MONSENHOR MELIBEU

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR (*)

[...] eu esperava dos documentos que me ensinassem a verdade dos fatos, cuja lembrança tinha por missão preservar. Logo verifiquei que esta verdade é inacessível e que o historiador só tem oportunidade de aproximar-se dela em nível intermediário, ao nível da testemunha questionando-se não sobre os fatos que relata, mas sobre a maneira como os relatou. Eis que dou atualmente mais atenção aos relatos, por mais fantasmagóricos que sejam, do que as anotações “objetivas”, descarnadas que podemos encontrar nos arquivos. (DUBY, 1993).

O Brasil proclamou a República como sistema político de governo em 15 de novembro de 1889, data em que o Estado separou-se da Igreja Católica, passou a ser um estado laico (sem religião oficial). É importante mencionar de que no regime monárquico brasileiro que acabou com a proclamação da república, entre nós, aqui tinha uma leva de padres desregrados e casados que era em regra o perfil ou imagem que se tinha da Igreja no Brasil. Assim sendo, diante do nascimento do novo regime, o papado romano aconselhou os seus bispos para fundar seminários e empenhar-se na formação e na quantidade de novos sacerdotes para fazer frente aos novos tempos em termos religiosos em nossa terra nacional. Assim foram criados seminários em diversos estados do país pela Igreja através de suas dioceses. Na Paraíba foi criado em 1894, o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em João Pessoa que oferecia os cursos: menor (preparatório) e maior (composto pelos cursos de Filosofia e Teologia). Nesta época o Brasil já era República e o estado nacional laico, assim sendo, Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, nascido em 30 de agosto de 1855, natural de Areia e falecido em 15 de agosto de 1935 em João Pessoa, Estado da Paraíba, filho do Coronel Idelfonsiano Clímaco Clodoveu de Miranda Henriques e dona Laurinda Esmeralda de Sá e Mello, senhores dos engenhos: Buraco e Fundão, em Areia/PB, conforme afirma o Padre Francisco Lima, em sua obra “Dom Adauto”. Assim o referido prelado foi o primeiro bispo e o primeiro arcebispo da Paraíba conforme consta da historiografia da Arquidiocese da Paraíba. Assim sendo, por exemplo, Dom Adauto, como o povo o chamava, transcendeu suas funções de pastor da Igreja Católica quando criou uma matriz curricular pedagógica para os cursos: menor e maior do seminário, envolvendo uma série de atividades em termos de exercícios didáticos, religiosos, morais e éticos, atribuindo valores aos saberes, às humanidades, à teologia e à filosofia. É importante mencionar que o Papa Leão XIII, em 1892, criou a Diocese da Paraíba e nomeou Dom Adauto, seu primeiro bispo no dia 2 de janeiro de 1894 e sagração no dia 7 de janeiro de 1894, valendo lembrar de que o referido bispo também foi o primeiro arcebispo da Paraíba nomeado pela Santa Sé Romana em 14 de julho de 1914. Foi um arcebispo de pulso firme e polêmico, ficou notável pelas cartas pastorais que escrevia condenando publicamente o liberalismo, o ateísmo, o socialismo, a maçonaria, o comunismo, a emancipação da mulher e o relaxamento de costumes trazido pelo urbanismo e a industrialização.

