Comentário sobre a Ambição, seguido de Porque sou professor
Game of Thrones? Laranja Mecânica? Ou o que quer que seja? Não! Se eu quisesse violência eu ligava o noticiário! Eu quero uma literatura curativa, capaz de aplacar as feridas da alma, capaz de fazer esquecer as dores do dia-a-dia. Ou como os contos de Primeiras Estórias, uma narrativa capaz de trazer água pro sertão, de fazer multiplicar o pouco gado, de tornar o capim mais verde e a sombra mais fresca. Isso vale para jogos também. "Ah! Perdi essa partida de futebol, mas semana que vem vou juntar essa raiva e ganhar!", errado, totalmente errado. Se é pra ficar com raiva, pra que começar? É pra ser divertido, não é? Então por que alguém tem que ser "o primeiro" ou "o melhor"? Isso só existe para fazer briga, causar intrigas. O trabalho colaborativo é o melhor. Todos são importantes, todos se divertem, porque fazem algo, e é coerente com o mundo, porque todo mundo é importante no mundo.
Olhando retrospectivamente, hoje, percebo que poderem "contar vitória", na infância, foi uma das coisas que arruinou a minha infância. E quando reflito sobre isso, é óbvio, simplesmente porque funciona como um pensamento por ídolos: cria-se um "Deus", um ídolo, um símbolo, "o melhor", "o primeiro colocado". E ele está acima dos outros pela posição, mas ganhar um jogo pode ser completamente aleatório. Pode ter dado uma dor de barriga no meu goleiro. Ou ele ficou temporariamente cego por uma rajada de vento. Então, na verdade, o ídolo é um lugar falso, é uma posição falsa. Ele é um escolhido "ao acaso", não existe critério bom o suficiente, ou verdadeiramente válido para colocar acima.
"Ah! Mas é com isso que me torno ambicioso!". Ruim. Péssimo. É uma ambição pequena, na verdade, porque só envolve a própria vida, o próprio umbigo e não é realmente grande. Se é para sermos ambiciosos, sejamos de verdade. Mudar o mundo para melhor, "enfrentar" (ficar de frente para) gerações e gerações de adolescentes. Repensar a cultura nacional e, até, mundial. Enfim, lembro de Gandhi quando falam de ambição: menos de 1,65 de altura, menos de 65 kg; sem machucar uma formiga libertou um país. ISSO é ambição.
Mas tenho fé. Muita fé.
Por isso serei professor, porque tenho uma ambição imensa, que nenhum salário empresarial é capaz de me dar.
Pois quero uma juventude sorridente, mas de sorriso sincero, sorriso que não precisa de selfie pra estar no rosto. Uma juventude que cuida de si, uns dos outros, que se importa com as dores e quer minimizá-las. Uma juventude que conte histórias de amor e ria, de coração cheio de alegria! Uma juventude que recite, verso a verso, um poema, não porque o professor mandou, mas porque, lendo, se encantou. Uma juventude que olhe pra trás — mês a mês — e se orgulhe cada vez mais do que fez. E o orgulho que citei, será reflexo da alegria incontida que sentirão, fruto do esforço que fizeram, dos problemas que passaram e passarão, pois sabem que, cedo, pela manhã, dispostos a mais rosa e menos espinho, cada dia de pé estarão.