João Goulart
João Goulart (Estados Unidos, 1962)
João Goulart nasceu na Estância de Yguariaçá, no distrito (hoje município) de Itacurubi, em São Borja, no Rio Grande do Sul, em 01/03/1919. Seus pais eram Vicente Rodrigues Goulart, um estancieiro e coronel da Guarda Nacional que havia lutado a favor de Borges de Medeiros na Revolução de 1923, e Vicentina Marques Goulart, uma dona-de-casa.
João Goulart e Leonel Brizola
Vicente morreu em 1943, deixando ao filho mais velho a responsabilidade de cuidar de suas propriedades rurais.Jango logo se tornou um dos estancieiros mais influentes da região. Após a renúncia de Getúlio Vargas e seu retorno a São Borja em outubro de 1945, Jango já era um homem rico antes dos 30 anos de idade. Ele não precisava da política para subir na vida, mas os frequentes encontros com Getúlio Vargas, amigo íntimo de seu pai, influenciaram-no a escolher a carreira política.
João Goulart e Kennedy
Em 1953, com o agravamento do impasse, Getúlio Vargas nomeia Jango o novo Ministro do Trabalho. A gestão Vargas estava numa profunda crise. Os trabalhadores, insatisfeitos com os salários baixos, promoviam greves, e a União Democrática Nacional (UDN) mobilizava um golpe de estado com a mídia, a classe média e as Forças Armadas. Assim que assumiu, Jango teve que responder às acusações de vários jornais, incluindo o New York Times, que o acusou de manipular o movimento sindical aos moldes do Peronismo.
João Goulart e Kennedy
Em 1955 foi eleito vice-presidente do Brasil, na chapa PTB/PSD. Na ocasião, obteve mais votos que o presidente eleito,Juscelino Kubitschek. Naquela época, as votações para presidente e vice eram separadas. No ano seguinte, casou-se com a jovem Maria Teresa Fontela Goulart, com quem veio a ter dois filhos:Denise e João Vicente.
JOÃO BELCHIOR MARQUES GOULART
(57 anos)
Presidente do Brasil
* São Borja, RS (01/03/1919)
+ Mercedes, Província de Corrientes, Argentina (06/12/1976) = PEIXES
Conhecido popularmente como Jango, foi um político brasileiro e o 24° presidente do Brasil, de 1961 a 1964. Antes disso, também foi vice-presidente, de 1956 a 1961, tendo sido eleito com mais votos que o próprio presidente, Juscelino Kubitschek.
A família de Goulart era de ascendência portuguesa, sendo ele filho de Vicente Goulart, estancieiro do Rio Grande do Sul que tinha grande influência na região, ajudando em sua entrada na vida política. Formou-se em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1939. Foi deposto pelo Golpe Militar de 1964, liderado pelo alto escalão do exército.
Infância e Adolescência
João Goulart (Estados Unidos, 1962)
João Goulart nasceu na Estância de Yguariaçá, no distrito (hoje município) de Itacurubi, em São Borja, no Rio Grande do Sul, em 01/03/1919. Seus pais eram Vicente Rodrigues Goulart, um estancieiro e coronel da Guarda Nacional que havia lutado a favor de Borges de Medeiros na Revolução de 1923, e Vicentina Marques Goulart, uma dona-de-casa.
A maioria das fontes indica seu ano de nascimento como sendo 1918, mas na verdade é 1919. Isso acontece por causa de uma segunda certidão de nascimento que seu pai mandou fazer, na qual foi acrescentado um ano na idade de Jango para que ele pudesse ingressar na Faculdade de Direito de Porto Alegre.
Seu avô materno, Belchior Rodrigues Goulart, descendia de imigrantes açorianos que chegaram no Rio Grande do Sul na segunda metade do século XVIII. No grupo dos primeiros açorianos a se estabelecerem em solo gaúcho, mais especificamente em Rio Grande, no ano de 1749, e no Porto de Viamão, em 1752, havia pelo menos três imigrantes que usavam o sobrenome de origem flamenga Govaert, que pode ter sido depois modificado para Goulart. Mas tanto os nomes Govaert ou Gouvaert, como Goulars, Goulard ou Goulart têm registro entre as famílias da Valônia e de Bruxelas, mas como duas famílias diferentes.