O paradigma ou modelo da educação desenvolvida no Seminário Nossa Senhora da Conceição, na capital da Paraíba, envolvia o combate a tudo isso e mais uma estrutura de formação com objetivos educacionais claros em termos de racionalização no tocante ao modo do ensino, onde em cada componente curricular, matéria e ou disciplina tinha um professor que dava aula para alunos com o mesmo nível e/ou grau de conhecimento independente da idade, além da eficiência, onde o que era planejado para cada matéria em termos de conteúdos era integralmente ensinado para cada classe. E isso era naquela época um grande avanço em termos instrucionais e educacionais. O Seminário da Diocese da Paraíba, já no final do século XIX, oferecia educação geral integral em termos laicos e capacitava ainda em termos religiosos de uma educação espiritual, intelectual e moral, voltado justamente para um desempenho qualitativo dos padres que ali se formavam em termos gerais. A instituição seminário católico romano no Brasil, a partir do advento do sistema republicano de governo, constituiu a maior academia entre nós paraibanos em brasileiros, além de formar padres para pregar o evangelho, casar, batizar e celebrar missa, fazer parte da política partidária, inclusive exercendo cargos eletivos, etc., também foi responsável pela formação de intelectuais do tipo: padres professores de português, francês, inglês, latim, matemática, história, geografia, ciências físicas e biológicas, filosofia, etc., padres educadores, padres escritores, padres jornalistas, padres chefes políticos, dentre outros profissionais de relevância local, estadual e nacional. Os egressos saiam do seminário como padres e/ou não, porém, saiam preparados para exercerem quaisquer atividades, dentro e fora da igreja. Com o fim da monarquia, o Estado separado da Igreja, aí todas as despesas para o oficio religioso católico, construção, manutenção e recuperação de prédios de igrejas, capelas e seminários, já não era mais feito com dinheiro dos impostos pagos pela população ao Tesouro Nacional, Estadual e ou Municipal, e sim através das ofertas dos fiéis e da prestação de serviços diversificados que a igreja viesse oferecer a população. Então criar um seminário para formar padres não é tarefa fácil nem naquele tempo e por analogia nos tempos atuais, tudo tendo um custo financeiro e econômico muito alto. A igreja deixou de receber os subsídios do Estado e bem assim o Estado não tinha o auxilio dos padres para o ensino público no Brasil, não sendo diferente nos Estados membros e muito menos nos municípios. Diante desse universo os senhores bispos, dentre os quais o da Paraíba, em acatando a orientação emanada do Concílio de Trento e dos ideais religiosos ultramontanos no tocante a formação sacerdotal através de seminários.

A história da Igreja em termos educacionais é tão antiga quanto a sua origem, tudo começou desde os primórdios dos sermões de Jesus Cristo e depois pelos seus apóstolos e demais seguidores no mundo. Isso não era um sistema de educação formal, porém, educação informal de grande valia já naqueles tempos. Que digam por si mesmas as pregações e/ou sermões dos sacerdotes pelo mundo afora. De modo que em 1179 foi convocado o terceiro Concílio Lateranense, pelo Papa Alexandre III, onde foi reafirmado formalmente o compromisso de educar os clérigos e os pobres como missão precípua da Igreja. De modo que com a fundação da Companhia de Jesus, desde 1547, ficaram incumbidos no ministério de ensino e seus adeptos faziam voto de pobreza, de castidade, de humildade e de evangelização dos fiéis. Os filhos de Santo Inácio de Loyola e/ou jesuítas fundaram 144 (cento e quarenta e quatro) colégios na Europa até o ano de 1580. Portanto, cinco anos antes da fundação da Paraíba. Vem daí o ensino de gramática, retórica, filosofia e teologia, segundo Assumpção (1982). Nessa época o Brasil ainda era Colônia de Portugal.

E com o bispo Dom Adauto quando da fundação e instalação do Seminário Diocesano da Paraíba em 1894 e que teve como sede o palacete de José Silvino Carneiro da Cunha, o barão de Abiahy, localizado na esquina da rua das Trincheiras, frente para a praça conhecida como “Pavilhão do Chá”, cujo prédio foi demolido e lá construído o edifício da atual Delegacia do Trabalho, em João Pessoa/PB, não foi diferente ao optar pela educação dos candidatos a padres que fossem de origem pobre, conforme enfocamos que:

“[...] a corrupção dos costumes e a educação anti-cristã que desgraçadamente se dão hoje à mocidade, não se têm tão lastimavelmente penetrado” (HENRIQUES, 1897, p.25).

A história relata que o Convento São Francisco no centro histórico de João Pessoa foi doado a Diocese da Paraíba pela Ordem Franciscana a pedido de Dom Adauto, onde passou a funcionar em caráter definitivo a Casa de Formação de Padres na Paraíba, conforme Henriques, apud Figueiredo (1906, p. 148).

