A Contra Reforma
A Contra Reforma
Não faz muito tempo, resolvemos fazer uma reforma aqui em casa. Como sou casado com uma Arquiteta (FAU USP), dei o mínimo de palpites, visto que construção não é minha praia. E olha que gosto lá de dar uns palpites.
Feitos alguns cálculos ela falou que era coisa de 10 a 20 dias e com um custo X. Este X na época não era de grande vulto, tanto que loco acordei! (mas sem despertar!)
Fomos atrás de um pedreiro e neste ponto estranhei a negociação pois foi assentada no pagamento de diárias. Eu, no meu simplório conjeturar, pensava em usar uma sistemática comum na agricultura que é o pagamento por empreitada. Ou seja, se negociar o serviço antecipadamente.
Até cheguei a contra argumentar, mas ela me garantiu que assim saía mais barato! Como não sou da área, me calei. Ainda que achando estranho.
Buscando ancorar em algo de lucidez, já me preparava psicologicamente para uma obra com o dobro da duração e custo 1,5 X. Afinal, comumente os orçamentos de obras costumam estourar. Até os do propinoduto da Petrobrás, tiveram aditivos, e que aditivos!
Tão logo começou a obra, eu tinha uma sensação estranha de que estava tudo muito lento. E que não terminaria no prazo inicialmente previsto, e nem no que eu havia suposto.
Mas como não sou do ramo, ia aguardando o desenlace dos eventos.
Já avançávamos além do segundo mês, quando me foi solicitado por ela que fosse ver um orçamento de uma peça de mármore para colocação na porta. Haviam peças padrão no mercado, já prontas, mas que pareciam não atender.
Fui em uma marmoraria fazer o tal orçamento. A peça custaria bem mais que a padrão de mercado. Eu não vi problemas nisso. Parecia dentro de uma lógica.
Quando comentei do preço, fui acusado de não saber fazer orçamentos! Afinal, como podia uma peça por encomenda custar mais caro que uma produzida em série?
O que parecia lógico para mim, parecia ser perversamente violado pelo mercado imaginado. Imagine que cheguei a comentar com colegas, e todos achavam que uma peça sob encomenda deveria custar mais caro que uma produzida em série.
Bem, se o meu pensar era de cunho alucinatório, parecia que eu não era o único a padecer deste mal.
Eu continuava com a sensação de atraso, quando já íamos inteirando o quarto mês do “calendário reformista”. E como se tal não bastasse, eu não conseguia ver a luz no fim do túnel. A bem da verdade, nem o túnel eu estava conseguindo ver.
Para encurtar a história, que se prolongou até além da imaginação, no sétimo mês paramos a reforma. Não terminamos, e sim paramos. E por falta de recursos! O que não é de se espantar, uma vez que já estávamos em um montante de quase 5 X!
Cada vez que me recordo de algum detalhe da tal reforma, me seguro para não sair relinchando.
Quando conto para algum amigo sobre o tal pagamento por diária, sou chamado de mentiroso! O lado irônico é que enquanto eles me acham mentiroso, só eu sei que fui otário!