BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - UM SONHO DE VALSA AO VENCEDOR
Uma tarde de domingo daquelas típicas de verão em Goianésia: termômetro quase chegando nos 40 graus, aquele sol impávido e a piscina cheia de crianças. Além dos meninos da casa – Rodrigo, Tereza, Henrique e Júlia – outros primos se juntavam a eles dentro d´água. André, Pedrinho, que moravam em Belo Horizonte e estavam passando férias na cidade, estavam bem animados e ajudavam na algazarra aquática.
Como é regra em brincadeira de criança, o que vale é a diversão sem qualquer critério ou atividade planejada. Cada um se vira como pode. Uns nadam, outros pulam, sempre aos sons de muitos gritos.
Três metros dali, pilotando a churrasqueira está Ricardo, conversando com adultos sobre coisas de adultos. Ricardo deixa a carne assando e vai até a geladeira. Volta com um bombom sonho de valsa na mão direita. Os convivas adultos ficam sem entender direito o que se passa. Ricardo não se dá ao trabalho de explicar. Simplesmente se aproxima da borda da piscina, levanta as mãos e grita alto:
- Atenção meninada, atenção, um minuto aqui!
Nem todos ouvem ou param diante do brado. Ricardo fala mais alto:
- Aqui, aqui, vou fazer uma proposta para vocês!
Todos param e ficam olhando aquele homem de bermuda, sem camisa, segurando um bombom.
- Todos irão para o início da piscina e iremos organizar um campeonato de natação. Cada um na sua raia. O que chegar primeiro, que nadar mais rápido, ganha o prêmio. Esse “Sonho de Valsa”.
A gritaria é geral. A meninada fica eufórica e já começam a se posicionar para a competição. Para eles aquele bombom equivalia a ganhar medalha de ouro nos jogos olímpicos. Era a consagração em vida. Nada mais importava naquele momento do que ser digno de comer bombom. De comer o chocolate dos vencedores.
Desde sempre, Ricardo tinha gosto por estimular a competição saudável entre as pessoas. Os filhos e sobrinhos não eram exceção. Ele costumava dizer que a vida é assim, uma eterna competição. Que para ter acesso aos melhores prêmios era preciso ser dar o melhor de si e superar barreiras e os concorrentes. Todos queriam o lugar mais alto do pódio. Só tinha um lugar, no entanto.
No lugar do apito, um grito de “já”, depois de uma contagem regressiva. Os adultos que estavam ocupados com suas picanhas e cervejas encostam na borda da piscina e começam a torcer, a vibrar, a incentivar os garotos. O cenário estava completo para eles: a piscina, a competição, o prêmio e a torcida.
Ricardo se divertia mais que os meninos. Acompanhava, tentando ser um juiz isento e correto. O homem que tinha o prêmio na mão para passar ao atleta vencedor. Ele notava que a competição era saudável, mas ninguém queria ficar em último. Seria algo de chacota dos outros meninos ali por alguns minutos. Nada que durasse até a hora do lanche. Mas mesmo assim mexia com o brio deles.
Esse tipo de cena aconteceu algumas vezes. Quando não tinha bombom, o prêmio era leite condensado. Os vencedores nem sempre eram os mesmos. Sempre havia uma revanche, sempre havia um troco. Ao fim das disputas, o vencedor subia ao pódio imaginário, que era a varanda, para receber seu troféu em forma de doce. Naquele momento não era uma criança devorando um chocolate. Era um campeão mundial, mordendo sua medalha de ouro, para o deleite dos fotógrafos.
* Capítulo da biografia "Ricardo Fontoura, o homem que venceu o impossível".