Troca de cartas - Aretta Villasboas e Felício Figueira
Aretta,
Não entendo, de fato, o porquê dessa tão grande formalidade em sua carta. Nos conhecemos de longa data e não vejo necessidade de uma escrita tão polida e distante.
Fico contente em ter recebido aquelas desculpas, na verdade tranquilizou-me o coração saber que você se arrependeu de tais atos insanos daquela noite. Camargo também veio falar-me, mas infelizmente não no mesmo tom que você, minha cara. Meu amigo confundira suas atitudes e disse-me coisas horríveis sobre você. Mas como conheço-a muito bem dissuadi-lo de tais pensamentos nefastos.
Confesso que foi bastante estranho vê-la lançar-se aos braços de Camargo, tão amigo meu, quase meu irmão, homem de total confiança e apreço com a menina que amei desde tão tenra idade. Mas tudo é passado, não, minha cara?
É fato que não posso cobrá-la ou impedi-la de ter com Camargo ou qualquer outro rapaz, mas não me fará gosto ver tais cenas ainda mais em casa de meus pais. Compreendo que tenha bebido demasiado tanto quanto Camargo e que a cólera e a bebida foram uma mistura enlouquecedora.
Apesar de tudo, você dançou graciosamente naquela noite, não dançava, deslizava no salão como um anjo. Encantadora. Celestial. Bela. Mas agora, totalmente intocável, uma lástima, uma chaga.
Não se sinta culpada pelo passado, meu bem! Jamais! Você foi a luz dos meus dias, foi meu acordar e adormecer. O destino não nos quis juntos e assim sigo com pêsar.
Camargo é bom homem, honrado e honesto, daria um belo marido para ti, mas jamais conseguiria conviver com sua presença, com seu matrimônio, com a sua verdaderia e irremediável perda. Peço-lhe desculpas por tamanho ultraje ao desejar que você jamais se case, mas é que minha ferida ainda não se fechou, ao contrário sangra e dói a cada amanhecer e adormecer.
Com carinho,
Felício Figueira