LINDOLFO COLLOR
Na organização do Governo Provisório recusou o convite de Getúlio Vargas, para ocupar outra pasta ministerial, e afirmou que só aceitaria a do Trabalho, a ser fundada em cumprimento ao que fora anunciado pela Aliança Liberal. Em vista da tendência de Getúlio Vargas de retardar o cumprimento daquela promessa de campanha, Lindolfo Collor afirmou que, nesse caso, ficaria fora do governo. Um mês depois, instado por José Antônio Flores da Cunha e João Batista Luzardo, já nomeado chefe de polícia do Distrito Federal, Getúlio Vargas concordou com as ponderações que lhe faziam aqueles dois companheiros a respeito da inconveniência de permanecer Lindolfo Collor fora do governo, e afirmou: "Está bem. Vou fundar esse ministério para aquietar o alemão".
A elaboração da legislação social brasileira, a primeira na América do Sul, pode ser considerada, de acordo com o ex-reitor da PUC, Fernando Bastos Ávila, o maior avanço social no Brasil depois da abolição da escravatura. Para estruturá-la foi grande a luta de Lindolfo Collor. Teve que enfrentar os comunistas, que contavam com as injustiças sociais para levar o povo à revolta e seu partido ao poder, e teve que vencer a animosidade de alguns de seus companheiros revolucionários, sobretudo os "tenentes", membros do Clube 3 de Outubro, que não davam apoio ao seu trabalho. Já com as classes patronais, de onde mais naturalmente se poderia esperar uma oposição à legislação trabalhista, parece que o primeiro Ministro do Trabalho não enfrentou grandes dificuldades. O professor Joaquim Pimenta, ativista, líder operário em Pernambuco e um dos melhores colaboradores de Lindolfo Collor no Ministério do Trabalho, acentua esse aspecto realmente inesperado. Outro grande colaborador de Lindolfo foi Evaristo de Morais, primeiro consultor jurídico do Ministério do Trabalho, que deixaria esse cargo no mesmo dia da renúncia de Lindolfo, em 1932. Também foram seus fiéis e eficientes companheiros de jornada Agripino Nazaré, Carlos Cavaco, Heitor Monize Horácio Cartier, além do diplomata Heitor do Nascimento Silva que, já havendo prestado valiosos serviços junto à Organização Internacional do Trabalho em Genebra, foi cedido pelo Ministério de Relações Exteriores para auxiliar na formação do novo ministério.
A passagem de Lindolfo Collor pelo Ministério do Trabalho durou apenas 15 meses, de dezembro de 1930 a março de 1932, durante os quais redigiu toda a estrutura da nossa legislação social. Norteado por algumas das legislações trabalhistas europeias e, dentro de um esclarecido ecumenismo, pela Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII. Lindolfo Collor elaborou 12 decretos-leis acompanhados de Exposições de Motivos que apontam a sua oportunidade em face da evolução do pensamento de proteção ao operariado em todos os países mais adiantados do mundo.
Oposição a Getúlio Vargas
Lindolfo Collor permaneceu no Ministério apenas 15 meses. Alinhado entre os que reivindicavam a volta do país a um regime legal, idéia que não contava com as simpatias do ditador nem dos "tenentes", deixou o Governo Provisório a 3 de março de 1932, dia imediato ao "empastelamento" do Diário Carioca em revide à publicação de um artigo de J. E. de Macedo Soares apontando a necessidade da convocação de uma Constituinte. Diretamente envolvidos nesse ato de violência contra a liberdade de opinião, deixaram o governo no mesmo dia Joaquim Maurício Cardoso, ministro da Justiça, e o chefe de Polícia do Distrito Federal, João Batista Luzardo, acompanhados também por João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do Brasil. Viajaram para Porto Alegre na madrugada de 4 de março de 1932, no mesmo momento em que era levada ao Palácio Rio Negro, em Petrópolis, pelo professor Joaquim Pimenta, a carta de demissão do ministro do Trabalho.
Daí em diante, e contando com o apoio de José Antônio Flores da Cunha, governador do Rio Grande, puseram-se todos a preparar ativamente um movimento de reação à tendência ditatorial do Governo Provisório e passaram a articular-se com os dirigentes paulistas, desgostosos com o tratamento desairoso que a ditadura dispensava ao seu estado.
