Ouça-me, através do vento.

Maceió, 14 de novembro de 2008.

Escrevo na esperança de que você possa ouvir. Não ler, mas ouvir. Por que hei de repetir cada palavra do que já te disse antes tantas vezes, e a tua memória auditiva há de te trair e fazer você ouvir minha voz através das palavras escritas, do farfalhar do papel em sua mão.

Sei que você lerá a carta por que sua curiosidade não permite que ela seja ignorada, e mesmo que seja para dizer que não, as palavras saltarão para os seus ouvidos.

Sobre que mesmo eu ia escrever? Já não sei bem. Mas, entre nós há um código, secreto, que nos permite dirimir do nada o tudo.

Eis tudo! Você já sabe o que eu te diria, assim, me pouparei de escrever tudo o que eu já disse.

Ouça-me, através do vento que sacode as páginas claras deste papel fazendo-o comunicar-se. Ouça-me, através da minha caligrafia exagerada, dos meus "t" sem traço, dos meus "a" abertos, dos meus "f" incompreensíveis.

Ouça-me, veja-me e saiba.

Tua amiga, tua irmã.