Costurava para senhoras
Bento. O nome que papai nos revelou, pertencente àquele senhor esguio, sempre de terno escuro, preto de preferência, que estava presente a todos os atos religiosos na matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Pitangui. os anos das visões eram o finzinho dos cinquenta e início dos sessenta.
Compungido, e sempre solitário, Bento era de comunhão diária e o que mais ressaltava em sua figura era o nariz afilado, comprido, congruente com seu físico longilíneo, embora já se curvando na direção do Criador exigente, que mais o queria para si. Teria seus sessent'anos, ou os de nossos enganos?
E o que encucava contudo era a sua opção profissional, costurar para senhoras. Fosse alfaiate, como uma quase dezena dos que ainda havia na Velha Serrana, todos cavalheiros, daria para a gente entender melhor, sem questionamentos.
Mas o questionamento, embora silente, gritava por uma explanação que, no entanto papai não dava e tampouco insistíamos em perguntar. E Deus se metia para nos convencer, tacitamente também, que aquele arranjo era, senão de todo plausível, fartamente visível, tangível.
E a missa prosseguia. Como o Pai, papai tudo via. E consentia.