Menina dos cabelos cacheados
Ela sorria sempre. E sorria com os olhos, com a boca, com o coração. Andava sempre bonita – por dentro. Arrumava a alma como poucas! Embora, claro, não andasse feia. Raras vezes o cabelo estava desalinhado. Os cachos, quase sempre soltos, moldavam-lhe o belo – e singelo – rosto.
Ela adorava enfeitar o coração. Enchia-o de flores. O perfume era maravilhoso. Sonhava muito também. Enquanto sonhava, sorria. Ela realmente sempre sorria! Tinha o coração, além de enfeitado, muito espaçoso. Quantos caberiam lá dentro? Eis a questão.
Amava de graça! E que graça tinha! O andar, bem como os olhos, era sedutor. Sedutor sem ser vulgar. Sedutor como Capitu. Mas não era de ressaca o seu olhar, era de ânsia. Ânsia de vencer. De crescer. De mudar. Ânsia de ser quem ela sempre quis ser: ela mesma. Ânsia de tudo.
A tristeza, inimiga nata da beleza feminina, gostava de incomoda-la. Gostava porque tinha inveja. Inveja do seu sorriso. Inveja da felicidade que inundava os olhos dela. Inveja dos seus cachos.
Mas não chore, menina. Não chore. O mundo precisa do seu sorriso, do seu gingado, da sua voz e do seu lindo e alto cabelo cacheado.