Prévia do livro: Um dia de cada vez memórias de uma família (De Kobi bege)
De Kombi bege
Arnaldo, que sofria de reumatismo juvenil, ganhou uma Kombi de sua irmã Eni. Por ser um veículo de múltiplo uso, servia para transportá-lo.
Ele não serviu ao Exército, e ficou dependente e sob os cuidados do irmão Baltazar, ambos morando no mesmo teto por um tempo. Grato pelo apoio, personalizava a caixa de som, de cores camufladas do Exército, gostava de fumar cachimbo e comer balas-jujubas.
As sequelas do reumatismo juvenil deixaram Arnaldo paralítico da cintura para baixo. A cadeira de rodas teve que ser adaptada. Era feita de tábua, de forma que ele ficasse com as pernas esticadas. Após uma consulta médica, recebeu informações de como reparar a situação em que se encontrava. Fazendo uma cirurgia, poderia voltar a movimentar as pernas. Esperançoso, informou a minha mãe da possibilidade de poder sentar-se em uma cadeira de rodas ou até mesmo voltar a andar. Montou um aparelho de fazer fisioterapia e arrumou uma namorada bonita. Ansioso e esperançoso, chegou o dia da primeira cirurgia. Passaram-se três meses e o resultado foi negativo. Marcaram mais outra cirurgia, e nada de sentar-se ou andar. Foram várias cirurgias sem sucesso. Contraiu infecção hospitalar e passou-a para sua namorada. Cansado da situação, começou a beber pingas. Sua namorada foi visitá-lo em sua casa e assustou-se de ver Arnaldo bêbado pela primeira vez. Nervoso, ele pediu que ela se retirasse. Quando ela colocou os pés no passeio, ouviu o barulho de tiro de arma de fogo.
Uns dos maiores erros da humanidade é acreditar que o sofrimento é eterno e que a solução é ter atitudes impensadas, acreditando que a morte é melhor que a vida.
Fábio Alves Borges