PAIMON, MINHA VIDA: O COMEÇO.

Conforme eu já disse antes, resolvi então escuta -lo. Eu não tinha a minima ideia de quem ele era realmente, porque afinal quando eu o conheci era uma criança e crianças não questionam coisas sérias.

Mas estou me antecipando muito então devo explicar algumas coisas porque senão tudo vai ficar sem sentido para voce leitor. Eu sei que conforme terminei o outro texto, posso ter dado a impressão de que sou uma mulher frustrada ou depressiva, mas nada mais longe disso.

Eu sou uma sobrevivente...

Sim.

Vamos a como tudo começou, e de como tudo esta.

Para começo, eu não era para ter nascido, simples assim. Nasci em 1.970 no Brasil, em plena ditadura militar. Meu pai era militar do exercito brasileiro e minha mãe dona de casa. Tenho um irmão e uma irmã mais velhos que eu sendo minha irmã 5 anos mais velha.

Até ai nada demais, se não fosse o fato de que minha mãe já vinha tendo problemas de saúde, desde que minha irmã nasceu, mas não eram tão graves assim.

Quando ela engravidou de mim, naturalmente foi ao médico para o pré natal e cuidados rotineiros inerentes a isso.

Após alguns exames o médico deu a sentença: teriam que fazer um aborto, porque eu não tinha condições de nascer. Disse a minha mãe que eu teria problemas de saúde sérios e talvez ela por si mesma poderia morrer, e se eu tivesse sorte nasceria morta.

Minha mãe se recusou terminantemente a isso até mesmo porque naquele tempo estava em uma fase católica, e de qualquer forma ela era essencialmente contra abortos.

O médico insistiu, pediu para falar com meu pai, e tendo sido consultado, meu pai também se recusou a assinar os documentos para o aborto. Teve a mesma opinião de minha mãe, desse por onde desse, eu viveria.

Então a vida seguiu, e após alguns meses de gestação minha mãe contraiu hanseníase, o que complicou esta gestação mais ainda. Muita gente ficou contra ela porque essa gravidez tinha tudo para dar errado.

Mas contrariando todas as expectativas, nasci. E na sala de cirurgia, outro tropeço: A médica que fez o meu parto, me pegou de mau jeito e me derrubou, tendo eu batido na mesa de parto, quase morri de novo.

Mas não.

Após voltar para casa, minha mãe cai gravemente doente e ficou de cama durante um longo tempo mesmo.

Quando eu estava na idade de começar a andar, ou apenas engatinhar eu simplesmente não me mexia. Ficava parecendo morta no chão sem reação nenhuma. Mais uma vez fui levada ao pediatra e feitos os exames outra sentença: O nervo da minha coluna por alguma razão não funcionava e então eu não iria me mexer nunca, de jeito nenhum. Foi um caos para minha mãe, só que ela nunca foi de desistir ou se dar por vencida facilmente. Ela foi uma guerreira sempre.

Procurou outros médicos, e nada era sempre o mesmo resultado.

Tetraplégica. Pois é.

Então tudo o que ensinavam para ela, fazia. Até que alguém indicou uma mulher de nome Rosalina, que era uma rezadeira de crianças, e segundo a pessoa fazia curas espirituais. Fui levada até lá, e Rosalina me benzeu e depois disse assim: "Traga essa menina quinta feira a noite, pois é quando recebo meu exu e ele é quem faz as curas espirituais".

Assim foi feito e na quinta a noite lá estávamos nós eu e minha mãe. Foi uma guerra literalmente para ela poder me levar, porque meu pai detestava essas coisas de umbanda, mas ela convenceu ele.

Segundo minha mãe, lá chegando, me colocaram em cima de uma mesa forrada com um lençol branco, e o exu incorporado na mulher, pediu para minha mãe ficar de lado para ele trabalhar. Após ter feito vários procedimentos em minhas costas, ele finalmente termina e chama minha mãe, e pergunta a moça que o auxiliou:

" Que dia e hora são?"

"Hoje é quinta feira e são 21:00 padrinho", responde ela.

Então o exu se vira para minha mãe e explica assim:

- " Dona, é o seguinte: Marque bem essa data e hora, pois eu te garanto que dentro de sete dias, exatamente a essa hora, essa criança vai se levantar sozinha e começara a andar, e vai andar tanto nesta vida que a senhora nem imagina, vai cruzar o país andando... E tem mais: O caso dela era complicado, os homens de branco não iriam resolver nada aqui.

Não era para ela nascer, mas nasceu. Agora tentaram com a saúde dela, mas não deu certo. Consegui curar ela porque essa menina veio junto com um protetor muito forte e antigo, e foi com ele que consegui isso.

Foi com a permissão do Pai Maior deles dois que essa menina nasceu e foi curada aqui.

No entanto ela vai sofrer muito, isso é só o começo, um nadinha mesmo.

Se a senhora dentro de sete anos preste atenção, no máximo isso, não tratar dos nervos dessa menina, ela vai morrer. E junto com isso, tem que cuidar da parte espirita dela, porque ela é médium de nascença.

Faça isso sem demora, assim que ela ficar maiorzinha um pouco leva ao homem de branco, vai resolvendo isso e com sete anos de idade, leva ela para um terreiro para cuidar dessa corrente dela, porque é muito pesada a parte espiritual dela. Não esqueça."

Minha mãe concordou e me levou para casa. Devo dizer que o exu não cobrou nada pelo serviço, falo isso porque muita gente tem mania de falar mal de exu e pomba-gira porque não conhece, mas eles fazem o bem também, e caridade.

Realmente, na data marcada e hora eu comecei a andar conforme ele tinha prometido. Foi assim.

Estavam todos na sala assistindo, e como sempre minha mãe colocava uma coberta no chão e me deixava a vontade lá, até mesmo porque estava calor. Segundo ela do nada eu me levantei e fiquei de joelhos, sozinha, e apontei para a porta da sala, e comecei a andar para lá.

Minha irmã que percebeu, e mostrou para minha mãe e todos ficaram muito felizes. Claro que nunca souberam o que ou porque eu sorria e apontava para a porta da sala. Eu também não sei, porque era muito pequena e não tenho como me lembrar, mas anos depois entenderia.

CONTINUA...

aryapaimon
Enviado por aryapaimon em 18/02/2021
Código do texto: T7187050
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