O Mané Surdo
Figura frequente nos monólogos de tia Nininha foi o Mané Surdo, que por absurdo dos absurdos, em pessoa não conheci, e de meu olvido não sai. Cousas de quase sessenta anos passados. Nem uma fotografia, um registro visual, só impressão da lembrança impessoal.
Tia Nininha, casada com José Raimundo Soares, o Zé Redondo, era tia de mamãe - nascidas ambas na antiga Abadia dos Monjolos - residiu com a família na rua Nova antiga, ali pros lados da Gameleira, constituindo-se na única via pública absolutamente traçada de Pitangui, numa extensão próxima de um quilômetro, descendo e subindo ladeira.
De Nova, passou a Monsenhor Arthur de Oliveira, numa justa homenagem ao dinâmico pároco dos anos iniciais do século XIX, que fundou o colégio municipal, hoje estadual, o CEMAO, que lhe honra o nome e que no ano de 2018 completou seu centenário.
O Mané Surdo, quiçá, em menino, ou já rapagote, tenha chegado a ver, e/ou ouvir, as prédicas desse padre, antes que a surdez o isolasse do mundo dos ruídos, deixando a ambos só os corroídos. O certo contudo, e contado, é que foi da vizinhança física, social e espiritual de tia Nininha, assim como o foram, em maior ou menor grau, o Joaquim carteiro com a sua Joaninha, a Ana do Eusébio, o João tropeiro, o Santo carroceiro e uns outros mais, falantes esses demais, mas sem as sinfonias de Beethoven e de Mané Surdo, entes musicais.