Mestre Didi
"Os Orixá do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representada pela Orixá Nanã, patrona da agricultura."
"Mestre Didi é um sacerdote-artista. Exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde ancestralidade e visão de mundo africanos se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma inspiração mítica, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal de caráter estético."
DEOSCÓREDES MAXIMILIANO DOS SANTOS
(95 anos)
Escritor, Artista Plástico e Sacerdote Africano
* Salvador, BA (02/12/1917)
+ Salvador, BA (06/10/2013) - SAGITÁRIO
Deoscóredes Maximiliano dos Santos foi um escritor, artista plástico, e sacerdote afro-brasileiro. Conhecido popularmente como Mestre Didi, é filho de Maria Bibiana do Espírito Santo e Arsenio dos Santos.
Família
Seu pai Arsenio dos Santos, pertencia à elite dos alfaiates da Bahia, mais tarde iria transferir-se para o Rio de Janeiro na época em que houve uma grande migração de baianos para a então capital do Brasil.
Sua mãe Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oyo e Ketu, importantes cidades do império Yoruba. Sua trisavó, Srª Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Ase Aira Intile, depois Ilê Iya Nassô. Sua esposa Juana Elbein dos Santos, é antropóloga e companheira em todas as suas viagens pelo exterior, aos países da África, Europa e Américas, de grande importância pelos intercâmbios e experiências adquiridas, e que contribuiram significativamente para os desdobramentos institucionais de luta de afirmação da tradição afro-brasileira e pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria. Sua filha Inaicyra Falcão dos Santos é cantora lírica, graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia, professora doutora, pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp.
Sacerdote
A igreja durante o período colonial e pós-colonial foi uma instituição de que a comunidade descendente de africanos inseriu em suas estratégias de luta pela alforria e re-agrupamento social. Didi foi batizado, fez primeira comunhão e foi coroinha. Mais tarde, já sacerdote da tradição afro-brasileira foi se dedicando inteiramente a ela afastando-se do catolicismo, embora respeitando-o como uma outra religião. Eugenia Ana dos Santos - Mãe Aninha, tratada por Didi como avó, foi quem o iniciou no culto aos orixás e lhe deu o título de Assogba, Supremo Sacerdote do Culto de Obaluaiyê.
Arsenio Ferreira dos Santos era sobrinho de Marcos Theodoro Pimentel, o Alapini, primeiro mestre de Didi no Culto aos Egungun, os ancestrais masculinos, tradição originária de Oyo, capital do império Yoruba.
Depois de Marcos Theodoro Pimentel, foi Arsenio Ferreira dos Santos, conhecido por Paizinho quem deu continuidade a iniciação de Didi, que se confirmou Ojé com o título de Korikowe Olokotun. A herança de tio Marcos Alapini se constitui sobretudo pelo culto ao Olori Egun, Baba Olukotun, o mais antigo ancestral que foi trazido da África na ocasião da viagem que fez com seu pai, Marcos O Velho.Paizinho, então Alagbá, o mais antigo da tradição aos Egungun recebeu esta herança que aproximou à do terreiro Ilê Agboulá na Ilha de Itaparica.
A herança de Marcos Alapini, para seu sobrinho Arsenio Alagba passou para Didi,Ojé Korikowe Olukotun. Mais tarde Didi recebeu o título de Alapini, o mais alto do culto aos Egungun, no Ilê Agboula e anos depois, em 1980 fundou o Ilê Asipaonde é cultuado o Baba Olukotun e demais Eguns desta tradição antiga.
Em setembro de 1970, não tendo no Brasil quem pudesse fazer sua confirmação de Balé Xangô, foi para Oyo e realiza a obrigação na cidade originária do culto à Xangô. A cerimônia foi realizada pelo Balé Sàngó e o Otun Balé do reino de Xangô de Oyo.
Mestre Didi não costumava falar sobre sua obra nem sobre si. Ele chegou a expor em Gana, Senegal, Inglaterra e França, além do Guggenheim, em Nova York. No Brasil, ganhou reconhecimento após a 23ª Bienal de São Paulo, em 1996, quando recebeu uma sala apenas para suas obras.
Artista
(Mestre Didi)
(Juana Elbein dos Santos)
Morte
Mestre Didi morreu em decorrência de um câncer de próstata. Ele foi enterrado no domingo, 06/10/2013, por volta das 17:00 hs, no Cemitério Jardim da Saudade, no centro da capital baiana.
Obra
- 1950 - Yorubá Tal Qual Se Fala, Tipografia Moderna, Bahia
1961 - Contos Negros da Bahia, Edições GRD, Rio de Janeiro
1962 - História de Um Terreiro Nagô, Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos
1963 - Contos de Nagô, Edições GRD, Rio de Janeiro
1966 - Porque Oxalá Usa Ekodidé, Ed. Cavaleiro da Lua
1976 - Contos Crioulos da Bahia, Ed. Vozes, Petrópolis
1981 - Contos de Mestre Didi, Ed. Codecri, Rio de Janeiro
1987 - Xangô, El Guerrero Conquistador Y Otros Cuentos de Bahia, SD. Ediciones Silva Diaz, Buenos Aires, Argentina
1987 - Contes Noirs de Bahia, tradução francesa de Lyne Stone, Ed. Karthale
1988 - História da Criação do Mundo, Olinda, PE
1988 - História de Um Terreiro Nagô, Editora Max Limonad
1997 - Ancestralidade Africana no Brasil, Mestre Didi: 80 Anos, organizado por Juana Elbein dos Santos, SECNEB, Salvador, Bahia, 1997, CD-ROM - Ancestralidade Africana no Brasil
Pluraridade Cultural e Educação
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Democracia e Diversidade Humana: Desafio Contemporâneo