Quando Jango nasceu, a Estância de Yguariaçá era um ponto isolado no interior do município de São Borja. Sua mãe Vicentina, não teve, portanto, nenhuma assistência médica no momento do parto. Mas teve, entretanto, a importante ajuda de sua mãe, Maria Thomaz Vasquez Marques, que impediu a ocorrência de um infortúnio na família. De acordo com a irmã de Jango, Yolanda, "minha avó foi quem conseguiu reanimar o Janguinho que, ao nascer, já parecia estar morrendo".
Como a maioria dos descendentes de açorianos, Maria Thomaz era uma católica muito devota. Enquanto reanimava o neto, aquecendo-o junto ao corpo, ela rezava para São João Batista. Ela prometeu ao santo que se o recém-nascido sobrevivesse, receberia seu nome, e não teria seus cabelos cortados até os três anos de idade, quando, vestido de São João Batista, acompanharia a procissão de 24 de junho.
Jango era o mais velho de oito irmãos. Teve cinco irmãs – Eufrides, Maria,Yolanda, Cila e Neuza – e dois irmãos, ambos falecidos prematuramente.Rivadávia (1920) morreu seis meses após nascer, e Ivan (1925), a quem era profundamente ligado, morreu de Leucemia aos 33 anos de idade, em 1958, quando Jango já era vice-presidente da República.
Após passar a infância em Yguariaçá, Jango partiu para o município vizinho de Itaqui para estudar, como resultado da decisão de seu pai de formar uma parceria com Protásio Vargas, irmão de Getúlio Vargas, após arrendarem um pequeno frigorífico naquele município de um empresário inglês. Enquanto Vicente permaneceu à frente do negócio nos dois anos seguintes, Jango estudou no Colégio das Irmãs Teresianas, junto com suas irmãs. Apesar de ser um colégio misto durante o dia, apenas as garotas podiam passar a noite no internato. Então ele tinha que dormir na casa de amigos de seu pai. Foi em Itaqui que Jango apaixonou pelo futebol e desenvolveu gosto pela natação em um açude localizado no terreno do frigorífico.
Após retornar ao município de São Borja, com o fim de sua experiência como parceiro no frigorífico, Vicente decidiu matricular Jango no Ginásio Santana, escola pertencente a Irmãos Marista em Uruguaiana. Jango cursou as quatro primeiras séries no Internato Santana, mas, ao final de 1931, foi reprovado. Irritado com o fraco desempenho do filho naquela escola, Vicente decidiu mandá-lo estudar no Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Embora esta fosse sua primeira vez na capital do estado, Jango não teve nenhum problema de adaptação, já que foi morar numa pensão em companhia dos amigos Almir Palmeiro e Abadé dos Santos Ayub, este último de São Borja e muito ligado a ele.
Conhecedores das habilidades excepcionais de Jango nos jogos de futebol da escola, onde atuava na posição de lateral-direito, Almir e Abadé o convenceram a fazer um teste para o time infanto-juvenil do Sport Club Internacional. Jango conseguiu ser selecionado e passou a dividir os períodos de aula no Colégio Anchieta com os treinos e jogos do Internacional. Em 1932 foi campeão estadual na categoria infanto-juvenil. O centroavante da equipe juvenil, Salvador Arísio, relatou que Jango era "um guri excepcional, meio fechado e muito, muito bom". Apesar de ser originário de uma família rica, ele nunca usou a influência do pai para conseguir qualquer coisa dentro do clube, segundo Arísio.
Ainda em 1932, Jango completou a terceira série do então curso ginasial no Colégio Anchieta, com uma atuação um tanto irregular, o que se repetiria durante os estudos na Faculdade de Direito. De volta a Uruguaiana, Jango concluiu o ensino médio no Ginásio Santana.
Carreira Política
Mandado para Porto Alegre após concluir o ensino médio, Jango cursou a Faculdade de Direito, a fim de satisfazer as necessidades do pai, que desejava ver seu primogênito com um diploma de ensino superior. Lá, ele restabeleceu contato com os amigos de infância Abadé Ayube Salvador Arísio, ao mesmo tempo em que consolidou novas amizadesatravés de incursões na vida noturna da capital do estado. Foi durante este período de intensa boêmia que Jango contraiu uma doença venérea que paralisou seu joelho esquerdo quase por completo. Mesmo após caros tratamentos médicos, incluindo uma viagem para São Paulo,Jango perdeu a esperança de que andaria normalmente de novo. Por causa da paralisia do joelho, Jango se formou separadamente do resto de sua turma, em 1939. Ele nunca atuaria no ramo do Direito.
