Biografia de ANA MARIA EVARISTO CRUZ

Ana Maria Evaristo Cruz representa a memória viva da ASIBAMA e certamente é uma das profissionais com atuação mais longa e destacada em favor da proteção do meio ambiente nacional!!!

Ana Maria nasceu em 8 de abril de 1957, na cidade de Lima Campos, região de florestas do estado do Maranhão, filha de Antônio Lucas da Cruz e Engracia Evaristo Cruz. Teve a graça de crescer em uma família bastante grande, com 21 filhos. Por parte de mãe e pai, Ana Maria teve seis irmãos e irmãs: Francisco, Maria, Dalvacir, Doracir, Antônia e Hilson. Com o falecimento de sua mãe, seu pai se casou novamente por duas vezes, tendo outros 14 filhos.

Seu pai era proprietário de uma fazenda, aonde criava gado e se mantinha de forma sustentável. Praticamente tudo que precisavam era produzido ali mesmo. O único item que necessitavam adquirir era querosene para as máquinas e motores. Além dos pastos, cercados e depósitos, na fazenda havia um curtume e diversos tanques para preparar o couro dos animais (bois e carneiros), que posteriormente se transformavam em calçados na sapataria própria da família. Essa produção artesanal atendia aos moradores da vizinhança, além de servir para abastecer o comércio de outras localidades.

Seus irmãos mais velhos se mudaram para Brasília, e logo que ela completou 17 anos seguiu o mesmo destino vindo para estudar e trabalhar. Inicialmente, morou na Quadra 312 da Asa Norte, depois se mudou para a Quadra 203, e atualmente está residindo na 402, bem perto do IBAMA.

Alfabetizou-se na Escola Nilton Belo e completou o ginásio na Escola Desembargador Sarney de Araújo Costa, que tinha esse nome em homenagem ao pai do ex-presidente da República José Sarney. Em Brasília, ela prosseguiu seus estudos concluindo o segundo grau no GISNO (Ginásio do Setor Noroeste).

Nessa época, a juventude brasiliense se divertia nas praças e bailes assistindo shows de artistas, bandas e grupos musicais, tais como: “trio Clodo, Clésio e Climério”, DomDemais, Plebe Rude, Legião Urbana, Cássia Eller, Osvaldo Montenegro, Zélia Duncan, Zé Lito Passos etc. As letras das músicas e os festivais, em geral, eram mal vistos pelo governo militar que proibia as manifestações e aglomerações dos jovens e estudantes.

Além de sair com os amigos, Ana Maria gostava muito de estudar e sempre se destaca pela sua inteligência e facilidade para aprender coisas novas. Por isso, ela passou fácil em vários Vestibulares. A primeira aprovação foi no Vestibular da UnB quando ainda estava no meio do terceiro ano, de modo que não pode começar o curso. Em seguida passou para Licenciatura em Geografia no período noturno no CEUB e o mesmo tempo para bacharelado em Geografia na UnB. Alguns semestres depois, ela começou a faculdade de Ciências Políticas na UnB, adquirindo interesse ainda maior pelas questões sociais e políticas.

Como acadêmica desses três cursos, Ana Maria atuou em várias frentes. Ela e seus colegas se filiaram na Associação de Geógrafos do Brasil (AGB), além de participar do “Movimento Fala Professor” pelo reconhecimento profissional dos geógrafos. Naquela época, muitas profissões novas levavam certo tempo para serem reconhecidas pelos governos e entidades de classe, de modo que os estudantes tinham que se mobilizar com seus professores para cobrar tal reconhecimento.

Ana Maria se preocupava com seu futuro profissional, mas também tinha enorme interesse por questões de ordem social e política. Ela ingressou na Universidade justamente nessa fase de fortalecimento do movimento estudantil como foco de mobilização social.

Logo após o golpe militar, foi aprovada a Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 1964, que criou o Diretório Acadêmico (D.A.), em cada estabelecimento de ensino superior e o Diretório Central de Estudantes (D.C.E.), que ficaram subordinados à indicação dos Reitores de acordo com interesse dos Generais.

