Saudade
Há se eu pudesse voltar a ser criança e viver naquele mesmo lugarzinho. A casa era simples, o banho era nas águas do rio, a luz para nos tirar da escuridão era de candeeiro e o combustível, querosene. Ouvia todas as manhãs o cantar dos pássaros. Ia ao curral olhar meu pai tirar leite das vacas. Sentia o cheiro forte dos estercos, que só quem já viveu no campo pode descrever. As brincadeiras eram descer as ladeiras de patinetes feitas em madeiras com rodas de rolimã. As quedas e feridas eram inevitáveis, mas aquilo fazia bem. No outono, que época boa, trepar nas árvores, experimentar os sabores das frutas ainda de lá do alto. Não tínhamos muito, mas tudo era muito. Violência, ah, isso só nos noticiários das rádios. O tempo era bem aproveitado e sempre sobrava tempo. Plantar, cuidar, colher, tudo causava grande expectativa. O dinheiro era pouco, mas a gente comprava muito. Hoje tudo mudou, as pessoas mudaram. O muito hoje não é nada. O que era perto, hoje ficou distante. As amizades, hum, raridade. As famílias eram fortes, hoje estão desmoronadas. País não educam, empurram para a escola, esta faz muito pouco. A sociedade sofre seus efeitos. Saudade, eita saudade.