Diante da corrupção dos costumes e da educação anti-cristã, já em voga no final do século XIX no mundo, no Brasil e não era muito diferente na Paraíba, denunciada por Dom Adauto no meio da juventude, tem a compreensão por analogia no dizer de Almeida (1976) ao afirmar que: “ o seminário formava, entretanto, uma escola. A ausência de estímulos preservava as consciências e convivia-se numa atmosfera capaz de sanear os corações mais impuros”, e por assim dizer enfatiza ainda que: “tudo era vulnerável e continha-se a natureza. As maiores crises nasciam da castidade; a continência ascendia fogueira de imaginações exaltadas que sublimavam um ato medíocre”, de modo que: “a disciplina congelava e a carne ia perdendo sua sensibilidade” e conclui afirmando que:”reinava a paz dos sentidos, à prova do sexo, o pecado que infundia mais horror”. E isso é verdade em todos os tempos a adolescência sempre foi e sempre será uma caixa de surpresa na vida da juventude sempre indecisa em suas tomadas de decisões. O mundo sempre ofereceu e continua oferecendo muitas oportunidades profanas e santas, sempre foi assim e continuará sendo assim, porque a vida é uma questão de escolhas.

O grande Santo Tomás de Aquino é o mentor que serviu de modelo para a Igreja Católica a partir de Leão XIII que adotou suas idéias no tocante a formação dos padres do final do século XIX e do século XX, via os fundamentos filosóficos e teológicos, eis que:

“o oficio próprio do sacerdote é ser mediador de Deus e o povo: a saber, enquanto ele comunica ao povo os dons de Deus (donde o “sacerdote” quer dizer um doador de coisas sacras), e, de outro lado, enquanto Deus oferece as orações do povo e, de algum modo, apresenta satisfações pelos pecados dos homens” (AQUINO, 2000 - 2003, p. 191).

É nesse cenário da vida eclesiástica da Paraíba, do Brasil e do mundo, que surge a opção por candidatos ao sacerdócio oriundo de famílias pobres que ingressou no Seminário Nossa Senhora da Conceição de João Pessoa, a exemplo do jovem Abdon Odilon Melibeu Lima, nascido em 1876, natural de Campina Grande, Estado da Paraíba, filho de pai comerciante, depois de ter sido “aprovado simplesmente” e “aprovado plenamente em História Universal” nos exames gerais preparatórios efetivados em agosto de 1895 no Estado da Paraíba de acordo com o Decreto nº 2.032, de 26 de junho de 1895¹, conforme Diário Oficial nº 7832, segunda feira, 01 de dezembro de 1895².

Assim sendo, com 24 (vinte e quatro) anos de idade, Abdon Odilon Melibeu Lima, foi ordenado padre pelo Bispo da Paraíba, Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, turma pioneira do Seminário Nossa Senhora da Conceição em 1900. O que vale dizer que ele tinha dezenove anos de idade quando foi aprovado nos exames gerais preparatórios de 1895 antes mencionados. Além de padre ele era formado em Direito.

O neófito sacerdote foi enviado para prestar o serviço do altar na Vila de Santo Antônio do Piancó, Estado da Paraíba, no alto sertão, logo após a sua ordenação, no ano seguinte e/ou seja em 1901, é a informação que temos: “[...] O Padre da época, Abdon Melibeu Lima, aproveitando a presença do seu superior na pequena Vila de Santo Antonio, pediu transferência para uma outra freguesia, no que foi prontamente atendido por Dom Adauto, que por conta de solicitação do líder maior da localidade, Dr. Felizardo Leite, designou de pronto o jovem sacerdote pombalense, como coordenador religioso da referida comunidade” e a historiografia daquele acontecimento conclui que: “Vale salientar que os dias da visita pastoral foram suficientes para que a população identificasse os dotes do Padre Aristides: maneiroso, vivo e diligente, afeito ao povo sertanejo e aos seus interesses, o que provocou uma enorme simpatia. O novo dirigente paroquial assumiu em agosto de 1902³”. Assim sendo, o Padre Abdon Melibeu, foi transferido da freguesia do Vale do Piancó, que foi substituído pelo Padre Aristides Ferreira da Cruz, nascido aos, 18 de junho de 1872, na Fazenda Lagoa, município de Pombal/PB, filho de do casal de agricultores: Jorge Ferreira da Cruz e Joana Ferreira Chaves, que se tornou chefe religioso, chefe político do Vale do Piancó, deputado estadual da Paraíba e um dos mártires da Coluna Prestes na Paraíba em 1926.

O Padre Abdon Odilon Melibeu Lima foi transferido para freguesia de Martins, Estado do Rio Grande do Norte, o que se comprova a benção litúrgica que o mesmo administrou em 2 de fevereiro de 1902 na condição de vigário local4, fato esse igualmente testemunhado com a participação do Padre Tertuliano Fernandes de Queiroz, vigário da cidade de Pau dos Ferros/RN e da banda de música da cidade de Catolé do Rocha/PB, conforme enfatiza Apodi/RN (1902 a 1904)5.

