Biografia do Economista HUMBERTO CAVALCANTE LACERDA

Humberto Cavalcante Lacerda é um conceituado economista manauara, com longa carreira no serviço público federal, que no decorrer de cinco décadas de muito trabalho se destacou em várias áreas, tornando-se o primeiro representante da Amazônia a ocupar a presidência do IBAMA.

Manaus é uma das maiores metrópoles brasileiras, que se diferencia em vários aspectos das outras capitais. Essa belíssima cidade foi erguida no coração da maior floresta tropical do mundo – a majestosa Amazônia, adquirindo uma cultura exótica da mistura de características de diferentes povos que ao longo dos séculos migraram para aquela região. Foi nessa localidade cheia de riquezas naturais que Humberto Cavalcante Lacerda nasceu, em 05 de abril de 1944, filho de Afonso Lacerda de Souza e Aurea Cavalcante Lacerda. Ele é o primogênito de sete irmãos: Humberto, Elizabeth, Afonso, Carlos, Telma, Marizete e Carlos Humberto.

A primeira moradia da família ficava no Bairro Educandos. Depois se mudaram para a Ilha de Caxingá – onde seu pai trabalhava numa serraria. Por último, mudaram para a Rua Ajuricaba, no Bairro Cachoeirinha – local próximo de escolas aonde ele e seus irmãos concluíram os estudos do primeiro e segundo graus.

Naquela época, não existiam tantas instituições de ensino, e conseguir uma vaga numa escola era bastante difícil. Os alunos tinham que fazer exame de admissão para ingressarem no curso ginasial. Como era de costume à época, os pais de Humberto recorreram ao serviço particular pagando a Prof.ª Rita de Cássia “Dona Ritinha” para ensinar-lhe as primeiras letras.

Até hoje ele carrega boas lembranças dos momentos de aprendizado junto àquela amável educadora, que foram fundamentais para ser aprovado no curso de admissão da Escola Técnica de Manaus, onde saiu com o diploma de Tipógrafo Linotipista. Os estudos eram bem puxados. As crianças passavam os dois turnos estudando, pois as aulas iniciavam pela manhã e seguiam até o final da tarde.

Em seguida, concluiu o científico no Colégio Estadual do Amazonas.

Com 17 anos de idade, conquistou um ótimo emprego público no Governo do Amazonas, atuando como escriturário e linotipista no Diário Oficial. Ele era um funcionário “extranumerário mensalista” – termo utilizado na época para contratação de profissionais temporários.

Nesse período, foi convocado para servir no Batalhão do Exército de Manaus. Em razão de sua experiência no Diário Oficial, depois do período de instrução básica, foi designado para prestar serviços na “sargenteação” do Hospital Militar de Manaus, realizando análise e organização de documentos no setor administrativo daquela corporação.

Pouco tempo após deixar o serviço militar, em 1964, foi aprovado no concurso para trabalhar como escriturário do Banco Nacional Ultramarino (BNU), um Banco português com sede em Lisboa e atuação em vários países, especialmente em ex-colônias portuguesas.

Em seguida teve outra grande conquista, ao passar no concurso nacional para o Banco do Brasil, o que foi motivo de grande comemoração para sua família e amigos. Quando participou da seleção não tinha ideia de onde seria lotado, e para surpresa sua foi designado para servir bem longe de sua terra natal. Humberto Lacerda tomou posse em 05 de outubro de 1965, na Agência do Banco do Brasil em Três Lagoas – município produtor de celulose que à época pertencia ao Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, pois esses dois estados ainda não tinham sido desmembrados. Começou como auxiliar,

um ano depois foi aprovado no concurso interno para escriturário, tendo desempenhado as funções de investigador de cadastro e caixa-executivo naquela agência.

Foi o primeiro de sua casa a mudar-se tão jovem e para um destino tão longe. Na época a viagem de Manaus para São Paulo demorava o dia inteiro voando nos “constelacions” da Transbrasil. Para matar a saudade dos familiares e amigos contava com a camaradagem do subgerente, Sr. Nestor Guimarães, que lhe garantia o privilégio de tirar férias no mês de Dezembro para poder passar as festividades natalinas e de final de ano em companhia de seus entes queridos.

