WALDOMIRO FREITAS AUTRAN DOURADO
(86 anos)
Escritor
* Patos de Minas, MG (18/01/1926)
+ Rio de Janeiro, RJ (30/09/2012) - CAPRICORNIO
Waldomiro Freitas Autran Dourado, mais conhecido como Autran Dourado, foi um escritor brasileiro.
Filho de um juiz, passou sua infância em Monte Santo de Minas e São Sebastiãodo Paraíso, no estado natal, Minas Gerais. Aos 17 anos foi para Belo Horizonte, onde cursou direito, enquanto trabalhava como taquígrafo e jornalista.
Formou-se em 1949. Sua segunda obra publicada, "Sombra E Exílio", de 1950, ganhou o Prêmio Mário Sette do Jornal de Letras. Mudou-se em 1954 para o Rio de Janeiro, onde morou até sua morte, em 2012.
Foi secretário de imprensa da República, de 1958 a 1961, no governo Juscelino Kubitschek. Sua primeira obra a ser traduzida para outro idioma foi "A Barca Dos Homens", que havia sido considerado o melhor livro de 1961 pela União Brasileira de Escritores.
Diversas narrativas se passam na cidade imaginária de Duas Pontes, a maioria narradas pelo personagem João da Fonseca Ribeiro, formando um conjunto em que as gerações da família Honório Cota se sucedem, transitando entre os séculos do apogeu da mineração ouro até os dias de hoje. Outras estão ambientadas em cidades reais da Minas Gerais atual e de outras épocas. Uma exceção é "A Barca Dos Homens", ambientada numa ilha do sul do Brasil. Uma espécie de Comédia Humana que mostra a decadência das classes abastadas desde o século XVII.
Também publicou ensaios sobre teoria literária, onde expôs seu processo pessoalde produção, traço praticamente único entre os grandes escritores. Autran Dourado também já deixou um livro de memórias, "Gaiola Aberta", onde abordou seu trabalho no governo de Juscelino Kubitschek.
Ganhou vários prêmios literários, entre eles o Prémio Camões, em 2000. Seu romance mais célebre é "Ópera Dos Mortos", incluída na seleção de obras representativas da literatura universal, feita pela Unesco. Sua obra predileta é a novela "Uma Vida Em Segredo", adaptada posteriormente para o cinema. Outras obras importantes são "A Barca Dos Homens", "O Risco Do Bordado", "Os Sinos Da Agonia" e "As Imaginações Pecaminosas".
Estilo e Influências
Em suas obras, focaliza a vida no interior de Minas Gerais e utiliza amplamente expressões locais, mas explora não temáticas regionalistas, e sim os aspectos psicológicos da vida humana: a morte, a solidão, a incompreensão do outro, a loucura, o crime. Esses traços demonstram tanto a origem mineira do autor quanto a influência de James Joyce, Stendhal e Goethe. Além disso, frequentemente revela-se também influenciado pelo Barroco mineiro e espanhol, usando uma linguagem obsessivamente trabalhada e trazendo personagens que são arrastados por forças superiores rumo à destruição. O pensamento de filósofos como Platão,Aristóteles, Nietzsche e Schopenhauer também se manifesta nas obras de Autran Dourado.
Em entrevista, Autran Dourado certa vez declarou:
"Meus personagens se parecem muito comigo. Eu os conheço muito bem e sofro a angústia que eles sofrem. Não tenho nenhum prazer em escrever. Depois de pronta a obra, aí me dá uma certa satisfação, mas a mesma que dá quando se descarrega dos ombros um fardo pesado. [...] (Escrever é) também uma fatalidade. Você é destinado à literatura, e não a literatura a você. "
Autran Dourado aponta Godofredo Rangel, que conheceu quando tinha apenas 17 anos, como uma influência decisiva em sua carreira. Este escritor, após ler seu primeiro livro de contos, aconselhou-o a não publicá-lo e estudar um pouco mais os grandes mestres. Assim, Autran Dourado estréia somente quatro anos depois, com uma nova obra: "A Teia".
Outras características notáveis do texto de Autran Dourado são o emprego da metalinguagem, da sutil repetição das idéias e dos eventos importantes, da alternância de pessoa no discurso do narrador, da busca pela palavra exata (le mot juste, como apregoava Gustave Flaubert), do emprego de estruturas e conceitos herdados da Grécia clássica (Homero, Hesíodo, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes), da alternância de tempos verbais num mesmo parágrafo, da preocupação com detalhes estruturais como, por exemplo, o tamanho dos capítulos, e do uso de técnicas literárias como o monólogo interior, o fluxo de consciência e a narrativa em blocos. Também empregava costumeiramente técnicas gerais da literatura modernista, como os flashbacks e os flashforwards.
