Cómpreme Usted este ramito, Señorito...
Frequentador apenas ocasional das matinées do cine Pitangui - o meu habitual, e só noturno, duas vezes por semana, era o cinema da fábrica - não deixei de notar a presença do Mundinho sempre que lá pisei. Sem alcance a guloseimas que eram vendidas pelos baleiros e sem revistas em quadrinho, ou figurinhas, para me jactar perante à operante e esfuziante gurizada, sobrava-me um olho na tela e outro em alguma ninfeta que ao menos me estimulasse a sonhar - e bronhar - com ela...
Oníricas ilusões à parte, hora era de me entregar à sétima arte. E não havia, contudo, forma de acreditar como podia o Mundinho, só nas revistas se concentrar. De longe, era sempre sua a maior e a mais sortida coleção, e o troca-troca, fazia-se sem qualquer inibição. Tarzan, Flecha Ligeira, Cavaleiro Negro, Flash Gordon, Gene Autry, Rock Lane, a família Disney, era interminável a lista. E a gurizada se valorizava - e se falorizava - era com a mão e mente na revista.
E Mundinho, diferentemente da turba que o cercava, indagava e papeava, já era um rapaz formado. Ou quase, pois a baixa estatura o físico atarracado, o trazia, e traía, à base. Provinha de família tradicional da Velha Serrana, e nada serena, ligada ao comércio de ferragens. Fora do nosso mundo hollywoodiano, vira-o uma única vez na casa de uma sua tia, professora, que, se a mente bem rememora, tinha por nome Dona Dora. Era uma visita escolar, na companhia de uma mestra e, na ocasião mudinho manteve-se o Mundinho. Nem revista exibiu, tampouco pra buliçosa turma de estudantes deu ares ou pesares de sua graça, como quando com as revistas que na minha memória ainda sobraça...
Ponho-me a imaginar qual seria a reação do Mundinho numa sessão noturna, diante dos trinados inocentes duma Marisol ou do canto sedutor duma Violetera, Sarita Montiel...
..."Llévelo usted señorito
Que no vale más que un real
Cómpreme usted este ramito
Cómpreme usted este ramito
Pa' lucirlo en el ojal..."