Mesmo estando bem-sucedido, ele desejava retornar para perto de seus familiares. Assim, foi convidado para assumir a chefia da Carteira Agrícola da Agencia do Banco do Brasil de Parintins, cidade às margens do rio Amazonas e famosa por seu belíssimo festival folclórico.

Humberto Lacerda ficou bastante animado com aquela oportunidade. Já estava há sete anos em Três Lagoas. Ali trabalhou muito, ampliou sua experiência profissional, fez inúmeros amigos e encontrou seu grande amor. Em 02 de janeiro de 1972, casou-se com a bela jovem Elizabete Oliveira Lacerda.

Meses antes do casamento, Humberto e Elizabete planejaram a lua-de-mel. Logo após a cerimônia, os nubentes fizeram uma maravilhosa viagem percorrendo todas as capitais do Nordeste. Eles saíram do Centro Oeste, passaram por São Paulo e contornaram todo litoral nordestino num corcel vermelho. Naquela época, não existiam aparelhos GPS, celulares, nem internet. Os turistas e viajantes contavam com ajuda do Guia 4 Rodas para achar as melhores rotas e locais de alimentação e hospedagem.

Em todas as cidades que chegavam, Humberto procurava uma agência do Banco do Brasil para obter dicas e orientações com seus colegas de trabalho – o que facilitou bastante o percurso. Nessa longa jornada de 45 dias, eles percorreram mais de 4 mil quilômetros colecionando muitas alegrias e situações curiosas. Uma dessas estórias inusitadas aconteceu em Salvador. Logo que chegaram Humberto percebeu que estavam sendo seguidos. Ele percorreu várias ruas ziguezagueando para despistar o motorista que os seguia. Como não obteve sucesso, e temendo algo pior, estacionou seu corcel vermelho numa praça movimentada. Para sua surpresa, o estranho também parou e se aproximou para conversar. Era o gerente da VARIG de Salvador que se apresentou e disse que o estava seguindo por causa da placa do carro. Queria saber se Humberto conhecia um cidadão, Sr. Airton Perón, da cidade de Três Lagoas. Por coincidência, ele era um cliente da agência aonde Humberto trabalhava. Para pagar um favor recebido do rico fazendeiro matogrossense, o gerente da VARIG retribuiu sua gratidão aos recém-casados, colocando-lhes a disposição um carro luxuoso com motorista para que conhecessem os melhores pontos turísticos da capital bahiana, chegando a conhecer a praia de Itapuã, eternizada na música de Toquinho e Vinícius de Moraes. Esse foi um fato curioso, mas especialmente nas pequenas cidades os bancários são tratados com prestígio, recorrentemente recebendo agrados por seus laços de afinidade com a clientela do banco.

Ao chegarem à última capital, São Luis, despacharam o carro numa carreta para Belém, que depois seria levado de balsa para o Amazonas. Eles seguiram de avião para Manaus, pois Humberto queria apresentar sua esposa para seus pais e irmãos antes de tomar posse em Parintins.

Quando começou em Parintins, assumiu o cargo de Chefe da Carteira Agrícola. Depois se tornou Subgerente e Gerente.

Em 1974, retornou para o Mato Grosso, indo morar em Porto Mortinho, na fronteira com o Paraguai. Sua esposa estava grávida do primeiro filho (Marcelo Oliveira Lacerda), e desejava estar perto de seus pais para receber auxílio naquela fase delicada.

Humberto veio fazer um curso em Brasília e pouco tempo depois foi requisitado para o Banco Central do Brasil. Chegou em 10 de novembro de 1975, permanecendo até hoje. Fez uma longa carreira de sucesso, ocupando diversos cargos: Assistente, Coordenador, Chefe do Departamento de Patrimônio e Assessor Parlamentar de quatro Presidentes (Fernão Botelho Bracher, Fernando Milliet de Oliveira, Francisco Roberto André Gros e Elmo de Araújo Camões).