Logo em seguida, Jango voltou para São Borja. Entretanto, seu abatimento em razão do problema na perna era visível. Ele se afastou do resto da cidade e passou a viver recluso no interior do município, na Estância de Yguariaçá. Arrumou novos amigos entre os peões da estância. Mas o abatimento em razão do problema do joelho não durou muito. Jango logo voltou a frequentar a cidade, tendo assumido publicamente o problema na perna ao desfilar na Ala dos Rengos do bloco carnavalesco Comigo Ninguém Pode.
Começo no PTB
João Goulart e Leonel Brizola
Vicente morreu em 1943, deixando ao filho mais velho a responsabilidade de cuidar de suas propriedades rurais.Jango logo se tornou um dos estancieiros mais influentes da região. Após a renúncia de Getúlio Vargas e seu retorno a São Borja em outubro de 1945, Jango já era um homem rico antes dos 30 anos de idade. Ele não precisava da política para subir na vida, mas os frequentes encontros com Getúlio Vargas, amigo íntimo de seu pai, influenciaram-no a escolher a carreira política.
O primeiro convite que Jango recebeu para entrar em um partido político foi o de Protásio Vargas, responsável por organizar o Partido Social Democrático (PSD) em São Borja. Protásio percebeu que Jango poderia ter sucesso na carreira política, mas ele recusou o convite por intervenção de Getúlio Vargas. Alguns meses depois, entretanto, Jango aceitou o convite de Getúlio Vargas para entrar no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele foi o primeiro presidente do PTB local e se tornaria, mais tarde, presidente do PTB estadual e nacional.
Em 1947, Getúlio Vargas convenceu Jango a concorrer a um assento na Assembleia Legislativa. Ele foi eleito com 4.150 votos, se tornando o quinto candidato mais votado, a frente de seu cunhado Leonel Brizola (casado com sua irmã Neusa até a morte dela em 1993), outra estrela em ascensão do PTB.
Jango não era um membro ativo da Assembleia Legislativa, mas lutou em defesa de um subsídio ao mais pobres na compra de comida. Ele logo virou um confidente e protegido político de Getúlio Vargas, se tornando um dos membros do partido que mais insistiram para que ele concorresse nas eleições de 1950. Em 19 de abril de 1949, Jango lançou a candidatura presidencial de Getúlio numa festa que deu em comemoração ao aniversário do ex-presidente na Granja São Vicente, de propriedade de Jango.
Em 1950, Jango foi eleito para a Câmara dos Deputados com quase 40 mil votos, se tornando o segundo candidato mais votado do PTB no Rio Grande do Sul.
Jango assumiu o cargo de deputado federal em fevereiro de 1951, mas logo em seguida licenciou-se do mandato para exercer o cargo de Secretário de Estado de Interior e Justiça na gestão de Ernesto Dorneles, primo de Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul. Durante o período em que foi secretário, que durou até 24 de março de 1952, Jango se comprometeu com a reestruturação do sistema carcerário, com a intenção de melhorar as condições de vida dos presos. Mais tarde ele renunciou ao cargo a pedido de Getúlio Vargas, a fim de ajudar o presidente com um impasse político no Ministério do Trabalho, usando sua influência no movimento sindical.
Ministro do Trabalho
João Goulart e Kennedy
Em 1953, com o agravamento do impasse, Getúlio Vargas nomeia Jango o novo Ministro do Trabalho. A gestão Vargas estava numa profunda crise. Os trabalhadores, insatisfeitos com os salários baixos, promoviam greves, e a União Democrática Nacional (UDN) mobilizava um golpe de estado com a mídia, a classe média e as Forças Armadas. Assim que assumiu, Jango teve que responder às acusações de vários jornais, incluindo o New York Times, que o acusou de manipular o movimento sindical aos moldes do Peronismo.
Como Ministro do Trabalho, ele convocou o primeiro Congresso Brasileiro de Previdência Social. Assinou uma série de decretos em favor da previdência, tais como o financiamento de casas, a regulação de empréstimos pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB) e o reconhecimento dos funcionários do Conselho Fiscal do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários.
Em janeiro de 1954, Jango começou a estudar um aumento no salário mínimo, enfrentando dois tipos de pressão: a mobilização dos trabalhadores nas grandes cidades a favor de um reajuste de 100% e a rejeição dos empresários à revisão do salário desde o governo de Eurico Gaspar Dutra, que contribuiria para o empobrecimento de vários segmentos da sociedade brasileira. As entidades empresariais concordavam com um aumento de 42% no mínimo, uma medida que, segundo elas, igualaria os custos de vida aos de 1951. No Dia do Trabalhador,Getúlio Vargas assinou o decreto do novo salário mínimo, aumentado em 100%, como exigia a classe trabalhadora.
