BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - EMANCIPAÇÃO DOS FILHOS
Ricardo teve com os filhos uma relação que tinha como motor principal o amor, o afeto incondicional. Sobre isso nem ele nem os filhos tinha, qualquer tipo de dúvida. Mas não funcionava apenas com amor. Ricardo estabeleceu desde o início um relacionamento com muita confiança, mas que exigia em troca responsabilidades.
Junto com Myrinha, decidiu que o melhor para a educação dos filhos seria estudar em Goiânia ou Brasília já a partir da segunda fase do ensino fundamental. Isso significaria que já com dez anos de idade os filhos teriam que morar longe de casa, distante dos pais. Era um desafio para todos: para os filhos e para os pais. Mas era algo que seria importante para a formação deles, para o futuro profissional dos filhos.
O primeiro da fila, naturalmente foi Rodrigo, que antes de completar onze anos foi morar em Brasília na casa dos tios Jalles e Luiza. Jalles era deputado federal na época – fim dos anos 80. Ricardo e Myrinha o levaram no final de semana, para iniciar as aulas no Colégio Marista já na segunda-feira.
Eles perceberam que o menino estava apavorado. Teria que tomar decisões, se virar longe dos olhos dos pais e da companhia dos irmãos. Fazer novos amigos, morar na cidade grande. Era um mundo todo novo e, de certo modo, assustador para ele. Ricardo percebia isso. Mas em momento algum fraquejou. Sabia que o filho iria crescer bastante com as novas experiências.
Para ocupar o tempo ocioso, após as aulas, Ricardo e Myrinha matricularam Rodrigo em aulas de natação e judô. Assim ele teria pouco tempo para sentir solidão, para sentir saudade. A mãe, com o instinto que só mãe tem, deu-lhe um caderno e recomendou que o usasse como diário, anotando as atividades do dia, os sentimentos, tudo que lhe chamasse a atenção. Iria servir como uma espécie de terapia, ela garantiu.
Antes voltar para Goianésia e deixar o filho por conta própria, Ricardo abriu uma conta no Bradesco da Asa Norte. Como não podia abrir no nome de Rodrigo por ainda ser uma criança, o fez no próprio nome.
Deixou o cartão com o filho, que teria que ir ao banco fazer o saque e pagar as próprias contas, como as aulas de judô, de natação, da escola. Mais do que uma responsabilidade grande nas mãos de uma criança, era um teste, o batismo de fogo. Ele tinha que ir até o caixa da agência, digitar sua senha e sacar o dinheiro. Como era pequeno, sequer alcançava o balcão para usar a máquina para passar o cartão. Pedia ajuda ao atendente, para abaixar a máquina.
A parte mais importante vinha a seguir: tinha que ser esperto e não ficar com dinheiro na mão ou dar pistas que estava com uma grande soma nos bolsos. Seria um alvo fácil de assaltantes. Ele disfarçava, como se fosse apenas alguém passando por ali. Quando atravessava a calçada, do outro lado do banco, saía em disparada, rumo ao apartamento do tio Jalles. Lá estava em segurança com seu pequeno tesouro. Aí vinha a última fase: fazer os pagamentos corretamente. Foi bem instruído pelo pai e assim agia. Correspondia à confiança, cumprindo suas responsabilidades.
Dois anos depois, seria a vez de Tereza. Aí já foi em Goiânia. Rodrigo foi se juntar a ela em um apartamento. Longe dos pais e sem a tutela dos tios, os irmãos tiveram a companhia de uma pessoa adulta no apartamento, contratada para ajuda-los nas tarefas domésticas e na logística dentro da capital. Um ano depois, Henrique se juntou a eles. Sempre com as mesmas responsabilidades a serem cumpridas. Em contrapartida, com a mesma confiança, o que resultava em uma liberdade com obrigações, bom para as duas partes. A caçula Júlia, por ser bem mais nova, quando foi, Rodrigo já tinha se mudado para São Paulo, cursando faculdade.