Como tudo acabou, Capítulo 04, Fim de Carreira.

Pode parecer meio louco falar de fim de carreira tão cedo, mas creio que não há hora certa para entender que aquilo não te faz bem.

Como disse lá no começo, queria medicina, tentei farmácia, cursei direito, virei advogado. O que pego para mim não tem nada haver com ser “eclético”, é apenas o fato de não saber o que me faz feliz.

Sempre gostei de tudo, amo aprender, seja lá o que for. Pode ser lei como pode ser a composição e ação de um medicamento. Dedico minha vida a aprender.

Contudo, isso não é suficiente depois dos 18 anos. Após começar verdadeiramente a ter que me manter e sustentar minha própria casa, fui entendendo que meu amor pelo saber não se aplicava a minha razão entre renda e gastos.

Além disso, agora que somos conhecidos, posso dizer a vocês que não tenho nenhum prazer sobrando na minha profissão.

Após tantas conspirações e loucuras criadas, tantos problemas resolvidos, tanta gente que ajudei, não sobrou nada em mim.

Percebo o quão triste é ao olhar par minha trajetória para chegar até aqui. Mais de 9 anos lutando por uma profissão que não me dá o mínimo de ânimo de continuar.

Não estou aqui dizendo que você deve passar de segunda a sexta sorrindo, nem mesmo que todo dia tem que ser uma descoberta em seu trabalho, mas que poderia ao menos te gerar alguma satisfação.

Se algo sobrou, não encontro mais.

O mais incrível desse desencanto é que ocorreu após abrir meu próprio escritório, viver o que eu queria viver pois quando estava trabalhando para outra pessoa com gente aleatória a todo instante, eu estava boquiaberto com tanta novidade.

Quem sabe não foi isso, não é? Novidade. Tudo que é novidade atrai, encanta. Talvez só tenha acabado o encanto com tudo que fiz ou faço e isso me deixa verdadeiramente triste.

No meio dessa jornada como advogado me perdi como pessoa. O profissionalismo sempre existiu, contudo, minha capacidade de separar trabalho e vida pessoal parece que não prosperou.

O que veio em seguida das seguidas resoluções de causas alheias foi um forte sentimento de nada. Um vazio completo que nunca mais pude preencher.

Hoje estou escrevendo estes trechos porque não me resta mais nada que possa ocupar esse vácuo no meu peito. E não me entenda errado, sou um homem de classe média baixa por assim dizer, não tenho outra opção a não ser me dedicar ao trabalho e pagar minhas contas.

Ocorre apenas que estou exausto dessa vida e creio que muitos assim também estão. Durante uma pandemia como a de 2020, ao mesmo tempo que tantas mortes estão ocorrendo e precisamos ficar em casa constantemente, começamos a analisar mais ainda o sentido de nossas vidas.

O pior de tudo é olhar para si, a própria trajetória construída em vários anos de estudo e trabalho, e não enxergar nada além de tristeza e um vazio imenso.

Confesso que passei um ano da minha vida sem pensar sobre mim, sem refletir mais, sem sequer parar para respirar e acabar pensando “o que estou fazendo por mim nesse momento?”.

Quando tive que permanecer em casa constantemente, um homeoffice obrigatório, comecei a voltar meus pensamentos para mim, afinal, era apenas eu agora, sem contato com clientes, amigos, familiares.

Como consegui ser tão cruel comigo, não sei.

Acontece que durante alguns meses de confinamento me fizeram repensar sobre tudo que já consegui fazer na vida e pior ainda, fizeram parecer nada.

A tão falada Síndrome do Impostor, o auto sabotamento, a falta de consideração pela própria vida, tudo vinha ao mesmo tempo, me deixando de joelhos a cada nova pancada de descontentamento.

E veja só a ironia, não eram fracassos que motivavam minhas crises de existência, pois eu sou um advogado de poucos fracassos profissionais, poucos mesmo.

Contudo, não importava mais o dinheiro que ganhava ou o quanto seria elogiado pelo trabalho bem feito, apenas não fazia sentido continuar. Uma barreira invisível que não me permite ser feliz, ser orgulhoso ou andar de cabeça erguida.

Francisco da Costa e Silva
Enviado por Francisco da Costa e Silva em 26/01/2021
Código do texto: T7168922
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