Meu tempo de vida
Olhei-me no espelho e de repente era como se meu reflexo não pertencesse a mim, mas sim a alguém que não conheço. Percebi um medo em meus olhos, o medo da velhice. A tristeza em minha face marcava sua presença e constante companhia em meus olhos esverdeados e tão sem brilho, contidos em si, como se ali vida não existisse há muito tempo. Fiquei pensando que não quero me enxergar com rugas e cabelos embranquecidos, simplesmente é algo que não consigo imaginar, aliás, algo que não quero para mim... Porém é tão inevitável quanto a morte!
Nesse momento simplesmente comecei a pensar nas coisas que não realizei em minha vida, e de um todo de resultados exorbitantes descobri que ainda faltam algumas coisas para completar esse percurso e que talvez, mas somente talvez, eu consiga um pouco de felicidade, pelo menos alguns minutos, e que meus olhos brilhem por breves, apenas breves, segundos e um sorriso seja esboçado por meus lábios. Pois às vezes sorrir é doloroso e as lágrimas tem sabor de vitória, assim as sombras da escuridão sabem que conseguiram dominar mais um corpo, mais uma alma para transformar em sua posse.
E assim eu me vejo como uma alma triste é verdade, um ser solitário mesmo estando no meio de uma multidão, os conhecidos são apenas uma face de ilusões em minha memória. Fico pensando em quantos amigos eu perdi em toda essa trajetória da minha dita vida existencial, não sei nem ao menos estimar por alto, pois muitos rostos eu já esqueci por completo, aliás, me pergunto nesse momento se eu que perdi amigos ou se foram eles que me perderam? Difícil resposta é verdade. Muitos eu posso afirmar que me perderam por não saber me aceitar como a pessoa que sou. Outros por inveja (não sei do que, mas vai entender o que se passa na cabeça das pessoas), e a maioria por não me reconhecer como amiga e não saber o valor de uma amizade sincera. A verdade é que ninguém gosta de honestidade e derivados porque sabe que em algum momento ouvirá algo sobre si, o qual não aceita e isso lhe fará afastar tal corajosa pessoa.
Deixei a janela aberta para poder ouvir e sentir o cheiro da chuva. Eu sempre sei que vai chover pelo cheiro peculiar que sinto na rua, ninguém me acredita, mas eu sempre acerto! Às vezes eu acho que estou apenas perdendo meu tempo sendo assim, uma mortal, e por isso eu tenho de me preocupar com as rugas e os cabelos sem vida, sem cor, o olhar sem o brilho da vida juvenil. Se a imortalidade me encontrasse, o tempo não seria o meu problema, mas sim minha solução. Não precisaria pensar em quantos dias preciso trabalhar para pagar as contas, em quanto tempo perdi vendo televisão ou na frente do computador, em quantos livros eu ainda não li por falta de tempo livre, quantos dias passei sem me alongar ou praticar exercícios e que por isso o meu corpo anda tão cansado, nas horas perdidas em discussões que sempre tem o mesmo final sem solução, em quanto tempo me resta entre os entes queridos e o meu tempo vital de vida restante.
O tempo é um sério problema e a cada ano ele avança mais, não o considero mais tão sorrateiro como antes, agora ele é ousado e se mostra mais e mais a cada dia. Se meu tempo biológico parasse eu seria mais feliz, ou seria apenas feliz, eu seria imortal. Se vampiros existissem eu encontraria um para acabar com esse meu dilema de mortalidade, talvez esse seja um dos motivos pelos quais adoro essas criaturas. Beber sangue seria apenas um detalhe pequeno, o qual eu logo contornaria, seria como trocar um problema sem solução por um mais fácil de resolver. Tudo, ou quase tudo, é apenas uma questão de adaptação existencial e como mortal eu não consigo mais existir!