PATRÍCIA REHDER GALVÃO
(52 anos)
Escritora e Jornalista
* São João da Boa Vista, SP (09/06/1910)
+ Santos, SP (12/12/1962) - GEMEOS
Conhecida pelo pseudônimo de Pagu, foi uma escritora e jornalista. Teve grande destaque no Movimento Modernista iniciado em 1922, embora não tivesse participado da Semana de Arte Moderna porque, na época, contava apenas com onze anos de idade.
Militante comunista, foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas.
Bem antes de virar Pagu, apelido que lhe foi dado pelo poeta Raul Bopp, Zazá, como era conhecida em família, já era uma mulher avançada para os padrões da época, pois cometia algumas extravagâncias como fumar na rua, usar blusas transparentes, manter os cabelos bem cortados e eriçados e dizer palavrões. Ela não queria saber o que pensavam dela, tinha muitos namorados e causava polêmica na sociedade. Esse comportamento não era nada compatível com sua origem familiar, porque provinha de uma tradicional família e muito conservadora.
Embora tenha se tornado musa dos modernistas, Pagu não participou da Semana de Arte Moderna. Tinha apenas 12 anos em 1922, quando a Semanase realizou. Entretanto, com 18 anos, mal completara o curso na Escola Normal da capital (São Paulo, 1928) se integra ao Movimento Antropofágico, de cunho modernista, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
O apelido Pagu surgiu de um erro do poeta modernista Raul Bopp, autor de Cobra Norato. Raul Bopp inventou este apelido, ao dedicar-lhe um poema, porque imaginou que seu nome fosse Patrícia Goulart e por isso fez uma brincadeira com as primeiras sílabas do nome.
Em 1930, um escândalo para a sociedade conservadora de então: Oswald de Andrade separa-se de Tarsila do Amaral e casa-se com Pagu. Especula-se que eles eram amantes desde a época que Oswald era casado. No mesmo ano, nasce Rudá de Andrade, segundo filho de Oswald e primeiro de Pagu. Os dois se tornam militantes do Partido Comunista.
Ao participar da organização de uma greve de estivadores em Santos, Pagu é presa pela polícia política de Getúlio Vargas. Era a primeira de uma série de 23 prisões, ao longo da vida.
Logo depois de ser solta, em (1933), partiu para uma viagem pelo mundo, deixando no Brasil o marido e o filho. No mesmo ano, publica o romance Parque Industrial, sob o pseudônimo de Mara Lobo.
Em 1935 é presa em Paris como comunista estrangeira, com identidade falsa, e é repatriada para o Brasil. Separa-se definitivamente de Oswald de Andrade, por conta de muitas brigas e ciúmes. Ela retoma sua atividade jornalística, mas é novamente presa e torturada pelas forças da ditadura, ficando na cadeia por cinco anos. Nesses cinco anos, seu filho é criado por Oswald.
Ao sair da prisão, em 1940, rompe com o Partido Comunista, passando a defender um socialismo de linha trotskista. Integra a redação de A Vanguarda Socialis tajunto com seu marido Benedito Geraldo Ferraz Gonçalves, o crítico de arte Mário Pedrosa, Hilcar Leite e Edmundo Moniz.
Da união com Geraldo Ferraz nasce seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 18 de junho de 1941. Passa a morar com os dois filhos e o marido. Oswald de Andrade visita Rudá e eles passam a se relacionar como amigos. Nessa mesma época viaja à China e obtém as primeiras sementes de soja que foram introduzidas no Brasil.
Em 1952 frequenta a Escola de Arte Dramática de São Paulo, levando seus espetáculos a Santos. Ligada ao teatro de vanguarda apresenta a sua tradução de A Cantora Careca de Ionesco. Traduziu e dirigiu Fando eLiz de Arrabal, numa montagem amadora onde estreava um jovem artista Plínio Marcos.
É conhecida como grande animadora cultural em Santos, onde passa a residir com marido e os dois filhos. Dedica-se em especial ao teatro, particularmente no incentivo a grupos amadores. Em 1945 lança novo romance, A Famosa Revista, escrito em parceria com o marido Geraldo Ferraz. Tenta, sem sucesso, uma vaga de deputada estadual nas eleições de 1950.
Ainda trabalhava como crítica de arte, quando foi acometida de um Câncer. Viaja a Paris para se submeter a uma cirurgia, sem resultados positivos. Decepcionada e desesperada por estar doente, Patrícia tenta suicídio, o que não se concretizou. Sobre o episódio, ela escreveu no panfleto Verdade e Liberdade: Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas.
Volta ao Brasil e morre em 12 de dezembro de 1962, em decorrência da doença, para total tristeza de marido e filhos.
Em 2004 a catadora de papel Selma Morgana Sarti, em Santos, encontrou no lixo uma grande quantidade de fotos e documentos da escritora e do jornalista Geraldo Ferraz, seu último companheiro. Estes fazem parte hoje do arquivo da Unicamp.
Em 2005, a cidade de São Paulo comemorou os 95 anos de nascimento de Pagucom uma vasta programação, que incluiu lançamento de livros, exposição de fotos, desenhos e textos da homenageada, apresentação de um espetáculo teatral sobre sua vida e inauguração de uma página na internet. No dia exato de seu nascimento, convidados compareceram com trajes de época a uma Festa Pagu, realizada no Museu da Imagem e do Som.
Outra faceta de Pagu é como desenhista e ilustradora. Participou da Revista de Antropofagia, publicada entre 1928 e 1929, entre outras. Recentemente foi publicado o livro Caderno de Croquis de Pagu, com uma coletânea de trabalhos da artista, bem como foi realizada uma exposição de alguns de seus desenhos na Galeria Hermitage.
Pagu publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz. Parque Industrialfoi publicado nos Estados Unidos em tradução de Kenneth David Jackson em 1994 pela Editora da University of Nebraska Press.
Escreveu também contos policiais, sob o pseudônimo King Shelter, publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, e depois reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998).
Em seu trabalho junto a grupos teatrais, revelou e traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz.
Representações na Cultura
Em 1988, a vida de Pagu foi contada no filme Eternamente Pagu (1987), no primeiro longa metragem dirigido por Norma Bengell, com Carla Camurati no papel-título, Antônio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther Góes no papel de Tarsila do Amaral.
Foi tema de dois documentários, um produzido por seu filho Rudá de Andrade e outro pelo cineasta Ivo Branco, com o título Eh, Pagu!, Eh!. Aparece como personagem do filme O Homem do Pau-Brasil.
Foi retratada como personagem na minissérie Um Só Coração (2004), interpretada por Miriam Freeland.
Há uma canção homônima, Pagu, composição de Rita Lee e Zélia Duncan. Já interpretada por Maria Rita Camargo Mariano.
A história de Pagu também chegou aos palcos do teatro. No ano do centenário de seu nascimento entrou em cartaz o espetáculo Dos Escombros de Pagu, baseado no livro homônimo assinado por Tereza Freire.