a minha Carta
A minha vida tem sido, dar, dar, dar e nada receber. Sinto cada vez mais este barco a afundar-se. Chove, chove em mim.
A chuva não cai e os remos apagaram-se.
Coisas que não entendo, confusas de perceber. Percorrem a minha cabeça.
Não é fácil ser pilar, aguentar tantas vidas. Apenas um breve momento, um único, gostava de me sentir livre.
Livre de pensar e vaguear. Quem sabe até voar...
Deixar a tempestade levar o meu corpo para os Alpes e ficar por lá a gelar.
Gelar os pensamentos, preocupações e sentimentos.
Pedem, pedem demais!
Não vêm que eu sou só uma?
Isto tem de parar, o meu coração está pelas costuras.
Por favor parem.
Por vezes penso em desaparecer ou apenas esquecer que os problemas não são meus.
Que tudo o que gira à minha volta não sou eu que crio.
São tantas as batidas que levo e não aprendo.
Não consigo dizer que não.
Quando há tempos escrevi que me sentia muito triste e só apesar de viver rodeada de pessoas.
É verdade.
Tenho família, amigos, tudo o que poderia ter na minha idade...Por vezes a mais..
E continuo a sentir-me triste e só.
Porque será?
Infelizmente acho que isto não é a minha cruz, mas sim a minha escolha.
Eu escolhi dar tanto de mim.
Eu escolhi resolver os problemas dos outros.
Eu escolhi esquecer-me de mim.
Por isso não posso culpar ninguém e muito menos queixar-me.
Este jogo fui eu que o criei.
Ser mãe e pai é um trabalho duro e muito difícil de digerir. Quando deveria de ser ao contrário.
Chamam-me de corajosa, ao que acho piada. Não por mal, claro, mas por pessoas que me conhecem à tão pouco tempo darem valor a tudo o que faço.
Preocuparem-se com o que escrevo, digo...Ou por simplesmente estar ausente.
Adorava pegar nas vossas mãos e viajar em direcção à luz. Passearmos nos campos verdes, pular e rir. Rir muito.
Mas neste momento apenas sinto chuva. Chuva que cai, cai e me molha. Molha todo o meu ser.
Todos os meus pensamentos
Chuva que cai dos meus olhos e rola pela minha cara.