Da freguesia de Martins/RN, foi transferido para a cidade Cametá, Estado do Pará, onde exerceu a atividade de Reitor do Seminário de Belém do Pará, quando foi transferido na condição de vigário encomendado para a freguesia de Pilões/PB, e de lá veio para a freguesia de Santa Rita/PB, quando tomou posse como vigário em 01 de janeiro de 1921. Foi também diretor do Colégio Pio X, na Capital da Paraíba. De modo que em sendo vigário da freguesia de Santa Rita, procurou imediatamente a fazer a reforma do prédio da capela inaugurada em 6 de dezembro de 1776 pelos padres franciscanos capuchinhos5, tendo como orientador espiritual Frei Manuel de Santa Tereza. O livro tombo da freguesia de Santa Rita nº 001 encontra-se praticamente destruído pelo tempo e pelas traças, porém, o mesmo foi escrito depois da inauguração da capela de Santa Rita, em 6 de dezembro de 1776. Assim sendo, a cidade de Santa Rita passou pela condição de engenho, de vila, de freguesia, de paróquia e de emancipação política em 19 de março de 1890 (GAZETA DA PARAHYBA, 1890, p.1), tendo o Intendente Antônio Gomes Cordeiro de Mello, primeiro Presidente do Conselho de Intendência, cargo equivalente ao de prefeito na atualidade. A igreja do Rosário (a mesma foi derrubada para no local ser construído o Grupo Escolar João Ursulo, no governo de Argemiro de Figueiredo, sendo prefeito de Santa Rita, Flávio Maroja Filho, (1937/39) e a igreja da Conceição, inaugurada em 1851, eram os prédios mais importantes da cidade de Santa Rita da época.

