José do Patrocínio
JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO
(51 anos)
Farmaceutico, Jornalista, Escritor, Orador, Abolicionista e Ativista Político
* Campos dos Goytacazes, RJ (09/10/1853)
+ Rio de Janeiro, RJ (29/01/1905) - LIBRA
Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos Movimentos Abolicionistas e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formado por negros e ex-escravos para defender a Monarquia e o Regime Imperial.
Biografia
Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escrava de quinze anos, cedida ao serviço do Cônego por Dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região.
Embora sem reconhecer a paternidade, o religioso encaminhou o menino para a sua fazenda na Lagoa de Cima, onde José do Patrocínio passou a infância como liberto, porém convivendo com os escravos e com os rígidos castigos que lhes eram impostos.
Aos quatorze anos de idade, tendo completado a sua educação primária, pediu, e obteve do pai, autorização para ir para o Rio de Janeiro. Encontrou trabalho como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia (1868), empregando-se posteriormente na casa de saúde do doutor Batista Santos. Atraído pelo combate à doença, retomou, às próprias expensas, os estudos no externato de João Pedro de Aquino, prestando os exames preparatórios para o curso de Farmácia.
Aprovado, ingressou na Faculdade de Medicina como aluno de Farmácia, concluindo o curso em 1874. Nesse momento, desfazendo-se a república de estudantes com que convivia, Patrocínio viu-se na iminência de precisar alugar moradia, sem dispor de recursos para tal. Um amigo, antigo colega do externato de João Pedro de Aquino, João Rodrigues Pacheco Vilanova, convidou-o a morar no tradicional bairro de São Cristóvão, na casa da mãe, então casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, abastado proprietário de terras e imóveis.
Para que José do Patrocínio pudesse aceitar sem constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o capitão Sena propôs-lhe que, como pagamento, lecionaria aos seus filhos. Patrocínio aceitou e, desde então, passou também a frequentar o Clube Republicano que funcionava na residência, do qual faziam parte Quintino Bocaiuva, Lopes Trovão, Pardal Mallet e outros.
Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Maria Henriqueta, uma das filhas do militar, sendo também por ela correspondido. Quando informado do romance de ambos, o capitão Sena sentiu-se ofendido a princípio, porém vindo, após o matrimônio (1879), a auxiliar Patrocínio em diversas ocasiões.
Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Maria Henriqueta, uma das filhas do militar, sendo também por ela correspondido. Quando informado do romance de ambos, o capitão Sena sentiu-se ofendido a princípio, porém vindo, após o matrimônio (1879), a auxiliar Patrocínio em diversas ocasiões.
Nessa época, José do Patrocínio iniciou a carreira de jornalista em parceria com Dermeval da Fonseca, publicando o quinzenário satírico Os Ferrões, que circulou de 1 de junho a 15 de outubro de 1875, no total de dez números. Os dois colaboradores se assinavam com os pseudônimos Notus Ferrão (José do Patrocínio) e Eurus Ferrão (Dermeval da Fonseca).
Dois anos depois (1877), admitido na Gazeta de Notícias como redator, foi encarregado da coluna Semana Parlamentar, que assinava com o pseudônimo de Prudhome. Foi neste espaço que, em 1879, iniciou a campanha pela Abolição da Escravatura no Brasil. Em torno de si formou-se um grupo de jornalistas e deoradores, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da Gazeta da Tarde),Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Ubaldino do Amaral, Teodoro Fernandes Sampaio,Francisco de Paula Ney, todos da Associação Central Emancipadora. Por sua vez, José do Patrocínio começou a tomar parte nos trabalhos da associação.
Fundou, em 1880, juntamente com Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Com o falecimento de Ferreira de Meneses (1881), com recursos obtidos junto ao sogro, adquiriu a Gazeta da Tarde, assumindo-lhe a direção.
