Por um amor impossível
Na esperança de ser feliz me perdi em desencontros. Desencontros que hoje refletem em minha solidão. Pensava estar caminhando certo, quando, na realidade, deixava para trás meus sonhos e esperanças. Minhas vontades e os meus desejos. Hoje, hoje sei dos meus erros e derrotas. E não fui capaz de conquistar nem mesmo você. Você que tanto amei. Amei e amo.
Toda essa solidão que existe agora, traduz a incerteza dos meus gestos, gestos que não foram além de tentativas. Sim, porque foi tentando encontrar o meu amor, foi procurando por um amor que pudesse amar que você surgiu em meu caminho. Você chegou num momento de carência e despertou em mim a louca vontade de lhe querer. Querer sem medos ou mesmo obstáculos. E me lancei todo num amor que jamais poderia acontecer.
Eu quis o seu amor. Quis o seu amor sem saber se você queria o meu. Eu quis lhe amar, lhe dar o meu carinho sem saber se você queria, se você queria ser acariciada... Eu quis você sem saber se você a mim queria. E você... você não quis. Você disse não ao meu amor e partiu.
Sabe... sabe, é tão difícil suportar a sua ausência! Você me quis apenas como amigo e essa é a dor mais feroz e a dor mais doída. Quando eu lhe falei do meu amor, quando eu lhe implorei e lhe pedi o meu amor... você me olhou tão friamente... E como pode alguém desprezar tanto amor assim? Será que você não entende que é a única culpada por essa tristeza que sinto agora?
Sim, eu sei que errei. Era preciso saber se você me queria. Mas, será que você não entende que o amor quando nasce não pede respostas e nem espera? Eu fui além de minhas razões e, por agir assim, sem pensar, foi que perdi você.
Olha... olha, eu nem pensei onde você se encontra. As estradas dessa vida são longas e cansativas. O sol é bonito, mas um dia, queima nossa pele e fere nossas esperanças. A chuva é refrescante, mas um dia vem em forma de tempestade e varre nossos sonhos e ilusões.
Quando você estiver cansada de andar por aí, quando o mundo, aí fora, já não lhe iludir mais, não deixe a tristeza tomar conta de você. Não, não chore como eu estou chorando agora. Arranque essa dor latente e não desespere. O amor às vezes é cruel e nos torna sem vida.
Quando você partiu, a solidão que ficou comigo me mostrou o quanto fui incapaz... incapaz de ficar sem você. Foi a gota final para as minhas desesperanças. Não mais ter você foi crucificante, amor.
Não sei da distância que nos separa agora, mas... olha... o tempo pode passar, porém, eu jamais lhe esquecerei. A distância, essa pode ser maior que o infinito, mas eu sempre, sempre estarei a relembrar tudo de você. O mundo pode ser destruído e só a sua imagem sobreviverá...
Você ainda está aqui dentro, quente, movendo-se por cada canto do meu corpo, gritando cada angústia contida, morrendo em cada palavra e renascendo em todas essas lembranças...
Como?... como vou sobreviver a essa solidão? Solidão que a sua ausência causou... Como olhar o mundo, se os meus olhos teimam em chorar a sua perda? Como?... como posso sorrir se os meus lábios desesperados procuram o beijo que você não me deixou beijar? Como posso me erguer diante do fracasso? Fracasso de uma tentativa... tentativa que foi em vão... não... não. Eu preciso parar de pensar nesse amor impossível. Querer você se tornou para mim um sonho inalcançável. E eu, eu preciso recomeçar. O amanhã vai surgir e eu preciso enfrentar a vida.
No meu pensamento ainda revivo toda sua imagem...
Lá fora, lá fora o céu está claro e as estrelas brilham. Saio a caminhar na solidão da noite-criança e me envolvo no silêncio dessa madrugada. O mundo está calmo e a lua parece sorrir. Olhando para esse tão imenso infinito fico a imaginar onde você estaria agora...
Agora, meu sonho impossível, vou caminhando ao relento, naquela mesma carência, procurando, talvez, uma palavra, uma única palavra que me faça entender todo esse desamor que ficou.
Sofro por você. Sofro por um amor impossível. Não. Não... eu não posso nem devo chorar de novo. Um dia, quem sabe, a gente se encontre por aí...
Eu amei... amei e não fui amado... Não esqueci e fui esquecido... Não... não faz mal. O meu sonho era ter você e agora, esse meu sonho está por aí, fazendo sonhar outras vidas, fazendo sofrer, talvez, outros corações... Não... não. Chega de pensar. Eu não posso mais continuar assim. Eu não quero ficar desse jeito.
Ah... esse amor que tanto feriu meu coração... esse amor tão impossível... tão presente... Se tentar esquecer você é viver esse turbilhão de sentimentos confusos, é melhor deixar-me envolver pelos braços da morte para, então, esquecer essa agonia sem tentar esquecer você. Se tentar esquecer você é viver para sempre na escuridão e no tormento, é melhor que tudo se acabe para que eu possa viver em paz...
Meu Deus! O que foi que o seu amor fez comigo? O que foi? Sinto uma angústia envolver o mais profundo de minha alma... ainda sinto uma imensa vontade de chorar... e choro. A solidão bate forte, porém é preciso levantar e tentar reconstruir o mundo de ruínas que a tua ausência causou.
O amanhecer surge. O silêncio da noite-criança se desfaz para dar lugar à rotina de todos os dias. Vou caminhando cansado, perdido, sem vida... vou por aí, vou por esse mundo, tentando esquecer a decepção... decepção que foi você.
Vou lutar, vou gritar todas as minhas vontades e exigir da vida o meu direito de viver. Vou correndo por esse mundo, na tentativa de encontrar um sentimento novo. Sentimento que me dê a chance, chance apenas de procurar encontrar e até mesmo, quem sabe, amar outra vez... amar como um dia... como um dia amei você...
24 de agosto de 1984.