O vigário Monsenhor Abdon Melibeu era um homem culto, educado, intelectual (formado em Filosofia, Teologia e Direito), letrado, amava o artístico e o belo, conhecia a História Universal como ninguém no seu tempo em nossa terra, tanto é assim que foi aprovado plenamente nos exames gerais da Diretoria Geral de Instrução do Brasil de agosto de 1895, antes citado, ainda como estudante. Foi diretor espiritual do Seminário Nossa Senhora da Conceição, substituindo entre fevereiro e março de 1901, na Capital da Paraíba. Ele era um autodidata da história do mundo e/ou história da humanidade, compreendida como sendo os registros dos feitos do “homo sapiens” na terra, a partir do momento que o homem adquiriu capacidade para fazer os registros de sua vida através da escrita. É justamente o marco divisório da história a pré-história, onde o homem na terra e ainda não tinha capacidade necessária para fazer os registros de seus próprios acontecimentos. Essa era a praia em termos de conhecimentos acadêmicos e cristãos do vigário mencionado. E diante de sua experiência edificadora de sempre construir e reformar prédios de capelas e igrejas por onde passou, bem como por ter convivido com a elite acadêmica e eclesiástica do Seminário de Belém do Pará, onde foi reitor e bem assim na condição de diretor do Colégio Pio X, na Capital da Paraíba. Com coragem e apoio dos fiéis, fez elaborar o projeto arquitetônico arrojado para ampliar e embelezar a capela de Santa Rita em 1929 e que em 1939 foi elevada a categoria de Igreja Matriz de nossa cidade. Infelizmente, Monsenhor Abdon Melibeu, faleceu vítima de enfarte fulminante, teve morte súbita, em 9 de agosto de 1931, tendo apenas modificado a parte interna da atual Igreja Matriz Santuário de Santa Rita de Cássia, menos o altar mor e a torre, que foi concluído pelo Monsenhor Rafael de Barros Moreira em 1932. O idealista e reformador de nossa principal casa de oração católica, despertou na população a devoção através de procissões, verdadeiras romarias trazendo material de construção para os serviços de reforma da então capela de Santa Rita de Cássia (1776) a seu pedido em suas pregações e peregrinações, exemplo cristão de verdadeiro sacerdote, sempre projetando e executando com os poucos recursos adquiridos através de doações dos fiéis e romeiros, onde o padre e o povo: “Caminhantes, não há caminhos. Faz-se o caminho ao andar”, conforme enfoca o poeta espanhol Antônio Machado7. Diante de seu trabalho diuturno, de orações, de perseverança, e de honestidade, pois, passou dez anos aqui como vigário e não aderiu aos “coronéis” da vida social e da política local. O ministério de Monsenhor Melibeu, era trabalhar e converter almas para o catolicismo. Diante das calúnias criadas e divulgadas sem autoria no seio da comunidade católica de Santa Rita, depois da festa da padroeira, realizada em 22 de maio de 1931, o fez refletir os ensinamentos de Sócrates, que afirma que calúnia é uma meia verdade, um sofisma de construção inteligente que induz ao erro a quem é dirigido, conforme enfoca Péricles, pois, uma afirmação falsa, desonrosa e desconexa a respeito de alguém (no caso em tela Monsenhor Melibeu) ou algo como programa e ou projeto de governo ( gestão pública ou privada ), mortos e ou acabados com o decurso do tempo, que uma vez se adiciona a uma ação verdadeira, criando assim um dilema, ou seja uma mentira repetida passa a ser verdadeira, se repetida várias vezes, mesmo sendo mentira... E isso o deprimiu demais, não sabia o sacerdote a quem chamar para pedir explicações, os acusadores o faziam no disse me disse, no boca a boca, nunca provaram nada contra ele. O que se sabe é que alguém “levou” o apurado da festa da padroeira de Santa Rita em 1931, cujo dinheiro era para terminar os serviços do altar e da torre da igreja matriz. E os fuxiqueiros de plantão diziam que era estória do padre... O certo é que o deprimiu bastante, ficando debilitado e pensativo, o que vale enfocar que Platão do alto de seu saber filosófico, entende isso pela prática de um fato determinado, definido da realidade para com um crime e tudo isso é uma contradição embutida ou imposta via imposição de reflexão difícil de ser elucidada tendo em vista que foi feita de má-fé. E o autor e ou autores nunca foram identificados pela fofoca do desaparecimento do dinheiro da casa paroquial. O certo que é ele faleceu aos 52 (cinqüenta e dois anos) de idade, subitamente, foi dormir e acordou na outra vida. Até hoje a comunidade católica de Santa Rita nada comprovou contra Monsenhor Melibeu a tal respeito, para tanto, invocamos os escritos de Jaime Gonçalves do Nascimento, de Waldemar de Carvalho Lelis e de Lapemberg Medeiros, diretores e autores do Anuário Informativo do Município de Santa Rita, publicado em 1937 e publicação única do gênero nas décadas 30, 40 e 50 do século. E jamais apareceu nenhum período e/ou escritor ou historiador falando ou narrando qualquer fato envolvendo o caso que levou Monsenhor Melibeu desta vida. Morreu descontente com o falso que levantaram contra ele. O que nos leva a crer que foi realmente um falso testemunho, calúnia barata. Corrobora com essa tese o que escreveu Lapemberg Medeiros, em 1948 (manuscrito), onde justifica que “desempenhou Mons. Melibeu uma administração fecunda e honesta, revela-se um dirigente incansável”, e se não bastasse tal convencimento conclui dizendo que: “apesar do seu singular retraimento pouco frequentando os meios sociais e conservando-se sempre distanciado da política, das lutas partidárias”. Assim ele era um gestor ético e afinado com os compromissos com sua igreja e seus fiéis. É evidente de que os possíveis conteúdos mentais observados em Monsenhor Melibeu, são passiveis de ser algo psicológico (introspecção/autoconhecimento de si mesmo), podemos citar: a crença, a imagem mental, a memória (visual, auditiva, olfativa, sonora, tácteis), as intenções, as emoções e o próprio conteúdo do pensamento: conceitos, raciocínios, associações de idéias. E isso já fazia 17 (dezessete) anos do falecimento do referido Melquisedeque e/ou rei de Salém8. É importante mencionar de que o periódico “Phenix”, sob a direção de Floriano Mendes e Sebastião Castelo Branco, circulou em Santa Rita de 1930 a 1937 “em todas as festas, principalmente, natal, ano novo e nossa senhora Santa Rita”, segundo nos informa o Anuário Informativo de Santa Rita (1937), e o mesmo é omisso no que se refere à calúnia que fizeram contra Monsenhor Melibeu, que o levou a enfartar em menos de noventa dias do fim da festa da padroeira no ano de 1931. Ele teve como primeiro sucessor na freguesia de Santa Rita de Cássia a partir de 09 de agosto de 1931, o Monsenhor Francisco Severino de Figueiredo, natural de Caicó, Estado do Rio Grande do Norte (1872-1936), então vigário interino da Paróquia de Nossa Senhora das Neves, além de professor do Liceu Paraibano, membro do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e professor e diretor do Colégio Pio X, em João Pessoa. Na realidade Monsenhor Figueiredo passou pouco tempo respondendo interinamente pela freguesia de Santa Rita. Foi sucedido pelo Monsenhor Rafael de Barros Moreira, nascido em 1897 e falecido em 1975, em João Pessoa/Paraíba. Monsenhor Rafael como os paroquianos o chamava, esteve como vigário presente e enérgico entre nós de 15 de novembro de 1931 a 1963. Ao tomar posse como vigário de Santa Rita deu continuidade ao sonho de Monsenhor Melibeu, edificando o altar mor e a torre de nossa matriz santuário, cuja obra ficou concluído no dia 26 de outubro de 1932 e inaugurada solenemente no dia de Todos os Santos, inclusive de Nossa Senhora do Rosário, 1º (primeiro) de novembro de 1932. Estiveram presentes as autoridades constituídas locais e estaduais, bem como Monsenhor Francisco Severino de Figueiredo, que lhe antecedeu na referida freguesia, entre agosto a novembro/1931. O relógio sineiro situado na torre da matriz foi inaugurado em 1934, tecnologia moderna para época que serve de ponto de orientação e informação a população santaritense até os dias atuais. Além do mais Monsenhor Rafael projetou e executou a construção da gruta ao lado da matriz e fez escrever sobre a mesma: “Eu sou a Imaculada Conceição”, cujo dístico já não existe mais nos dias atuais. Severino Rodrigues foi o construtor da gruta.

