Ibrahim Éris, morto aos 80, presidiu o Banco Central do Brasil por causa de um engano da ministra Zélia Cardoso de Mello
Ibrahim Éris, morto aos 80, presidiu o Banco Central do Brasil por causa de um engano da ministra Zélia
por Márcio de Ávila Rodrigues
[21/11/2024]
Morreu no dia 08/11/2024, aos 80 anos, o economista Ibrahim Éris. Era respeitado na sua especialidade e foi presidente do Banco Central durante a fracassada gestão presidencial de Fernando Collor de Mello.
Sempre que eu me lembrava de Ibrahim Éris, imediatamente ligava a memória ao absurdo episódio que deu a ele um dos cargos mais importantes e fundamentais da economia brasileira.
Para melhor contextualizar, lembro que Fernando Collor foi eleito presidente por causa de uma reação popular de revolta contra os "velhos políticos”, aos quais responsabilizavam por por colocar o Brasil em uma crise econômica e inflacionária. Na verdade, o político alagoano não tinha currículo nem habilidade para exercer o cargo, mas a população procurava um "salvador da pátria” e descarregou equivocadamente suas esperanças nele.
Se o novo presidente tivesse um mínimo de sensatez e esperteza, atuaria intensamente no foco da crise, que era a economia. Mas ele não passava de um oportunista inconsequente, e tomou a irresponsável decisão de nomear uma obscura e despreparada professora de economia chamada Zélia Maria Cardoso de Mello para comandar uma ampla reforma. Algo inadiável, mas que só alguém altamente qualificado conseguiria empreender.
Por que ela foi a escolhida? Os analistas políticos, em sua maioria, entendem que Collor queria usar alguém que não tinha prestígio no mercado, que ficaria em grande “dívida” com ele. Praticamente um escravo/a político-administrativo.
Irresponsável e incapaz de entender as possíveis consequências (que aliás comprometeram gravemente a sua vida política e o tornaram o primeiro presidente da república a ser deposto em um ato legal do congresso), Collor deixou nas mãos de Zélia a escolha dos principais cargos da área econômica.
Mas os dois tinham a mesma limitação: não conheciam os melhores quadros político-administrativos e não queriam permitir orientações e indicações. Dois idiotas deslumbrados.
Ainda antes da posse, a então futura ministra da economia ganhou uma lista de tarefas, entre elas a escolha dos cargos importantes em sua área. E um dos mais importantes, se não o mais, era a presidência do Banco Central.
Vou buscar a ridícula forma que ela encontrou para escolher este importante dirigente através das palavras do grande escritor Fernando Sabino, autor da biografia da ex-ministra, redigida a partir dos depoimentos pessoais dela própria: “Zélia pretendia falar com Ibrahim Elias, antigo colega seu, mas a secretária, por engano, ligou para Ibrahim Eris. - Bom, já que é você - disse ela, surpreendida -, precisamos conversar”. [1]
Segundo outros relatos da época, ela escreveu o nome “Ibrahim Elias” com letra praticamente ilegível e mandou a secretária procurar a pessoa. Esta não conseguiu decifrar a escrita e ficou com medo de irritar a futura ministra. Pediu a ajuda de outras pessoas e alguém supôs que o nome fosse “Ibrahim Eris”, a quem a secretária convocou para uma entrevista com Zélia.
No mesmo depoimento a Fernando Sabino, Zélia disse que Ibrahim Eris foi um dos melhores auxiliares que ela teve no governo, uma "grata surpresa”. Bom para o Brasil e bom para a história do falecido economista. Ruim para a história de Fernando Collor e de Zélia, que administraram um grande país em crise usando fantasias e ocasionalidades como instrumentos.
O livro citado, “Zélia, uma paixão”, foi considerado uma obra totalmente atípica do grande escritor Fernando Sabino. No mínimo, um “equívoco” dele.
Ibrahim Eris também gostava muito de corridas de cavalos e foi muito importante para a diretoria do Jockey Club de São Paulo em um momento crítico da crise econômica que ainda perdura no turfe paulista. Era conselheiro da entidade e colaborou na área econômico-financeira.[2]
[1] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51919261
[2] https://www.jockeysp.com.br/corridas/news_mostra.asp?id=25981
Sobre o autor:
Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).
Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.
Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.