Na capital federal, Humberto Lacerda concluiu vários cursos: Bacharelado em Economia pelo UNICEUB, Matemática Financeira Avançada pelo Banco Central, Escola Superior de Guerra (ESG) e Seminário Sobre Fundos de Pensão pela Associação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (ABRAPP). Aqui também nasceu seu segundo filho: Luciano Oliveira Lacerda

Durante o governo do presidente José Sarney, Humberto Lacerda foi convidado a ocupar um importante cargo no Ministério da Fazenda, como Secretário de Assuntos Parlamentares do Ministro Maílson da Nóbrega, coordenando a área parlamentar dos bancos públicos: Banco Central, Caixa Econômica, Banco do Brasil e BNDES. Esse período foi extremamente rico, permitindo-lhe adquirir enorme experiência e fazer muitos amigos em inúmeros Ministérios, Autarquias e empresas privadas.

Mesmo estando longe, Humberto nunca se desligou de seu estado de origem. Ele sempre falava para seus colegas de serviço sobre as belezas e encantos da Amazônia. Foi no meio de uma dessas conversas que ele teve a ideia de levar um grupo de amigos bancários para uma excursão em Manaus e, assim, poderem pescar nos rios da maior floresta tropical do mundo. Os seus amigos toparam na hora o convite e aquela viagem agradou tanto que até hoje, 26 anos depois, eles repetem todos os anos essa agradável programação, hoje revestida de um cunho social, pois levam roupas e muitos remédios para distribuírem para os ribeirinhos necessitados da região.

No início do governo do presidente Fernando Collor de Melo, Humberto Lacerda passou a trabalhar na Presidência da República, como assessor do Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico da Região Norte. Essa foi uma função que lhe aproximou de suas origens e ajudou-lhe a ampliar sua visão dos problemas econômicos e sociais dessa importante parte de nosso país.

Entre 1991 e 1992, foi convidado pelo então Ministro da Educação e Cultura, José Goldemberg, para o cargo de Assessor Parlamentar, atuando em inúmeros temas ambientais.

A cada ano, mais pessoas conheciam seu jeito de trabalhar e acabavam convidando-o para novos desafios. Foi assim que o Embaixador Flávio Miragaia Perri, então Secretário Especial de Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), chamou Humberto Lacerda para assumir o cargo de Diretor de Administração e Finanças do IBAMA, indicando-o para presidente-substituto. Três meses depois, Humberto assumiu a presidência do órgão e se tornou Secretário-executivo do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), ficando até 1993.

Desenvolveu várias ações importantes para fortalecer a instituição. O IBAMA fora criado pela fusão de quatro órgãos (IBDF, SUDEPE, SUDHEVEA e SEMA), de modo que Humberto teve que realizar ações para envolver os servidores que ainda não se sentiam integrados ao novo instituto. Assinou importantes portarias para regulamentar a pesca, contando com apoio dos técnicos dos Centros de Pesquisa em Recursos Pesqueiros. Articulou junto aos demais Ministérios ampliação dos recursos financeiros do órgão, no intuito de melhorar as condições de trabalho e adquirir equipamentos.

Sua formação acadêmica não tinha base específica na área ambiental, mas ele procurava compensar a falta de conhecimentos técnicos cercando-se de bons conselheiros e usando sua ampla rede de contatos dentro do governo federal para articular ações e projetos em prol da proteção da natureza brasileira. O que lhe faltava de conhecimento técnico específico, sobrava-lhe capacidade de liderança, ousadia e grande poder de articulação. Um exemplo disso foi a assinatura da Portaria nº 542, em 16 de abril de 1993, que garantiu a permanência de mais de mil servidores no quadro funcional do IBAMA. Eles estavam ameaçados de perderem seus empregos pela Lei Federal nº 8112, de 11 de dezembro de 1990, que instituía o regime jurídico dos servidores da união, e até aquela data não tinha sido efetivada no IBAMA. Grande parte desses funcionários atuava nas Unidades de Conservação (Parques, Reservas etc.) espalhadas pelos quatros cantos do país, e com a saída deles essas áreas de grande relevância ecológica ficariam desprotegidas, além de que a demissão em massa ocasionaria um enorme caos em centenas de famílias. Aquele gesto ousado de Humberto Lacerda garantindo a permanência desses servidores até hoje é lembrado como um ato admirável de sua gestão.