O escritor e cronista Lapemberg Medeiros de Almeida (1948) nos informa que Monsenhor Abdon Melibeu faleceu em 26 de outubro de 1931, infelizmente isso não é verdade, tendo em vista que Monsenhor Rafael de Barros Moreira, vigário definitivo de 15 de novembro de 1931 a 1963, no Livro Tombo da Freguesia de Santa Rita, página 53 (cinquenta e três) escreveu de próprio punho em suas anotações de que foi 09 (nove) de agosto de 1931, a data do falecimento do mesmo. Isso é fato e contra fato não se tem argumento. Um fato nos chama atenção, o Padre Abdon Odilon Melibeu Lima, estava vigário na Vila de Santo Antonio do Piancó em 1901 quando pediu a Dom Adauto, bispo da Paraíba para lhe transferir para outra freguesia, foi transferido para Martins/RN, lá ele também construiu e inaugurou a Igreja matriz, assim sendo, ele se livrou da “Coluna Prestes” (fevereiro/1926), que trucidou o Padre Aristides Ferreira da Cruz e seus seguidores, porém, quando vigário da freguesia de Santa Rita de Cássia, morreu de enfarte fulminante tendo em vista uma calúnia levantada contra si envolvendo o desvio do dinheiro da festa da padroeira relativo aos 22 de maio de 1931. Quando o santo não tem defeito agente bota, na visão cega popular dos acontecimentos dos fatos, doa em quem doer.

Em síntese, Monsenhor Abdon Odilon Melibeu Lima, é um benfeitor da comunidade católica de Santa Rita, teve a coragem de enfrentar todos os obstáculos presentes e ausentes, inclusive colou em risco sua própria vida, tendo em vista que foi vítima de calúnia que jamais fora comprovada sua veracidade. É o que podemos deduzir que o referido sacerdote foi vítima de uma minoria atrasada e sempre presente nos meios comunitários de nossa religiosidade. Nada fazem e ficam com raiva de quem projeta, acredita e faz acontecer. Tanto é assim que a as irmandades da freguesia de Santa Rita, juntamente com Monsenhor Rafael de Barros Moreira, o camareiro do papa, homem de fibra moral e de capacidade administrativa enfrentou tudo e todos e fez realizar na íntegra o projeto originário do sonho sonhado de Monsenhor Melibeu, em refazer de pedra e cal arquitetonicamente o nosso maior templo católico na terra de todos nós, além de conceder-lhe a honraria de expor o seu retrato em um dos corredores da referida igreja. O saudoso Monsenhor Melibeu é sempre lembrado e homenageado pelo povo santaritense, tendo em vista que o poder público municipal já prestou várias homenagens, dentre as quais: uma rua e praça em nossa cidade.

