BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - UM HOMEM DEVOTADO AO TRABALHO
Um dos valores mais fortes da personalidade de Ricardo era sua crença inabalável na força do trabalho. Com o pai aprendeu a acordar de madrugada e antes do sol sair, já estar na labuta. E só chegar em casa depois do pôr do sol, já à noite. Nunca foi de acreditar em dinheiro fácil, mordomia e facilidades.
Após o diagnóstico da esclerose múltipla, Ricardo passou a ter uma rotina dura antes de chegar ao trabalho. Todos os dias, acordava às 5h, escovava os dentes, tomava banho e, antes de tomar seu café, fazia uma hora de fisioterapia. Todos os dias. Era preciso trabalhar sua frágil musculatura, para que pudesse chegar com condições boas de desempenhar suas atividades no Grupo Otávio Lage.
Café tomado, chegava às 8h na Vera Cruz e não perdia tempo: já ia tomando pé das pendências e começava a resolver problemas. A secretária Carol sabia que não teria paz, que seria frenético o ritmo. Ricardo fazia e atendia diversas ligações, assinava pilhas de documentos, lia planilhas, conversava com os diretores, mas algo que gostava bastante era ver de perto como estava tudo.
Era adepto do ditado “é o olho do dono que engorda o pasto”. Ia ao confinamento, queria saber todos os detalhes. Dava instruções, cobrava resultados. Olhava como estavam as máquinas, as obras que estivessem em andamento. Uma coisa que lhe tirava do sério era ver um funcionário “cozinhando o galo”, mostrando preguiça no trabalho. Não importava o cargo, fazia questão de chamar a atenção.
Mas na empresa isso era algo raro de acontecer. Seu exemplo acabava contagiando a todos. Era difícil para um funcionário fazer corpo mole sabendo que o patrão lutava contra dores terríveis todo o tempo, com uma limitação e mesmo assim era um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair. Ricardo sabia que seu exemplo era o melhor sermão.
Quando ainda conseguia dirigir o próprio carro e andar – mesmo com o auxílio de uma bengala – Ricardo gostava imensamente de visitar as fazendas e olhar de perto cada detalhe. Conversava com os funcionários, fazia perguntas, vistoriava o gado. O trabalho de campo, entre todas as atividades, era o seu favorito. Ali se sentia inteiro e senhor da situação.
Quando os filhos ainda eram crianças, Ricardo costumava leva-los aos sábados para essas visitas às fazendas. Para eles era um passeio, uma diversão. Para Ricardo era trabalho, mas ao mesmo tempo se divertia com a companhia dos garotos. Além disso, era uma forma de fazer com que se acostumassem ao trabalho, que vissem na atividade uma coisa prazerosa.
Ricardo era um workolic. Trabalhava pelo menos 12 horas por dia. Não nasceu com o defeito da preguiça. As dores que sentia, as limitações que tinha, a doença que lhe roía, nada disso tirava sua vontade e, principalmente, sua capacidade de trabalho.
Na época que teve que substituir o irmão Otavinho – que estava na prefeitura de Goianésia - na presidência da Jalles Machado, Ricardo teve que se desdobrar. Teve que dirigir duas grandes empresas ao mesmo tempo: a Jalles e a Vera Cruz. Ia cedo à usina, cuidava de tudo por lá e no fim da tarde dava expediente na Vera Cruz. Todos os dias.
Até os últimos dias de vida, Ricardo trabalhou. Foi um de seus maiores legados: mostrar que é possível trabalhar apesar de todas as adversidades. Mostrar que é possível ir até o fim fazendo o que gosta, o que lhe dá prazer e dignidade.