BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - A ESCOLHA DE JULIA

Ricardo foi o tipo de pai que nunca interferiu nas escolhas dos filhos. Isso vale também para as escolhas acadêmicas e profissionais. Não deixava, claro, de ter preferências quanto a isso. Gostava inclusive de conversar sobre o futuro com os filhos, mas o fazia apresentando o máximo de informações para que a escolha fosse mais racional.

Outro fator importante é que todas essas conversas e sugestões eram feitas junto com Myrinha. Ricardo nunca foi uma voz dissonante em casa. Gostava de compartilhar impressões, sugestões e decisões com a esposa. E sempre usando argumentos racionais. Não era o tipo de pessoas que faziam as coisas acontecer por impulsos. A cabeça de engenheiro sempre encontrava uma forma de tabular os pontos a favor e os contrários, para que a balança ficasse mais justa e correta.

Mas isso acontecia sempre dentro de um aspecto bem natural, sem burocratismos. E quase sempre as explicações eram recheadas com frases leves, conversas com bom humor. Ricardo não via incompatibilidade em ser sério e ser engraçado. Não via incompatibilidade em discutir, em casa, um assunto importante e usar exemplos hilários para apoiar suas posições.

Outra característica é que educação sempre foi vista como investimento e não como gasto. As renúncias financeiras eram feitas em outras áreas. Quando o que estava em jogo era um curso, um meio de melhorar os estudos dos filhos, a carteira de Ricardo sempre se abria. É uma qualidade que herdou dos pais: investir pesado na educação dos filhos.

A decisão de qual vestibular tentar foi feita pelos quatro filhos. Rodrigo fez engenharia civil UPS, em São Paulo. Tereza cursou arquitetura. Henrique se formou em engenharia de alimentos, em São Carlos (SP) e Julia decidiu pela psicologia.

No caso da caçula, que escolheu uma área bem diferente das formações dos pais – Ricardo, engenheiro civil e Myrinha, arquiteta -, aconteceram algumas conversas mais longas sobre a decisão. Ricardo apoiou e não vetou, mas tentou entender os motivos de Julia.

“Ah, mas você vai ficar o dia inteiro escutando o problema dos outros, filha”, dizia Ricardo. Julia, contra argumentava: “Mas pai, não é só ouvir os problemas. Tem muito mais coisa”. Naturalmente, Ricardo falava isso para provocar na filha mais reflexão a respeito de sua escolha profissional. Não para fazê-la desistir. Não iria jamais criar obstáculos para frear o entusiasmo de um filho sobre o que eles entendiam ser o melhor para a própria vida.

Em outra conversa sobre o porquê da psicologia e não um curso como arquitetura, por exemplo, Ricardo teve da filha uma resposta que o convenceu. “Não é só ouvir problemas. É ajudar as pessoas a melhorarem, ser útil na vida delas. É muito gratificante a sensação de ver as pessoas melhorando”, argumentou Julia, sem esperar que sua fala fosse ganhar em definitivo o coração do pai quanto ao curso. Com essa perspectiva, Ricardo passou a ter outro olhar sobre a profissão de psicólogo. Não que ele tivesse qualquer coisa contra. Não tinha. É que a partir daí ele viu que sua filha estaria causando impacto na vida das pessoas, contribuindo para que o mundo delas estivesse equilibrado. Era como uma sólida estrutura de concreto que ela estaria oferecendo à pessoa, na tentativa de equilibrar o edifício.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 12/05/2022
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