BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - POR INSISTÊNCIA DE RICARDO, UNIDADE OTÁVIO LAGE SAI DO PAPEL

A Unidade Otávio Lage (UOL), na região da fazenda Codora/Lavrinha, é hoje uma indústria consolidada, gerando mais de 1.600 empregos diretos e produzindo etanol e açúcar para diversas partes do mundo. É uma unidade muito moderna, que serve como referência para todo o país.

Inaugurada em 2011 pelo governador da época, Marconi Perillo, a UOL é um empreendimento do Grupo Jalles Machado e, naturalmente, só foi possível graças ao esforço de muita gente. O que pouco se fala, no entanto, é a participação decisiva que Ricardo Fontoura teve no empreendimento. Quando tudo ainda não passava de sonho, de rascunhos no papel.

Fim da década de 2010 e a Jalles Machado não atravessava um grande momento. Não estava no seu esplendor. O que seria natural: expandir ou adotar medidas mais austeras? O manual reza que a segunda opção. Mas Ricardo tinha um talento incomum de olhar à frente e enxergar o que poucos conseguem.

Um dia chegou à reunião do Conselho de Administração com um sorriso maroto nos lábios e muita animação, que ele tentava conter. Pediu a palavra. Olhou a todos os conselheiros nos olhos, fez pausa dramática e foi direto ao ponto: “Precisamos construir uma nova usina no município. O lugar ideal é na região da Fazenda Codora. Ou fazemos agora ou não iremos conseguir atender a demanda no futuro”. Silêncio sepulcral na sala. Dava para ouvir uma agulha caindo.

Foi como lançar uma bomba atômica na sala. Otávio Lage era o presidente do conselho à época. Ele olhou fixamente para o filho, como a dizer “ficou louco?”.

Na época, a Jalles Machado havia contraído empréstimos altíssimos e realizado investimentos pesados na expansão da própria empresa. Os boletos estavam chegando e deixando a diretoria sem dormir à noite. Tudo isso foi explicado a Ricardo na reunião. Falavam como se ele já não soubesse de tudo isso. Ele tentava um lugar de fala na reunião, mas era atropelado pelos pares, que aumentavam a voz e argumentavam que era uma utopia no momento.

Na votação, Ricardo saiu clamorosamente derrotado com sua proposta. Pareceu um ponto final em algo que já nasceu morto. Ricardo abaixou a cabeça. Não discutiu mais. Saiu em silêncio da reunião. Entrou no carro e ordenou ao motorista que o levasse para casa. Estava com a cabeça doendo e queria deitar, descansar os pensamentos.

Os dias passaram e ninguém mais tocou no assunto. Ricardo se fez de mudo. Continuou trabalhando como se nada tivesse acontecido. Mas dentro dele a ideia só cresceu e ganhou novo gás. Como um jogador, ele blefou com o silêncio, como se tivesse concordado com todos, que era uma ideia sem pé nem cabeça.

Na reunião da diretoria do Grupo Otávio Lage, Ricardo pediu a palavra e fez um anúncio. “Pessoal, a Vera Cruz vai tocar o projeto da construção da nova usina lá na Codora. A Jalles não topou, então vai ficar para trás. Vamos fazer por aqui, não podemos perder essa oportunidade”. Os olhos de todos esbugalharam na hora. Ninguém conseguiu ter reação por um minuto, que pareceu um século.

Um dos diretores perguntou ao chefe como iriam fazer isso, se tinham condições de fazer algo tão grande. Outro questionou que iria gerar atrito grande com a Jalles. Outro perguntou se Otávio Lage iria concordar com isso. Ricardo, sério, bateu levemente na mesa e disse: “Está decidido. O projeto é nosso. Mãos à obra. Quero para ontem. Já cuidem do plano de negócio, licença ambiental, projeto de engenharia e linhas de financiamento. O tempo já está correndo e estamos atrasados”. Fim da reunião e início da correria. O caos estava instalado. Ninguém sabia por onde começar e se o projeto era realmente algo para valer ou um blefe. Mas conheciam Ricardo e sabia que ele não era de empenhar sua palavra à toa.

Após a decisão, ligou para o pai e marcou uma reunião a sós. Pegou o carro e foi para a Jalles. Lá explicou em detalhes seu plano e sua dedicação integral a colocar o projeto para a frente. Otávio Lage viu que seria difícil demovê-lo da ideia e deu a benção. “Manda ver, filho, mas está por sua conta”.

O conselho de administração da Jalles Machado recebeu a notícia com certa surpresa e pareceu, de início, não acreditar muito que era para valer. Mas todo dia uma notícia nova surgia. O projeto estava andando. Viram que Ricardo não estava brincando. Meses depois, já convencidos, os conselheiros resolveram abraçar o projeto e pediu a Ricardo para reconsiderar e deixar a Jalles cuidar de tudo, que a ideia era, sim, boa.

Ricardo, prontamente concordou já que desde o início era sua ideia, fazer pela Jalles, que já possuía uma unidade e ganharia em escala, sinergias e manteria a sociedade da empresa alinhada e coesa como sempre foi.

Antes da conclusão das obras, Otávio Lage morreu num acidente automobilístico. Ricardo e Otavinho, de pronto, sugeriram colocar o nome do pai na nova unidade, que se chamaria Codora. Ficou Unidade Otávio Lage.

No dia da inauguração, em 2011, com a presença do governador da época, Marconi Perillo, Ricardo não escondia sua emoção. Mas não fez questão dos holofotes. Ficou no seu canto, como sempre fazia. Coube ao governador, fazer referências a ele, chama-lo para mais perto.

Graças a UOL, há um asfalto na GO-338, que liga Goianésia a Cafelândia e Juscelândia. Graças a UOL, as propriedades rurais da região, que valiam em média R$ 5 mil o alqueire, hoje são negociadas por até R$ 60 mil. Graças a Ricardo, o sonho da UOL se tornou realidade.