A 9 de julho de 1932 irrompeu em Mato Grosso, sob a chefia do general Bertoldo Klinger, o movimento revolucionário que se alastrou rapidamente até São Paulo. A Frente Única do Rio Grande do Sul, constituída pela aliança de seus dois tradicionais partidos políticos, o Republicano e o Libertador, e representada pelo interventor José Antônio Flores da Cunha, estava comprometida com a Frente Única Paulista a acompanhar São Paulo nessa rebelião.
Inesperadamente, porém, pouco depois de iniciada a revolução, o interventor José Antônio Flores da Cunha colocou o Rio Grande ao lado do governo ditatorial, o que decidiu a sorte do movimento armado em favor do governo central. A explicação para esse gesto imprevisto, soube-se mais tarde, teria sido um diálogo entre Getúlio Dorneles Vargas e José Antônio Flores da Cunha, a esse tempo ainda apoiando a causa de São Paulo, que achou por bem alertá-lo para as fortes probabilidades de vitória do Movimento Constitucionalista. De acordo com o próprio José Antônio Flores da Cunha e com Daniel Krieger, Getúlio Dorneles Vargas, teria respondido com ar severo e olhar distante: "As tropas vitoriosas não me encontrarão aqui. Já decidi o que fazer....". Diante dessa perspectiva sombria o temperamento impetuoso e passional de José Antônio Flores da Cunha ditou-lhe, certamente, a brusca decisão de colocar as forças da brigada gaúcha ao lado do governo federal.
Burlando a vigilância policial, que logo foi estabelecida em torno dos conspiradores, deixou Lindolfo Collor seu apartamento na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, e foi reunir-se a um dos grupos sublevados, a coluna de "provisórios"comandada por Marcial Terra em Tupaciretã. Durante cerca de 40 dias com ela percorreu vários municípios rio-grandenses, dormindo muitas vezes ao relento, com a sela do cavalo por travesseiro. Finalmente, em setembro, cercada a Coluna Marcial Terra por tropas legalistas, foi este obrigado a capitular. Um dos oficiais da força vencedora acompanhou Lindolfo Collor até à fronteira, que atravessou em Paso de Los Libres, levando consigo apenas a roupa do corpo.
Primeiro Exílio
Reunido a vários companheiros em Rivera, e depois em Buenos Aires, escreveu em 15 de outubro de 1932, o manifesto ao Rio Grande do Sul, a São Paulo e à Nação, assinado também por Raul Pilla, João Batista Luzardo e João Neves da Fontoura. Relata o processo da conspiração anterior à Revolução Constitucionalista de São Paulo e atribui a responsabilidade da derrota ao interventor do Rio Grande do Sul. A essa altura Lindolfo Collor já havia enviado uma carta ao amigo José Antônio Flores da Cunha retirando o convite que lhe fizera para ser padrinho de seu terceiro e último filho, Lindolfo Leopoldo Collor.
No verão de 1933 esteve Lindolfo Collor na frente de operações da Guerra do Chaco, no Paraguai, e escreveu a respeito uma série de artigos publicados no Rio de Janeiro e em La Prensa, de Buenos Aires.
Em 1934, representando a companhia Sul América Seguros, da qual, havia anos, era um dos diretores ao lado de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, passou seis meses em Lima, no Peru, a fim de tratar da venda da carteira daquela companhia a uma seguradora de Quito, Equador.
Retorno ao Brasil
Em 1934, depois de decretada a anistia pelo governo Vargas,Lindolfo Collor regressou ao Brasil e foi candidato gaúcho à Assembleia Constituinte, sem sucesso. Voltou depois a residir no Rio de Janeiro onde, durante todo o ano de 1935, tornou a ocupar seu cargo na direção no Grupo Sul América.
Afastado do Partido Republicano Rio-Grandense desde a Revolução Constitucionalista de 1932, José Antônio Flores da Cunha fundou no seu estado o Partido Republicano Liberal (PRL), enquanto a Frente Única (PRR e PL) faziam oposição ao governo estadual e ao governo central, já que a Assembleia Constituinte, um dia antes de promulgar a Nova Constituição, de forma indireta e irregular elegera Getúlio Vargas como presidente da República.