Em Maio de 1883, articulou a Confederação Abolicionista, congregando todos os clubes abolicionistas do país, cujo manifesto redigiu e assinou, juntamente com André Rebouças e Aristides Lobo. Nesta fase, José do Patrocínio não se limitou a escrever, também preparou e auxiliou a fuga de escravos e coordenou campanhas de angariação de fundos para adquirir alforrias, com a promoção de espetáculos ao vivo, comícios em teatros, manifestações em praça pública, etc.
Em 1882, a convite de Francisco de Paula Ney, José do Patrocínio visitou a província do Ceará, onde foi recebido em triunfo. Essa província seria pioneira no Brasil ao decretar a abolição já em 1884.
Em 1885, visitou sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, sendo também recebido em triunfo. De volta ao Rio de Janeiro, trouxe a mãe, idosa e doente, que viria a falecer no final desse mesmo ano. O sepultamento transformou-se em um ato político em favor da abolição, tendo comparecido personalidades como as do ministro Rodolfo Dantas, o jurista Ruy Barbosa e os futuros presidentes Campos Sales e Prudente de Morais.
No ano seguinte (1886), iniciou-se na política, sendo eleito Vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com votação maciça.
Em Setembro de 1887, abandonou a Gazeta da Tarde para fundar e dirigir um novo periódico: A Cidade do Rio. À frente deste periódico, intensificou a sua atuação política. Aqui, fizeram escola alguns dos melhores nomes do jornalismo brasileiro da época, reunidos e incentivados pelo próprio José do Patrocínio. Foi nele que Patrocínio saudou, após uma década de intensa militância, a 13 de maio de 1888, o advento da Abolição.
Obtida a vitória na campanha abolicionista, as atenções da opinião pública se voltaram para a campanha republicana. Por ironia do destino, o A Cidade do Rio e a própria figura de José do Patrocínio passam a ser identificados pela opinião pública como defensores da monarquia em crise. Nessa fase, Patrocínio, rotulado como um Isabelista, foi apontado como um dos mentores da chamada Guarda Negra, um grupo de ex-escravos que agia com violência contra os comícios republicanos.
Após a Proclamação da República (1889), entrou em conflito em 1892 com o governo do marechal Floriano Peixoto, pelo que foi detido e deportado para Cucuí, no alto Rio Negro, no estado do Amazonas.
Retornou discretamente ao Rio de Janeiro em 1893, mas com o Estado de Sítio ainda em vigor, a publicação do A Cidade do Rio continuou suspensa. Sem fonte de renda, José do Patrocínio foi residir no subúrbio de Inhaúma.
Nos anos seguintes, a sua participação política foi inexpressiva, concentrando-se a sua atenção no moderno invento da aviação. Iniciou a construção de um dirigível de 45 metros, o Santa Cruz, com o sonho de voar, jamais concluído. Numa homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lyrico Fluminense, quando discursava saudando o inventor, foi acometido de uma Hemoptise, sintoma da Tuberculose que o vitimou.
Faleceu pouco depois, aos 51 anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos o maior de todos os jornalistas da abolição.
Obras
1875 - Os Ferrões (Quinzenário Satírico)
1877 - Mota Coqueiro ou A Pena de Morte (Romance)
1879 - Os Retirantes (Romance)
1883 - Manifesto da Confederação Abolicionista
1884 - Pedro Espanhol (Romance)
1885 - Conferência Pública em sessão da Confederação Abolicionista
---- - Associação Central Emancipadora (8 boletins)
Pseudônimos
Em artigos nos periódicos da época, José do Patrocínio usou os pseudônimos de:
Justino Monteiro ("A Notícia", 1905)
"Notus Ferrão" ("Os Ferrões", 1875)
"Prudhome" ("A Gazeta de Notícias", "A Cidade do Rio")
Representações na cultura
José do Patrocínio já foi retratado como personagem na televisão, interpretado por Antonio Pitanga na novela Sangue do Meu Sangue (1969) e por Kadu Karneiro no remake Sangue do Meu Sangue (1995), Valter Santos na minissérie Abolição(1988) e Maurício Gonçalves na minissérie Chiquinha Gonzaga (1999).