar recompensa. Somente te tornaria mais perfeita aos meus olhos, e não somente aos meus. Queria sim ser correspondido. Mas se é ruim amar em vão, pior ainda é não amar.

Espero que isto tenha deixado mais claras as coisas em tua cabecinha, que assim não fique te sofrendo porque, segundo você diz, não pode deixar que meu coração fale com o teu (tá, no teu poema isso tá mais bonito), lido bem melhor com meu próprio sofrimento do que o sofrimento alheio, não te quero nunca triste, deixe que eu carrego minha dor sozinho. Agora... não use isso como desculpa para me esquecer e me repelir do teu campo magnético de novo, como das outras vezes!

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 07/02/2009
Código do texto: T1426780
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