Segundo Autran Dourado, em "Breve Manual De Estilo E Romance", o escritor deve trabalhar como um artesão, buscar a simplicidade de forma que a leitura seja fácil e fluida, sem preocupar-se com a crítica ou com a vendagem de seus livros, além de ler, pelo menos uma vez ao ano, algum dos clássicos de Machado de Assis. Antes de escrever alguma coisa, a leitura de um poema:
"Ser simples é mais difícil das tarefas [...] Não pense em venda, vender livros é função de editores e livreiros, não sua [...] Todos os dias, antes de começar a escrever, lia um poema de qualquer grande poeta da minha língua. Em geral Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Mendes e João Cabral de Melo Neto que são os meus poetas preferidos."
Em "O Meu Mestre Imaginário" e em "Um Artista Aprendiz", destacam-se os ensinamentos de Flaubert: a flexibilidade da regra gramatical, a importância de estruturar-se o romance antes de começá-lo, e a necessidade de presença do autor, invisível como Deus, na sua obra.
Morte
O escritor mineiro Autran Dourado, morreu aos 86 anos, por volta das 7:30 hs de domingo 30/09/2012, em sua casa, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.
Autran Dourado havia ficado internado por cerca de cinco meses no Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, para tratamento de problemas respiratórios, segundo a família. Teve alta há dois meses e, desde então, estava em casa.
Segundo familiares, ele sofria de problemas respiratórios crônicos e teve uma hemorragia estomacal pela manhã.
O corpo do escritor foi velado em capela do Cemitério São João Batista, também em Botafogo, e enterrado no local pouco depois das 16:00 hs.
O corpo do escritor foi velado em capela do Cemitério São João Batista, também em Botafogo, e enterrado no local pouco depois das 16:00 hs.
Autran Dourado deixou a mulher, Lúcia Campos, com quem foi casado por mais de 60 anos, quatro filhos, dez netos e dois bisnetos.
Romances
- 1947 - A Teia
1950 - Sombra E Exílio (Prêmio Mário Sette)
1952 - Tempo De Amar (Prêmio Cidade de Belo Horizonte)
1961 - A Barca Dos Homens (Prêmio Fernando Chinaglia)
1964 - Uma Vida Em Segredo
1967 - Ópera Dos Mortos (Listado na Coleção de Obras Representativas da UNESCO)
1970 - O Risco Do Bordado (Prêmio Pen-Club do Brasil)
1974 - Os Sinos Da Agonia (Prêmio Paula Britto)
1976 - Novelário De Donga Novaes
1978 - Armas & Corações
1981 - As Imaginações Pecaminosas (Prêmio Goethe de Literatura do Brasil e Prêmio Jabuti)
1984 - A Serviço Del-Rei
1985 - Lucas Procópio
1992 - Um Cavalheiro De Antigamente
1994 - Ópera Dos Fantoches
1997 - Confissões De Narciso
2003 - Monte Da Alegria
Ensaios
- 1957 - A Glória Do Oficio. Nove Histórias Em Grupo De Três
1973 - Uma Poética De Romance
1976 - Uma Poética De Romance: Matéria De Carpintaria
1982 - O Meu Mestre Imaginário
2000 - Um Artista Aprendiz
2003 - Breve Manual De Estilo E Romance
Histórias Curtas
- 1955 - Três Histórias Na Praia
1957 - Nove Histórias Em Grupos De Três (Prêmio Artur Azevedo)
1978 - Solidão Solitude
1980 - Novelas De Aprendizado
1987 - Violetas E Caracóis
2001 - Melhores Contos
2006 - O Senhor Das Horas
Memórias
- 2000 - Gaiola Aberta
Artigos
- 1985 - Símbolo Literário E Símbolo Psicológico: O Mito Ordenador (Revista do Brasil, 4 126-129)
Principais Prêmios Literários
- 1981 - Prêmio Goethe de Literatura do Brasil (Não confundir com o Prêmio Goethe alemão)
1982 - Prêmio Jabuti (Categoria Contos/crônicas/novelas)
2000 - Prémio Camões
2008 - Prêmio Machado de Assis