Rumo incerto
Ao resgatá-la, entre uma saudade e outra, é a mim que resgato dos perigos da hipocrisia, da insensibilidade, da descrença e da própria solidão. Representá-la em minhas escritas é minha sobrevivência nessas solidões diárias, nesses vazios de palavras infecundas, nas repetições da insatisfação constante e à espreita. E o que me vigia os passos e atormenta minha insônia não são mais as dúvidas que fixaram morada em minha mente.
A instabilidade emocional que mantém o equilíbrio entre o que posso e o que faço desmantela a coerência vigente e me deixa aos pedaços em relações superficiais e desastrosas. Então, não é o que pretendo, mas o que consigo, a motivação que cessa no desvio da emoção desencontrada. Sucessão de erros em outra tentativa frustrada...
De mim pouco sei. De nós, talvez eu soubesse. Mas são essas recordações que me acompanham as verdades nas quais me agarro e ainda suspiro, quando a ausência do que tive me sufoca e a incerteza de nada saber me devora.
Isolando-me nas pedras milenares de minha inexistência, gravo em superfícies duras os ternos sentimentos que ali brotaram, nas noites que apontavam mil direções, quando tudo o que eu mais queria era ter apenas um lugar para ir... e ficar.
"A vida é uma ilha num oceano de solidão,
uma ilha cujas rochas são esperanças,
cujas árvores são sonhos, cujas flores
são abandono, cujas fontes estão secas."
(K. Gibran)