O movimento estudantil da UnB e de outras instituições particulares de Brasília tinham bastante força e unidade. Eles se organizavam para reivindicações, protestos e manifestações, influenciando significativamente os rumos da política nacional.

Ana Maria e seus amigos protestavam pelo DCEs-Livres e pela volta dos Centros Acadêmicos (C.A.) nos moldes anteriores, com mais liberdade para os estudantes e professores. Queriam a legalização do Partido Comunista, declarado ilegal pelos militares. Também defendiam a anistia ampla, geral e irrestrita para os brasileiros exilados em outros países.

Nessa época, ela fazia parte de um grupo de universitários que militava contra o “Projeto Jari na Amazônia”.

O Projeto Jari havia sido idealizado em 1967 por um bilionário americano, Daniel Keith Ludwig, que planejou a construção de uma gigantesca fábrica para produção de celulose e outros produtos numa imensa área de 2 milhões e 500 mil hectares na divisa dos estados do Pará e Amapá. A fábrica foi construída no Japão e, em 1978, transportada ao Brasil em balsas numa viagem que durou cerca de dois meses e foi amplamente noticiada pelas mídias nacional e internacional. Por todo país, os universitários protestavam pedindo “Fora Jari”, por acreditarem que aquele projeto megalomaníaco iria causar a destruição de nossa maior floresta tropical.

Naquela época, os meios de comunicações eram bem restritos. O rádio, as revistas e jornais impressos eram as principais fontes de informação. Mesmo nas universidades as bibliotecas não eram tão grandes e diversificadas, o que exigia dos professores e alunos a terem que se deslocar para visitar instituições e conversar pessoalmente com representantes de entidades no intuito de esclarecer questões e aprofundar seus conhecimentos. Os estudantes da UnB queriam saber mais sobre o polêmico “Projeto Jari”.

Por essa razão, em 1978, Ana Maria e diversos amigos foram ao Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para ouvir uma palestra do Dr. Paulo Nogueira Neto - renomado pesquisador da USP e também gestor da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), que a época tinha status de Ministério. Os estudantes estavam naquele evento para protestar contra o Secretário, acreditando que ele estivesse apoiando a destruição da floresta. Entretanto, ao final da belíssima explanação, Dr. Paulo Nogueira não só conquistou a simpatia dos estudantes, como também deixou as portas abertas da SEMA para quem quisesse estagiar ou trabalhar.

A partir dessa palestra uma nova etapa surgiu na vida de Ana Maria!!! Como geógrafa ela queria ver sua profissão reconhecida; como Cientista Política lutava pela democracia e liberdade política. Contudo, foi a partir de seu interesse pelo “Projeto Jari na Amazônia” que ela descobriu uma causa maior que extrapola o interesse de uma pessoa, categoria profissional ou simples questão de cidadania. Foi em defesa do meio ambiente que Ana Maria descobriu a mais importante motivação de sua vida estudantil, e que ela carrega até hoje!!!

Em 1979, ela passou num concurso do Itamaraty, mas a pedido do Dr. Paulo Nogueira Neto foi cedida para compor a equipe da SEMA, atuando ao lado de diversos profissionais (Dona Zélia, Regina Gualda, Fantilde, Marília Marreco, Izabella Teixeira, Moacir Bueno etc.),

Logo que chegou na SEMA, Ana Maria se envolveu em trabalhos de grande relevância para o ambientalismo nacional. Ela atuou contundentemente na formatação da Política Nacional do Meio Ambiente, aprovada pela Lei Federal nº 6938/1981.

Também foi responsável pela estruturação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – um modelo ímpar na gestão participativa e democrática na construção de políticas públicas.

Com a posse do presidente José Sarney, viu o nascimento do Ministério do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente, em 15 de março de 1985, através do Decreto nº 91.145. E, posteriormente teve seu prédio destruído por um incêndio em 12 de setembro de 1988.

