Dia 06

Eu não sei ao certo quanto tempo se passou desde a última vez que pisei neste lugar. A verdade é que durante muito tempo eu evitei voltar aqui, justamente por me trazer tantas lembranças, na sua maior parte tristes.

Como eu disse anteriormente, minha vida continuou seguindo dentro da normalidade depois que voltei a rotina. Como não tinha contato com ela, e vários afazeres diários, não tinha tempo para remoer aquele sinistro.

Em determinados momentos, geralmente quando menos esperava, seu sorriso resplandecia em minha mente, me levando a viajar vários kilometros em frações de segundos.

Quando me dava conta, estava lá ao lado dela. Ouvindo novamente sua respiração, sentindo seu perfume, lutando para me desvencilhar de cordas que não podia ver a fim de chegar mais perto dela porém sem sucesso.

Essa era minha vida naquele momento. Vivendo um amor frustrado sem nem ao menos imaginar o que se passava na outra ponta dessa linha que nos unia.

Confesso que cheguei a tentar me relacionar com outras garotas. Infelizmente além da timidez, nenhuma delas conseguia perscrutar meu coração. Ela já havia feito morada lá e não havia mais espaço pra ninguém. Mesmo naquela época ela já possuía a chave dele e até hoje está em sua posse.

Depois de alguns anos eu decidi voltar lá e lutar contra meus fantasmas. Havia determinado que não sairia de lá sem me declarar. Esse foi meu primeiro baque antes do nocaute.

Era incrível como algumas pessoas diziam que tínhamos muito em comum. Pelo menos pessoas da minha família. Não sei se viram ou souberam de alguma coisa ou se simplesmente viam como eu ficava bobo enquanto admirava uma maravilha daquelas.

Quando pisei lá, a primeira informação que recebi foi a de que ela estava namorando. Foi um baque seco. Nunca aconteceu comigo mas acredito que levar um direto de esquerda deva ser menos doloroso do que o que senti naquele momento.

Perdi o chão. Minha expectativa de me declarar havia sido devastada como um castelo construído na beira do mar. Não sabia o que fazer e tentei agir o mais normalmente possível.

Acredito que todos devam ter percebido minha mudança de comportamento. Me fechei e fiquei isolado a maior parte do passeio. Não suportava a idéia de ter perdido aquela que era a dona de todo o meu amor. Porém, o maior problema estava justamente aí. Eu não havia a perdido, pelo menos não ainda. Mas como eu estava desolado demais não fui capaz de perceber que estava perdendo uma segunda oportunidade.

Lembro como se fosse ontem. Fomos em um evento muito comum àquela região e durante a volta vi os dos. Ela deitada e com a cabeça recostada na perna dele. Não faço a menor idéia de como consegui segurar o ardor do ciúme que tomou conta do meu coração. Nesse momento eu sou grato por ser uma pessoa controlada.

Vendo aquela cena eu tomei uma decisão. Tirá-la do meu coração! Arrancar esse sentimento pela raiz e esquecê-la de uma vez por todas.

Preciso ir agora.

Em uma outra oportunidade volto e continuo.