Memórias - Parte 9
Mas agora as nossas atenções e entusiasmo se voltam para o nenê que dentro em breve nasceria. Agora em São Paulo, residindo em casa da família do meu marido, preparava enxoval com prodigalidade, pois tínhamos conseguido economizar um pouco ali em Minas. Chega finalmente dezembro de 1955, dia sete e vem ao mundo a nossa primogênita que recebe o nome de Eliana, nome que eu mesma escolhi. Nascia no Hospital Santo Antônio à Avenida Tucuruvi, São Paulo, pesando 3850 gramas e medindo 50 centímetros e muito caladinha. Era uma grande alegria para nós. O “papai” dá-nos toda atenção, mostra-se realmente dedicado! Mas passados 60 dias ele precisou ir trabalhar em Antonina, no Paraná. Eis-nos novamente voando para o Sul, agora com nossa Eliana ao colo. Ficamos ali 7 meses. A menina fica bastante forte, todos gozávamos saúde e tínhamos paz. Aos domingos freqüentávamos a igreja. Gostamos dali, mas termina o prazo e regressamos a São Paulo.
Novamente naqueles dias arrumo as malas e voamos rumo a Bahia, desta vez para rever os parentes e para que a mamãe conhecesse a primeira neta. Só que fomos sós, visto meu marido precisar trabalhar. Ali foi tudo alegria! A mamãe não cabia em si de contentamento e a minha irmã também.
Ficamos ali 70 dias e finalmente um de meus cunhados vai me buscar e contratar casamento com uma das minhas colegas da igreja (estes depois de longa espera também se casaram!). Regressamos com escala do avião em Vitória e Rio. Em vitória, o motor sofre uma avaria, felizmente só nos pregando um grande susto, pudemos chegar ao Rio onde encontramos grande temporal que nos deteve ali por muitas horas no Aeroporto Santos Dumont. Ali pude experimentar as aflições de mãe, pois a menina sofreu terrível cólica que a fazia chorar e espernear chamando a atenção dos demais. Ma sem trânsito, aguardando a liberação do avião, nada podia eu fazer, pois temia perder a passagem. Finalmente, lá pela madrugada aterrissávamos em Congonhas. Estava “morrendo” de saudades do meu esposo! Ele ficou muito feliz com a nossa volta.
Agora busco com afinco arranjar uma casa em que pudéssemos viver sós(é horrível morar em grupo!). Consegui casa nova. Mudamos para ali e achávamos que estava melhorando graças ao esforço com que meu marido se lançava ao trabalho e ao estudo. Fez o Curso de Madureza Ginasial e Aperfeiçoamento de Eletricidade, com o enorme esforço saía se casa às 5 ou 6 horas e regressava à meia noite. Eu ajudava o quanto podia, ora passando suas lições a limpo, mantendo assim seus cadernos em dia(isto durante 3 anos), ora estimulando-o a prosseguir, além das minhas tarefas diárias. Mas o que mais me aborrecia era a solidão, sim, passava tantas horas só! Eu que já tinha esperado tanto durante o noivado! Era duro aceitar aquela falta de companhia do meu marido, pois eu não tinha nenhum parente ali e não tenho muita facilidade de fazer amigos. Em geral tenho alguns à distância. Mas era necessário aceitar toda essa situação!
Nasce nesta época (1957) o Carlos Alberto, muito forte pesava 4450 gramas e 50 centímetros de comprimento. No dia em que nasceu foi acometido de uma epidemia de gripe que quase o matou, mas Deus quis preservar esta vida e ele foi curado.
A nossa luta continua no mesmo ritmo. Em janeiro de 1958 a minha irmã vem da Bahia e fica conosco. Era agora uma companhia para mim e quem sabe me ajudaria a cuidar dos pequenos! Mas se me ajudava era pouco, pois logo se empregou e pela primeira vez foi saber o que é precisar acordar cedo, enfrentar as grandes filas de São Paulo, obedecer patrão, etc, etc e etc.
Meu marido muitas vezes tinha que trabalhar fora e agora eu tinha que ficar.
Em maio de 1959, graças aos muitos serviços que eu fazia perdi a Elisa que viveu apenas 36 horas e foi pela graça de Deus que também não morri, visto ter passado bastante mal! Vi naquela ocasião a mão de Deus operando sobre mim através do banco de sangue, médicos, motoristas, enfermeiras, hospital, orações dos crentes, todos contribuíram para que eu me recuperasse. Preguei um grande susto no meu marido.
Ao findar o ano de 1959, meu marido vai atender aos muitos apelos de minha mãe que se sentia muito só, trazendo para cá. A viagem foi feita em avião. Depois de muita luta da minha parte, andando de repartição em repartição, falando com deputados, líderes trabalhistas e quem de direito, a mamãe consegue aposentadoria, depois de 42 anos de trabalho como tecelã. Era uma grande vitória!
Em 1960, na mesma data, porém nascia Ivonete, para substituir aquela por coincidência também no mesmo hospital, com a mesma enfermeira, no quarto vizinho ao que eu havia estado. A garota tinha 3200 gramas e 49 centímetros(é agora mais forte e bastante inteligente!).
Agora com a família crescida, meu marido resolve mudar de emprego e vem sem saber, como que guiado por mão invisível, para Cubatão e consegue um bom emprego na Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA. Aí tivemos mais e mais experiências quanto a esperar, pois ele ficou 9 meses morando em pensão e eu lá em São Paulo cuidando da família. Até que conseguimos um apartamento em São Vicente, cidade próxima ao serviço. Aqui nos fixamos. Deus nos tem ajudado e aqui nasceram mais 3 filhos. Assim, agora com 6 filhos a nossa luta é muito grande, mas grandes também têm sido as vitórias, pois Deus tem nos dado o suficiente para mantê-los confortavelmente longe das peripécias e dificuldades que nós passamos na infância. Damos graças ao Altíssimo porque até agora eles e nós temos tido saúde e inteligência.