Dentro desse quadro político difícil, Lindolfo Collor fez oposição ao governo Vargas, apesar de haver tentativas de aproximação. Entre elas uma conversa realizada numa noite chuvosa no Palácio Rio Negro em Petrópolis.
Mais tarde José Antônio Flores da Cunha buscou aproximar-se da Frente Única Rio-Grandense, para unir as forças políticas em seu Estado, diminuindo as manobras personalistas de Getúlio Vargas. Buscando que o Rio Grande do Sul tivesse mais influência no âmbito nacional, Lindolfo Collor concordou com uma fórmula alta de pacificação da política estadual, que foi sugerida pelo jurista José Maria dos Santos.
Em janeiro de 1936, foi assinado um acordo entre o Partido Libertador, chefiado por Raul Pilla, o Partido Republicano Rio-Grandense, ainda sob a orientação de Borges de Medeiros, e o situacionismo estadual, representado pelo Partido Republicano Liberal. Essa composição política, chamada Modus Vivendi, teve curta duração, mas permitiu que fizessem parte do governo do Rio Grande, representando seus partidos, Lindolfo Collor, na Secretaria de Finanças, e Raul Pilla, na Secretaria da Agricultura.
Em janeiro de 1936, foi assinado um acordo entre o Partido Libertador, chefiado por Raul Pilla, o Partido Republicano Rio-Grandense, ainda sob a orientação de Borges de Medeiros, e o situacionismo estadual, representado pelo Partido Republicano Liberal. Essa composição política, chamada Modus Vivendi, teve curta duração, mas permitiu que fizessem parte do governo do Rio Grande, representando seus partidos, Lindolfo Collor, na Secretaria de Finanças, e Raul Pilla, na Secretaria da Agricultura.
Porém dentro do PRR um clima de tensão motivou o rompimento do Modus Vivendi em 14 de novembro. O PRR voltou a apoiar o governo central, o PL, o PRC e o PRL, permaneceram fiéis na oposição e na aliança com os paulistas, a quem se sentia Lindolfo Collor grande devedor, depois da frustração de 1932.
Com aproximação da sucessão presidencial de 1938, o Partido Libertador e o Partido Castilhista integraram a União Democrática Brasileira, apoiando a candidatura do governador de São Paulo, Armando de Sales Oliveira, à presidência da República. O PRR, por outro lado, se filiou à corrente situacionista federal, apoiando o nome do ministro da Agricultura, José Américo de Almeida. Porém foram todos surpreendidos pelo Golpe de Estado em 10 de novembro de 1937, que instalou o Estado Novo no Brasil, suprimindo novamente o Congresso Nacional, a Constituição, e as eleições já próximas.
Segundo Exílio
Ao mesmo tempo em que saíam para o exílio, por Santos e Salvador, os líderes udenistas Armando de Sales Oliveira e Otávio Mangabeira, embarcou Lindolfo Collor no Rio de Janeiro, em novembro de 1938, com destino à Alemanha, onde alguns amigos tentaram interessá-lo em transações comerciais. Não era seu destino, porém, realizar-se no terreno dos negócios. Bom conhecedor da língua alemã, usada na zona colonial em que nasceu, Lindolfo Collor aproveitou sua estada em Berlim para acompanhar os preparativos de guerra do Führer, então em plena efervescência, e procurar penetrar as razões do fenômeno hitlerista. Enviou suas observações em uma série de artigos para o Diário de Notícias do Rio de Janeiro, cujo diretor, Orlando Dantas, era seu grande amigo, como bom amigo seu também era Assis Chateaubriand, sócio majoritário da sociedade anônima O Jornal, de cuja diretoria Lindolfo Collor fazia parte ao lado do mesmo Chateaubriand, de Gabriel de Andrade e de Rodrigo de Mello Franco.
