PESSOAS SENSÍVEIS... SOFREM OU NÃO?
Roque Gonzales, 31 de agosto de 2004.
Roberto,
Estava trabalhando em meu jardim quando meu pai trouxe a sua carta, pedindo que eu a respondesse. Fiquei intrigada, mas ao lê-la, à noite, me veio um sorriso de entendimento.
Pessoas sensíveis sofrem, e muito, nesse mundo movido pelo material.
Por ser muito sensível e as pessoas não me compreenderem, por um período de minha vida criei em mim uma barreira, em forma de ironia, para me defender das coisas que me machucavam. Consegui agüentar por alguns anos, mas cheguei a um colapso nervoso.
Hoje, após dois anos e quatro meses de terapia, vejo o quanto é bom ter essa sensibilidade, apesar de sofrer, mas aprendi a ter meu coração aberto para entender as pessoas e seus atos, lembrar dos erros que cometi e não me arrepender de tê-los feito, saber que ninguém pode corresponder totalmente ao que esperamos e que eu posso, com a minha sensibilidade, ajudar as pessoas a encontrar uma resposta.
Por incrível coincidência, o livro que estou lendo é "Perdas e Ganhos", de Lya Luft, e eu gostaria de escrever aqui um pequeno trecho, que tem tudo a ver com sua carta: "Tudo se complica porque trazemos nosso equipamento psíquico. Nascemos do jeito que somos: algo em nós é imutável, nossa essência são paredes difíceis de escalar, fortes demais para admitir aberturas. Essa batalha será a de toda a nossa existência.
... algumas pessoas nascem mais frágeis que outras... Não é uma sentença, mas um aviso da madrasta Natureza."
Acredito que a sensibilidade está na genética, mas pode ser aprimorada, e muito. Através da leitura, da música, no barulho da cachoeira, nas flores que nascem no jardim, na conversa entre pessoas que se entendem.
Hoje, mesmo que eu sofra, eu não procuro me defender dos outros. No momento em que me senti livre para ser como sou, e abrir meu coração a quem quiser escutar, minha vida só melhorou, eu deixei de ser "arisca" para ser amiga, confidente, conselheira de quem precisar. E é muito bom sentir o peito assim leve.
No fim, vale a pena sofrer!
Com minha simpatia,
Inês.