Jango foi forçado a renunciar ao cargo em 23 de fevereiro de 1954, após conceder o aumento do mínimo, que causou forte reação entre empresários e imprensa. Presidente nacional do PTB, tornou-se o principal nome trabalhista do país, após o suicídio de Getúlio.
Vice-Presidente
João Goulart e Kennedy
Em 1955 foi eleito vice-presidente do Brasil, na chapa PTB/PSD. Na ocasião, obteve mais votos que o presidente eleito,Juscelino Kubitschek. Naquela época, as votações para presidente e vice eram separadas. No ano seguinte, casou-se com a jovem Maria Teresa Fontela Goulart, com quem veio a ter dois filhos:Denise e João Vicente.
Na eleição de 1960, foi novamente eleito vice-presidente, concorrendo pela chapa de oposição ao candidato Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão (PDC) e apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), que venceu o pleito.
Em 25 de agosto de 1961, enquanto João Goulart realizava uma missão diplomática na República Popular da China, Jânio Quadros renunciou ao cargo de Presidente da República. Os ministros militares Odílio Denys (Exército), Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e Sílvio Heck (Marinha) tentaram impedir a posse de Jango, e o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, foi empossado presidente.
Presidente da República
A renúncia de Jânio Quadros criou uma grave situação de instabilidade política. Jango estava na China e a Constituição Brasileira era clara: o vice-presidente deveria assumir o governo. Porém, os ministros militares se opuseram à sua posse, pois viam nele uma ameaça ao país, por seus vínculos com políticos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Apesar disso, não havia unanimidade nas altas esferas militares sobre o veto a Jango.
Liderada por Leonel Brizola, cunhado de Jango e governador do Rio Grande do Sul, teve início o que ficou conhecido como Campanha da Legalidade. Leonel Brizola e o general Machado Lopes, comandante do III Exército, baseado no Rio Grande do Sul, mobilizaram o estado em defesa da posse de Jango. Usando uma cadeia de mais de cem emissoras de rádio, o governador gaúcho conclamava a população a sair às ruas e defender a legalidade. A Campanha da Legalidade logo recebeu o apoio dos governadores Mauro Borges Teixeira, de Goiás, e Ney Aminthas de Barros Braga, do Paraná.
No Congresso Nacional, os parlamentares também se opuseram ao impedimento da posse de Jango. Na volta da China, Goulart aguardou em Montevidéu, capital do Uruguai, a solução da crise político-militar desencadeada após da renúncia de Jânio Quadros. Como os militares não retrocediam, o Congresso Nacional fez uma proposta conciliatória: a adoção do parlamentarismo. O presidente tomaria posse, preservando a ordem constitucional, mas parte de seu poder seria deslocada para um primeiro-ministro, que chefiaria o governo.
No dia 2 de setembro de 1961, o sistema parlamentarista foi aprovado pelo Congresso Nacional. No dia 8, Jango assumiu a Presidência da República.Tancredo Neves, do PSD de Minas Gerais, ministro do Governo Vargas, tornou-se primeiro-ministro.
Tancredo Neves demitiu-se do cargo em julho de 1962 para concorrer às eleições de outubro do mesmo ano, que iriam renovar o Congresso Nacional e eleger os governadores. Goulart articulou a retomada do Regime Presidencialista. Após a saída de Tancredo Neves, tornou-se primeiro-ministro o gaúcho Francisco de Paula Brochado da Rocha, também do PSD, que deixou o cargo em setembro do mesmo ano, sendo sucedido por Hermes Lima.
Em 1962 o governo divulgou o Plano Trienal, elaborado pelo economista Celso Furtado, para combater a inflação e promover o desenvolvimento econômico. O Plano Trienal falhou, após enfrentar forte oposição, e o governo brasileiro se viu obrigado a negociar empréstimos com o Fundo Monetário Internacional, o que exigiu cortes significativos nos investimentos.
Nesse período foi convocado um plebiscito sobre a manutenção do parlamentarismo ou o retorno ao presidencialismo, para janeiro de 1963. O parlamentarismo foi amplamente rejeitado, graças, em parte, a uma forte campanha publicitária promovida pelo governo.