BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - UM HOMEM QUE OLHAVA PRA FRENTE
Como empresário, homem de negócios, Ricardo tinha um mandamento: não remoer o passado, principalmente aquilo que não tinha dado certo. Mais do que essa atitude, ela era um homem que olhava para frente. Seu maior projeto sempre era o próximo, o que estava idealizando.
Como qualquer pessoa, sofria, naturalmente com lembranças do passado. Mas sua força mental fazia com que isso fosse usado mais como lição, como manual de aprendizado. Afinal se aprende muito com os erros. Talvez mais que com os acertos.
Uma das lutas de Ricardo era manter o passado, com suas glórias e fracassos, dentro de uma caixa no porão. Era algo para ser usado apenas como ferramenta de melhorar o presente e o futuro. Não como um museu para ser olhado e admirado.
Esse olhar para frente era uma crença que ele mantinha e exercia essa habilidade todos os dias. Isso não significa que havia nele um desprezo pelo que estava fazendo e só interessava a próxima coisa. Nada mais falso! Só que o seu modus operandi envolvia uma lógica: estava sempre agindo de curto, médio e longo prazo. Um projeto maior era sua bússola. O que fazia hoje iria possibilitar que fizesse amanhã o projeto mais sonhado.
Essa capacidade de olhar para frente talvez fosse um dom. talvez fosse uma habilidade desenvolvida com tempo. Mas principalmente era uma técnica melhorada com o exercício da repetição. De tanto viver essa condição, Ricardo incorporou como qualidade dele, algo que era como respirar, se alimentar. Nada menos que isso.
Como habilidade foi permitindo que ele, como líder, conseguisse enxergar atrás das montanhas, como se diz no jargão empresarial. Aquilo que as pessoas próximas não estavam vendo, ele conseguia olhar e ver bem claro. Era a capacidade de ver o todo, em 3D. E principalmente ver o que ainda não tinha corpo, não tinha forma. Existia apenas como ideia e esboço. Mas estava lá, com sua imensidão. Deixava-se ver, no entanto por poucos olhos. Os olhos mais ousados, mais sagazes.
O maior exemplo disso foi quando entendeu que era o momento de tirar do papel o projeto da segunda usina, o que veio a se tornar a Unidade Otávio Lage (UOL). Ninguém, absolutamente ninguém no Conselho de Administração, estava vendo a máquina funcionando, gerando resultados, sendo uma realidade. Viam números, dívidas, dificuldades. Seria interessante para um futuro mais longínquo.
Ricardo já via que era o momento. Que o cenário não era exatamente bom no campo das finanças, mas que era possível reverter o quadro e realizar toda a engenharia financeira e administrativa possível para erguer o novo projeto.
Mais do que capacidade de convencimento, de trabalhar duro em uma ideia, de buscar formas de tornar real, o que chamou a atenção foi a capacidade de ver além. Os olhos de visionário, o olhar de águia que ele demonstrou em todo o processo. Não cedeu um palmo. Não porque fosse intransigente ou teimoso. Não cedeu porque entendeu que conseguiria fazer com que todos vissem o que ele estava vendo.
Esse sempre era o próximo passo após uma visão completa de coisas futuras. Trabalhar em equipe, usando toda a sua habilidade para fazer com que todos pudessem ver pelos seus olhos, que todos pudessem ter os mesmos elementos que ele tinha. Olhar com lupas extremamente potentes. Era uma felicidade sem tamanho quando conseguia sentir que pelo menos uma pessoa além dele estava conseguindo ver além do horizonte.
Em muitas situações o braço pecuário do Grupo Otávio Lage, a Vera Cruz, era sacudida por uma guinada de Ricardo. Ele entendia que era preciso antecipar em dez, vinte anos a tecnologia para obter os resultados. Era um Deus nos acuda. A empresa estava habituada a operar de um jeito há bastante tempo e gerava bons resultados. Aí do nada Ricardo dizia que era preciso conhecer o que se fazia na Alemanha, nos Estados Unidos e buscar a última tecnologia disponível e aplicar no dia a dia.
- Mas os resultados não estão bons, Ricardo?
- Estão bons agora, mas logo a forma com que fazemos se tornará obsoleta e os resultados deixarão de serem bons. Por isso precisamos agora já ter toda essa tecnologia e a dominar, para quando for algo comum a todos a gente esteja à frente.
Estava sempre alguns passos à frente. Estava porque pensava com antecedência. Gostava de ver, estudar, observar práticas pioneiras e segui-las. Gostava também de fazer exercícios complexos de lógica, de imaginação. Questionava e projetava como as coisas seriam daqui a dez anos. E aí começava a fazer o futuro começar a acontecer. Não gostava de ser surpreendido. Era o que surpreendia.