Durante o processo da Constituinte, Ana Maria teve o privilégio de ver a atuação do Dr. Paulo Nogueira Neto que, juntamente com amplo apoio de diversas lideranças, conseguiu a inclusão de mais de 70 indicações da temática ambiental na nova Constituição federal.

Em fevereiro de 1989, surgiu o IBAMA a partir da fusão da SEMA com outros três órgãos federais: Superintendência da Borracha (SUDHEVEA), Superintendência da Pesca (SUDEPE) e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).

Em 14 de dezembro de 1989, Ana Maria foi uma das fundadoras ASIBAMA - Associação de Servidores do recém-criado IBAMA. Nessa assembleia geral de criação da ASIBAMA, os presentes escolheram a servidora Marisia Dias de Oliveira Nery para presidir a entidade por período de um ano até as eleições definitivas.

Assim, em 1990, Ana Maria Evaristo Cruz tornou-se a primeira presidente eleita da ASIBAMA, para mandato de dois anos. Durante sua gestão, organizou caravana com vários ônibus para levar os servidores de Brasília e outros estados para a ECO 92 – considerada a maior de todas as Conferências das Nações Unidas.

Em 1993, concluiu sua especialização no Departamento de Geoprocessamento da UnB, com um estudo da “APA do rio São Bartolomeu: trecho da sub-bacia do rio Paranoá”.

Em 1994, foi eleita como vice-presidente da ASIBAMA ao lado da Engenheira Florestal Lindalva Ferreira Cavalcanti. Assumiu a presidência assim que Lindalva se licenciou para acompanhar seu cônjuge numa viagem para cursas Doutorado nos Estados Unidos.

Em 1997, Ana Maria atuava na Diretoria de Gestão Estratégica (DIGET), quando foi responsável pelo “Projeto de reorganização institucional do IBAMA”, que retrata os resultados do esforço interativo de união de propostas e experiências realizadas durante o processo de reorganização institucional, incluindo desde aspectos que permearam este processo, ate conceitos e propostas para o funcionamento do órgão.

Em 2000, Ana Maria teve atuação fundamental ao lado de diversos companheiros (Jonas Moraes, Mário Pinto, Hugolino, Mariomir etc.) na luta por diversos benefícios, tais como: criação de Carreira específica para o IBAMA, melhoria de salários e realização de novos concursos.

Ela sempre procurou partilhar suas experiências e seus conhecimentos com os novos colegas que chegaram a partir dos concursos de 2002, 2005 e 2008. Há vários anos, é uma das mais conceituadas instrutoras de formação do IBAMA.

Em 19 de agosto de 2006, foi uma das fundadoras da ASIBAMA Nacional, que foi constituída para fortalecer as Associações presentes nos estados. Atualmente, Ana Maria ocupa a presidência da ASIBAMA Nacional, que a partir do VII Congresso, realizado em maio de 2014, mudou a denominação da entidade para ASCEMA Nacional.

Certamente que aqui se encontra apenas uma pequena parcela da trajetória dessa nobre ambientalista, pois sua atuação profissional extrapola em grande medida o que se vê normalmente no serviço público.

Da mesma forma seus atributos pessoais e de caráter são vastos. Inteligência, honradez, ousadia, sagacidade, disposição para lutas coletivas, carisma, liderança, são tantas as palavras boas associadas a ela que é fácil entender toda a popularidade e admiração que cercam sua vida.

Ana Maria Evaristo Cruz representa um baluarte da gênesis do movimento ambientalista brasileiro. Ela teve o privilégio de iniciar sua carreira com alguns dos pioneiros das políticas públicas em âmbito federal, e nunca deixou de lado seu primeiro amor.

Já se passaram 35 anos de seu despertar para as questões ambientais e até hoje Ana Maria apresenta o mesmo brilho nos olhos e a mesma disposição para lutar pela valorização do patrimônio ambiental brasileiro, o que é motivo de grande orgulho para nós que somos servidores do IBAMA e certamente para todos os brasileiros!!!

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Brasília – DF, Setembro de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 25/09/2014
Reeditado em 05/03/2016
Código do texto: T4975247
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