BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - POLÍTICO SEM SER CANDIDATO
A política integrava o DNA de Ricardo. Não porque ele fizesse qualquer movimento para isso. Na verdade, não fazia. Política é uma herança de família. Mais que isso: é algo que define bem o clã. O avô de Ricardo, Jalles Machado foi deputado federal por cinco mandatos. O pai de Ricardo, Otávio Lage, foi prefeito de Goianésia e governador de Goiás. Seu irmão mais velho, Jalles Fontoura, foi prefeito por duas vezes, deputado estadual por duas, deputado federal constituinte, secretário estadual da Fazenda e presidente da Saneago. Seu irmão caçula, Otavinho, foi prefeito também por duas oportunidades. O ar que Ricardo respirava era político.
Mesmo com tudo conspirando a favor, Ricardo nunca concorreu em nenhuma eleição. Também não ocupou nenhum cargo público. O máximo que fez nesta área foi ser presidente do Clube Campestre de Goianésia. O que é um posto mais social do que político.
Ricardo tinha todas as características que um bom prefeito, por exemplo, precisava ter: ótimo administrador, habilidade como gestor de pessoas, espírito empreendedor, gene político, carisma e experiência com grandes empreitadas. Não tinha, no entanto, o mais essencial: vontade de ser político na definição clássica da palavra. Não tinha muita paciência para as meias palavras, as procrastinações, os trâmites às vezes obscuros da vida pública.
Outro fato que pode ter diminuído as ambições de Ricardo no campo da política foi a esclerose múltipla. As limitações que a doença foi lhe colocando foram suficientes para ele não sonhar com mais um desafio. Tudo seria muito mais complexo. A vontade, que não era muita, acabou de vez. O diagnóstico foi seu alvará de soltura do universo político. Sua alforria antecipada, preventiva.
Não ter concorrido ou ocupado cargos não significa que Ricardo não tenha participado intensamente da vida política de Goianésia e até de Goiás. Seu lugar não era em cima dos palanques. Mas era peça-chave nos bastidores, longe dos holofotes. Era uma espécie de conselheiro, de voto de minerva para solucionar as questões, as dúvidas da família nos assuntos políticos.
Um fato que pouca gente sabe é que Ricardo é o padrinho político de Helio de Sousa – que foi prefeito de Goianésia por duas vezes e hoje exerce seu sexto mandato como deputado estadual. Em 1988, os membros do PFL foram atrás de Ricardo para ele ser o candidato a prefeito do partido na eleição que iria suceder Rubens Otoni. Ricardo não aceitou o desafio, mas sugeriu indicar um nome que seria bom.
Com seu olho clínico para identificar lideranças, via no então médico Helio de Sousa um potencial para a vida política. Helio prestava serviços para a Planagri, trabalhando junto com Ricardo, na época. Chamou Helio na sua sala e fez o convite. A recusa do médico foi imediata, que não tinha nenhum plano de entrar na vida pública e que priorizava a carreira na medicina. Ricardo não se deu por satisfeito. Reuniu com ele outras vezes e acabou o convencendo de abraçar o projeto de ser candidato a prefeito. Resultado: venceu Gilberto Naves nas urnas e fez uma ótima gestão na prefeitura. Nascia aí um dos grandes políticos da história de Goianésia.
Em todas as campanhas políticas, sua voz é ouvida, seus conselhos solicitados, além é, claro, de suas contribuições financeiras. Ricardo sempre funcionava como um tipo de freio, de voz da consciência para brecar um pouco da euforia de quem estava na linha de frente das campanhas. É comum quem está envolvido como protagonista se cercar apenas dos lados positivos da disputa, de bajuladores, de fãs. Ricardo era a voz sincera, o que apontava os erros de estratégia, que apontava soluções racionais. Seu olhar não era exatamente de um cabo eleitoral, era de um homem que estava olhando todo o cenário e apontava prós e contras do seu lado na disputa.
Quando Otavinho foi prefeito de Goianésia – 2001 a 2008 – e quando seu pai morreu, em 2006, Ricardo teve um papel fundamental na vida política, ao assumir o comando de todos os negócios da família. Foi presidente do Grupo Otávio Lage e da Jalles Machado ao mesmo tempo. Um enorme sacrifício, além de desafio. Se não fosse isso, Otavinho não teria o suporte necessário para exercer integralmente o posto de prefeito. As empresas da família continuaram bem administradas e Otavinho, na prefeitura, fez um mandato que é lembrado até hoje como exemplar.
Durante os comícios Ricardo tinha um ritual. Ao lado da esposa, Myrinha, acompanhava os discursos dentro do carro, no fundo do palanque. Ou de longe, de frente. Não gostava de ser citado ou apresentado. Não queria protagonismo. Estava ali para ser um “espião” do próprio time. Ouvir tudo, ver tudo e racionalizar depois para as lideranças. Em tempos de emoção à flor da pele, era bastante válido ouvir a voz da razão.
Em 2012, resolveu lançar como candidato a vereador seu colaborador de muitos anos, Moisés Lino. Já com a campanha praticamente iniciada. Vestiu a camisa, pediu votos, articulou. Moisés foi eleito. Em 2016, Moisés foi candidato à reeleição. No dia da votação, Ricardo tinha uma viagem para os Estados Unidos. Sairia cedinho para o aeroporto. Mas fez questão de ir antes na sessão eleitoral e depositar o seu voto em Moisés. Cumpriu seu dever cívico e embarcou. Ao final do dia, Moisés e Ismael do Gasparino terminaram empatados por 666 votos na disputa pela última vaga do PSDB. Moisés ganhou a cadeira por ser mais velho. Se Ricardo tivesse viajado sem votar, Ismael seria vereador.
O fato reforçou, para Ricardo, o que ele pregava sempre: que é preciso se envolver pessoalmente nas causas. Não adianta apenas colaborar de dinheiro, com influência. O mais importante é mostrar o exemplo, fazer as coisas.