BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - CARTAS DE AMOR

Impossível falar de Ricardo sem falar de Myrinha. Mais que companheira, ela acabou se tornando parte dele. Era como uma extensão do seu corpo, da sua mobilidade. Mais que isso: era sintonia de alma, de propósito. A definição mais exata do que se entende por almas gêmeas.

Quem teve qualquer convívio com Ricardo percebia a dimensão do amor dos dois. Da presença forte de Myrinha na vida dele. Conviver com ele, era ser testemunha de um amor forte, resiliente, coisa de cinema.

Esse amor ficou registrado nas inúmeras cartas e bilhetes que ele escreveu a ela ao longo da vida. Na década de 1970 – quando se conheceram – era moda os casais de namorados trocarem cartas. Ricardo manteve a tradição até o fim da vida. Mesmo numa época em que as pessoas não mais escreviam e recebiam cartas, ele fazia questão de escrever – a próprio punho, em uma letra quase indecifrável – suas declarações de afeto à amada.

Ricardo foi sempre um marido ligado às datas importantes do casal. Não deixava passar em branco. O romantismo era algo que ele levada muito a sério. Em 1975, no dia 22 de abril, o jovem marido escreveu um bilhete pequeno, num cartão: “Myrinha, espero saber dar a você amor, carinho e compreensão. Um beijo carinhoso. Ricardo, BH 22/04/75”.

Se fosse uma profecia, ela teria se cumprido. Décadas se passaram e ele continuou tendo o mesmo afeto e se declarando o tempo todo. Em 2008, no dia dos namorados ele escreveu o singelo bilhete: “Myrinha, não importa se é muito trabalho ou pouca saúde. O que me importa é continuar sempre apaixonado pela minha eterna namorada! De 1972 até... Um beijão. Ricardo 12/06/2008”.

O dia 2 de setembro é o dia do sim do casal. Sempre foi uma data bastante comemorada. Todos os anos, sem pular nenhum. Além de flores, presentes, jantares, viagens, Ricardo fazia questão de deixar seu registro, declarar seu amor usando caneta e papel.

Em 2009, quando completavam 37 anos de união, ele escreveu um bilhete, reafirmando seu amor: “Myrinha, meu amor, o dia 02/09 tem um significado especial para mim. Foi neste que para mim começou a mais linda e verdadeira história de amor.

Sempre me lembro de tantos momentos felizes e importantes que vivemos e dos obstáculos e desafios que, sempre enfrentamos com maturidade, confiança no futuro semblante alegre vencemos. Quero estar forte e com você sempre, Ricardo 02/09/2009”.

Ricardo era do tipo que enviava flores. Sempre. Quando Myrinha ficou grávida do primeiro filho – Rodrigo -, Ricardo fez questão de presentear a esposa com um buquê de rosas, acompanhado do bilhetinho: “Myrinha, com um beijo carinhoso do futuro papai, Ricardo. BH, 09/05/76”.

Outra coisa que Ricardo fazia questão de registrar em seus bilhetes era como era feliz com Myrinha. De como o casamento lhe fazia bem. Em 1986, no dia do aniversário de união, ele enviou um bilhete, que parece ser a continuação de alguma conversa que tiveram recente: “Myrinha, é verdade mesmo, foram os quatorze melhores anos de minha vida. Um beijão. Ricardo. Gsia, 02/09/86”.

Quando Ricardo e Myrinha resolveram deixar a vida estabelecida em Belo Horizonte e morar em Goianésia, ele sabia que para a esposa era um desafio gigantesco. Deixar a cidade grande, onde tinha raízes e sonhos, para morar no interior de outro estado, para uma vida no agronegócio, era algo até então impensável. Como reconhecimento ao desprendimento dela, ele escreveu o seguinte bilhete: “Myrinha, um beijo muito carinhoso e o desejo de que você seja muito feliz em sua nova vida de FAZENDEIRA. Sua decisão tocou muito fundo ao coração deste marido apaixonado. Ricardo, BH 20/06/78”.

Por ocasião do nascimento do primeiro neto do casal – Lucas, filho do primogênito Rodrigo -, Ricardo fez uma tocante declaração à amada: “Myrinha, vai ficando, ano a ano, cada vez mais difícil externar tudo que sinto por você. Só consigo dizer que é cada vez mais intenso meu amor e admiração por você. Cada dia sinto que viver com você foi minha melhor escolha de toda a vida. Meu maior desejo é ficar bem pertinho de você até...por toda a minha vida. Sou o homem mais feliz do mundo. Um beijão, Ricardo”.

O reconhecimento à contribuição de Myrinha não só como esteio da família, era constante na vida de Ricardo. Apesar de não exercer oficialmente nenhum cargo nas empresas do grupo, ela sempre colaborou bastante direta e indiretamente. Sem qualquer tipo de imposição. Ricardo fazia questão de reconhecer de público isso. Os cartões institucionais do Grupo Otávio Lage na ocasião do aniversário dos colaboradores vinham, no caso dela, com um toque pessoal, escrito à mão. Como neste: “Myrinha, pode até parecer que não, pela sua discrição, mas na nossa empresa sua presença nos ajuda, nos engrandece”.

Uma história de amor de verdade. Com momentos felizes, mas também com desafios duros de serem enfrentados. Longe de ser um conto de fadas ou uma comédia romântica. Na vida real tudo é mais intenso. Tudo vem em doses maiores. Entre flores e espinhos, o que mais se destaca é a união, o prazer de estar junto, enfrentando tudo, vencendo cada dia, numa aventura digna dos grandes heróis. E, claro, um amor verbalizado, dito milhões de vezes, de várias formas, inclusive em cartas e bilhetes, que atravessam o tempo, com o mesmo vigor de quando foram escritos.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 14/05/2022
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