Mas o famoso D.I.P. estava atento para impedir qualquer pronunciamento contrário às ditaduras europeias, com quem Getúlio Vargas estava em boas relações. Assim, alguns dos artigos mais condenatórios do totalitarismo nazista não puderam sair a público, dada a crescente aproximação entre o governo brasileiro e o eixo Roma-Berlim, o que permitiu à Embaixada Alemã no Rio de Janeiro fazer sentir ao Ministério das Relações Exteriores seu desagrado diante das publicações de Lindolfo Collor contrárias ao regime nazista.
Mas o famoso D.I.P. estava atento para impedir qualquer pronunciamento contrário às ditaduras europeias, com quem Getúlio Vargas estava em boas relações. Assim, alguns dos artigos mais condenatórios do totalitarismo nazista não puderam sair a público, dada a crescente aproximação entre o governo brasileiro e o eixo Roma-Berlim, o que permitiu à Embaixada Alemã no Rio de Janeiro fazer sentir ao Ministério das Relações Exteriores seu desagrado diante das publicações de Lindolfo Collor contrárias ao regime nazista.
Em janeiro de 1939 transferiu-se Lindolfo Collor da Alemanha para Paris, onde o foi encontrar sua família. Até à deflagração da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1939, enviou de Paris para o Diário de Notícias suas observações sobre o desenrolar dos acontecimentos europeus de pré-guerra. Mais tarde esses artigos foram reunidos em dois livros sob os títulos Europa (Emiel Editora, Rio, 1939) e Sinais dos Tempos (Epasa, Rio, 1942). Este último foi para as livrarias no dia do seu falecimento.
Quando a Alemanha invadiu a Polônia e se tornou provável a invasão da França,Lindolfo Collor transferiu-se com a família para o sul da França e depois para Portugal, onde estaria menos exposto, desde que o fato de haver escrito contra o regime hitlerista o colocara na lista negra da ditadura alemã, e informações a respeito das opiniões anti-nazistas de Lindolfo Collor, fornecidas pelo embaixador alemão no Rio de Janeiro, constavam de uma nota distribuída às repartições competentes pelo governo do Reich.
Depois de uma etapa de algumas semanas em Lisboa, para efetuar o casamento de sua filha mais velha, Leda, com o jornalista alagoano Arnon de Mello, Lindolfo Collor passou a residir em Baltar, pequena aldeia perto da cidade do Porto, na quinta onde lhe fora oferecida hospedagem por seu amigo, o comendador português Pereira Inácio, residente no Brasil.
A ele, aos Diários Associados, ao Diário de Notícias, à Sul América, durante os últimos dez anos de sua vida, em que esteve sempre no ostracismo, Lindolfo Collor deveu sua subsistência, pois sempre foi homem de poucos recursos, que vivia do seu trabalho. Nada tinha de seu, além de uma casa em São Leopoldo, que oferecera à sua mãe por volta de 1935, e um apartamento adquirido em 1937 para sua residência no Rio de Janeiro. Pouco antes do seu falecimento desfez-se desse imóvel a fim de comprar a "Chácara Nossa Senhora das Graças" de Ildefonso Simões Lopes, na Rua Indiana, no Cosme Velho, para onde pretendia mudar-se logo que nela pudesse fazer algumas adaptações.
Retorno ao Brasil e Falecimento
Por fim, meses depois do nascimento do seu primeiro neto no Rio de Janeiro, por interferência pessoal de João Batista Luzardo e de João Daudt de Oliveira, presidente da Associação Comercial e grande amigo tanto de Getúlio Dorneles Vargas como deLindolfo Collor, teve este autorização para voltar ao Brasil.
Em julho de 1942 concedeu uma entrevista a Francisco de Assis Barbosa, repórter de Diretrizes, semanário pertencente a Samuel Wainer, em que Lindolfo Collor definia seu repúdio a qualquer tipo de ditadura.
Publicada a entrevista, Lindolfo Collor é preso, libertado mas com a saúde debilitada, é atacado de Pneumonia. Apesar de atendido pelo renomado clinico Pedro da Cunha, veio a falecer no Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, onde estava hospedado desde que vendera seu apartamento para comprar a casa na rua Indiana. O velório se fez no salão nobre da Associação Brasileira de Imprensa, então sob a presidência de Herbert Moses.
Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.