A ECO-92 tinha acontecido há pouco tempo e dezenas de pessoas representando inúmeras entidades ambientalistas procuravam diariamente o IBAMA para firmar parcerias.

Além de trabalhar bastante na sede, ele participava de eventos e reuniões em diversas partes do Brasil e até mesmo no exterior. Numa viagem realizada a Nova Iorque, para participar de uma reunião na sede da ONU, Humberto Lacerda ficou impressionado com a ótima recepção e ali percebeu o quanto o IBAMA, mesmo sendo uma instituição com poucos anos de vida, era respeitado internacionalmente, o que lhe encheu de disposição para fazer muito mais ao retornar para Brasília.

Sempre que possível, ele levava seu filho Marcelo em viagens, de modo que o garoto adquiriu uma forte paixão pela ecologia. Mais tarde tornou-se economista como o pai, com pós-graduação em meio ambiente, e atualmente ocupa um cargo importante, como diretor do escritório do Google no Brasil.

Com o Impeachment do presidente Collor, seu vice Itamar Franco assumiu a presidência e fez várias mudanças, incluindo o Ministério do Meio Ambiente que passou a ser chefiado pelo jurista Rubens Ricupero. Assim, Humberto Lacerda recebeu um convite do chefe de gabinete do MMA, Sérgio Silva do Amaral, para ajudá-lo como Secretário de Assuntos Gerais (SAG).

Com a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, o Embaixador Rubens Ricupero tornou-se Ministro da Fazenda e Humberto foi junto com ele, sendo nomeado como Conselheiro de Administração do Banco da Amazônia S.A. (BASA), de 1995-1999. Assumiu concomitantemente outros cargos importantes: Diretor de Administração e Controle da Fundação Banco Central de Previdência Privada (CENTRUS), de 1995-1999; Interventor no Instituto CONAB de Seguridade Social (CIBRIUS), de 2000-2001; Representante do Secretário de Comunicação da Presidência da República no Conselho de Administração da RADIOBRÁS, de 1995-2002.

Desde 2011 ocupa o cargo de Presidente do Comitê de Auditoria Grupo Caixa Seguros.

Humberto Lacerda desde jovem gosta de conversar e fazer amigos. Por onde passa acumula boas referências e nunca deixou de frequentar a sede do IBAMA para relembrar os velhos tempos e se atualizar sobre as novidades. Muitos servidores carregam ótimas recordações de sua passagem pela instituição, e reconhecem em sua gestão boas ações para a consolidação do órgão como um dos mais importantes no governo federal.

Em meados do século passado se pensava que poucos profissionais (como biólogos, agrônomos, engenheiros florestais e veterinários) deveriam se envolver com a causa ambiental. Com o passar do tempo ficou claro que essa visão estava equivocada.

Logo que o IBAMA foi criado, em 1989, passou a difundir em todo país os conceitos do “Desenvolvimento Sustentável” – que visa unir a conservação da natureza com o desenvolvimento social e o crescimento econômico – consolidando espaço definitivo para que inúmeras outras profissões (como geógrafos, advogados, pedagogos, economistas, sociólogos etc.) se envolvessem intensamente nessa nobre missão.

Humberto Cavalcante Lacerda representa o rol de conceituados profissionais que tem atuado para consolidar o IBAMA como uma das instituições mais conhecidas e respeitadas em todo Brasil!!!

BIBLIOGRAFIA:

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Brasília – DF, Novembro de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 15/11/2014
Reeditado em 28/09/2021
Código do texto: T5035769
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