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¹ Cf.: Câmara dos Deputados - Legislação Brasileira (1824-1899). Decreto nº 2.032, de 26/06/1895. In.: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2032-26-junho-1895-518534-publicacaooriginal-1-pe.html >.

2 Cf.: DOU – Diário Oficial da União (02/12/1895) In.: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/1694445/pg-4-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-02-12-1895/pdfView>.

3 Cf.: Otávio Sá Leitão. Padre Aristides (site). In.: <http://otaviosaleitao.tripod.com/id28.html>.

4 Cf.: Oeste Potiguar. Religião em Antônio Martins [27/10/2010]. In.: <http://oestepotiguar-antoniomartins.blogspot.com.br/>.

5 Cf.: Jotamaria. Padre que já passaram pela Paróquia de Apodi/RN (Paróquia de São João Batista e Nossa Senhora da Conceição) – 1763 a 2013 – (15/03/2013] - In.: < http://jotamaria-religiaoemapodi.blogspot.com.br/2013/03/padres-que-ja-passaram-pela-paroquia-de.html>.

6 Cf.: São Francisco de Assis fundou a Ordem Franciscana, que em 29 de maio de 1517, o papa Leão X, com a bula “Ite vos”, separou a Ordem Franciscana em Frades Menores: Conventuais e Observantes (Franciscanos Capuchinhos). Surgiram reformistas, divididos pelo dilema - viver a experiência fundante de Francisco ou - adequar a Ordem aos tempos. In.:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_dos_Frades_Menores_Capuchinhos>.

7 Cf.: Antonio Cipriano José María y Francisco de Santa Ana Machado Ruiz, conhecido como Antonio Machado foi um poeta espanhol, pertencente ao Modernismo. In.: <https://www.escritas.org/pt/l/antonio-machado>.

8 Cf.: Melquisedeque - Wikipedia. In.: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Melquisedeque >.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, José Américo. Antes que me esqueça. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

ALMEIDA, Lapemberg Medeiros; LELIS, Waldemar de Carvalho; NASCIMENTO, Jaime Gonçalves. (Orgs.) Anuário Informativo do Município de Santa Rita. João Pessoa: Typ. A Imprensa, 1937.

ALMEIDA, Lapemberg Medeiros de. Santa Rita, antes e depois de 1889. Apontamentos para a História do Município. Santa Rita/PB, Manuscritos,1948.

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2000-2003. (v. 1-8).

ASSUMPÇÃO, T. Lino de. História Geral dos Jesuítas. 2.ed. Lisboa: Moraes Editores, 1982.

DUBY, Georges. A história continua. Tradução Clovis Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora da UFRJ, 1993.

FIGUEIREDO, Francisco Severiano de. A Diocese da Paraíba do Norte. Parayba do Norte:Typ. da Imprensa, 1906.

GAZETA DA PARAHYBA – Edição: 21 de Março de 1890.[ Decreto nº 10, de 19 de Março de 1890 – Emancipação política de Santa Rita - PB. In <http://memoria.bn.br/pdf/808865/per808865_1890_00543.pdf>.

HENRIQUES, Dom Adauto Aurélio de Miranda. Segunda Carta Pastoral – Sobre o sacerdócio e o seminário diocesano. Paraíba do Norte – Typ.:LITH. Encadernação e pauta de Jayme Seixas & Cia. 1897.

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PINTO, Irineu Ferreira. Datas e Notas para a História da Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, Vol.1, 1977.

SANTANA, Martha M. Falcão de Carvalho e Morais. Nordeste, açúcar e poder: um estudo da oligarquia açucareira na Paraíba 1920-1962. João Pessoa:CNPq/UFPb, 1990.

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(*)

BIOGRAFIA DO AUTOR

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

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REsp-1282265 PB (2011/0225111-0)

http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/detalhe.asp?numreg=201102251110&pv=010000000000&tp=51

https://ww2.stj.jus.br/websecstj/decisoesmonocraticas/decisao.asp?registro=201102251110&dt_publicacao=7/5/2013

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http://www.academialetrasbrasil.org.br/albparaiba.htm

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FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 11/10/2014
Reeditado em 21/07/2018
Código do texto: T4995724
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