ARIANO SUASSUNA
E o Movimento Armorial


   O Nordeste passou a ocupar um lugar de destaque no teatro brasileiro pelo gênio inventivo de um homem: Ariano Suassuna. O paraibano, que adotou Recife e Pernambuco como paixões, foi o criador do Movimento Armorial, que buscava um resgate das raízes da cultura popular nordestina, na criação de uma linguagem artística genuinamente brasileira. Artes plásticas, música e literatura deram contribuições ao movimento, mas foi a partir do teatro de Suassuna que a ideia ganhou forma.
   A vida de Ariano Suassuna, nascido na capital paraibana em 16 de junho de 1927, foi, logo no início, apresentada a uma tragédia – a morte do pai, João Suassuna, deputado fedferal pela Paraíba, assinado em episódio no contexto da Revolução de 1930, quando Ariano tinha três anos. A família se refugiou em Taperoá, no sertão, onde ele ficou até os quinze anos.
   Como o próprio Ariano dizia, a falta de talento para os números ou para as ciências médicas acabou por levá-lo a cursar Direito no Recife. Se pouco exerceu a advocacia, Ariano logo se aproximou de escritores e artistas que haviam criado o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), em meados da década de 1940. Começa, então, sua carreira premiada como dramaturgo e sua luta pela valorização da linguagem popular.
   A primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”, é premiada pelo próprio TEP, e, nos anos seguintes, o escritor produz diversos textos para o grupo, como “O Desertor de Princesa” (1948), “Os Homens de Barro” (1949), e o “Auto de João da Cruz” (1950). Após se formar em Direito, Ariano retorna brevemente a Taperoá. Quando volta a Recife, no ano seguinte, escreve alguns de seus textos mais conhecidos: “O Castigo da Soberba” (1953), “O Rico Avarento” (1954), e o “Auto da Compadecida” (1955), este um verdadeiro furacão nos palcos.
   Estão lá, em o “Auto da Compadecida”, todas as referências do que seria, posteriormente, o Movimento Armorial. A peça chegou aos palcos pelo Teatro Adolescente do Recife, no Festival de Teatros Amadores do Brasil, em 1957. Foram incontáveis prêmios, montagens e traduções para outros idiomas, além da chegada ao cinema e à TV. Pouco antes da primeira montagem do texto, Ariano torna-se professor da Universidade Federal de Pernambuco e abandona a advocacia. 
   Alguns de seus textos emblemáticos são montados em São Paulo e no Rio de Janeiro, em 1958: “O Casamento Suspeitoso” e “O Santo e a Porca”. Funda o Teatro Popular do Nordeste, com Hermilo Borba Filho, e monta “A Farsa da Boa Preguiça” (1960), outro sucesso. Quando é nomeado para o Departamento de Extensão Cultural da UFPE, em 1969, Suassuna estabelece as bases do Movimento Armorial. O lançamento oficial acontece em outubro de 1970, com um concerto e exposição de artes plásticas.
   Suassuna busca na raiz do teatro português, nos autos e farsas de Gil Vicente, no cordel e cantoria, na estética medieval e no saber tragicômico do homem do sertão, a linguagem de seu teatro, que resume o Brasil. Nos últimos anos, até sua morte em 23 de julho de 2014, Ariano tornou-se uma figura pop, com suas palestras e entrevistas, cheias de humor.

(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)