segunda parte 
 

Plano Cruzado
 
Em março de 1986 o presidente José Sarney e sua equipe econômica liderada pelo ministro da fazenda Dilson Funaro lançaram o Plano Cruzado de combate à inflação, sendo o principal ponto o congelamento dos preços. José Sarney apelava à população para que todos se tornassem fiscais e denunciassem fraudes ao congelamento de preços. A popularidade de José Sarney aumentou num ano de eleição para os governos estaduais. No programa de televisão de seu partido, Leonel Brizola enunciou que o plano econômico era apenas uma estratégia para garantir a vitória do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido de José Sarney, na maioria dos estados e que depois das eleições a inflação voltaria. A previsão de Leonel Brizola veio a se confirmar: o PMDB elegeu governadores em 22 dos 23 estados da época e após as eleições houve a liberação dos preços, com a volta da inflação.

Briga Com a Rede Globo
 
Marcaram bastante na carreira de Leonel Brizola os desentendimentos que teve com os grandes monopólios da comunicação, em especial com as Organizações Globo.
 
Roberto Marinho, que controlava o jornal O Globo e a Rádio Globo, fez pressão contra Leonel Brizola quando este postulava o cargo de Ministro da Fazenda deJoão Goulart. Roberto Marinho foi um dos empresários que apoiou o Golpe de 1964, golpe que forçou Leonel Brizola a ir para o exílio.
 
Em 1982 Roberto Marinho foi acusado de participar do caso Proconsult, que visava impedir a vitória de Leonel Brizola na eleição para governador de 1982, favorecendoMoreira Franco. O plano de fraude eleitoral foi denunciado pelo Jornal do Brasil e abortado após Leonel Brizola denunciá-lo pessoalmente na imprensa.
 
Em 1984 Leonel Brizola quebrou o monopólio da Rede Globo nas transmissões de carnaval, concedendo o direito também à Rede Manchete. A emissora de Roberto Marinho então desistiu de cobrir o evento. A expressiva queda de audiência durante os desfiles fizeram a Rede Globo recuar e aceitar transmitir o evento a partir de 1985 em pool com a Rede Manchete.
 
Em 1989 Leonel Brizola, que liderava as pesquisas de opinião para eleição presidencial, se sentiu sabotado pela Rede Globo após esta ter veiculado acusações pessoais contra ele em rede nacional. Leonel Brizola encarou o fato como um favorecimento da Rede Globo a candidatura de Fernando Collor de Melo, ex-governador de Alagoas e que acabou por vencer o pleito.
 
Em 1992, Roberto Marinho, em um editorial no jornal O Globo e no noticiárioJornal Nacional, chamou Leonel Brizola de "senil". Isso valeu direito de resposta a Leonel Brizola no Jornal Nacional, que foi lido por Cid Moreira, dois anos depois, em 1994.
 
Ainda em 1994, Leonel Brizola teve outro sério atrito com a Rede Globo, após exibição de uma reportagem sobre Neusinha Brizola, onde ela lhe fazia pesadas críticas. Anos depois, Leonel Brizola ganharia direito de resposta na emissora.

Boato do "El Ratón"
 
Algum tempo após Leonel Brizola ser obrigado a ir para o exílio, surgiu um boato a respeito de um acontecimento que teria gerado uma discórdia entre o presidente de Cuba Fidel Castro e Brizola.
 
Pelo boato, Brizola teria tido um encontro em Cuba com Fidel Castro para tentar conseguir deste apoio financeiro para a organização de um movimento armado contra o regime militar brasileiro. Fidel Castro então teria dado a Leonel Brizola cerca de 1 milhão de dólares para financiar a denominada Revolução Socialista no Brasil.
 
O que teria acontecido após esse encontro, segundo este boato, é que Leonel Brizola teria dado uma ínfima parte do dinheiro para pouquíssimos aliados revolucionários e teria embolsado a maior parte do dinheiro que recebera, utilizando o dinheiro para comprar fazendas no Uruguai e na Austrália, o que explicaria o grande patrimônio acumulado por Leonel Brizola durante os anos de exílio.
 
Pelo boato, após tomar conhecimento do ocorrido, Fidel Castro teria ficado muito aborrecido com Leonel Brizola e passado a se referir a este como "El Ratón" (o Rato, em espanhol).
 
Alguns anos depois, durante uma visita ao Brasil já após a redemocratização,Fidel Castro teria afirmado a um colunista do Jornal do Brasil que jamais houvera"El Ratón", o que pode ser encarado então como um desmentido oficial de Fidel Castro.
 
Na verdade, a fazenda no Uruguai havia sido herança da família de sua esposa,Neuza Goulart.

Declarações Polêmicas: Eleições de 1989
 
No terceiro em uma série de debates televisionados ao vivo no primeiro turno, naRede BandeirantesLeonel Brizola discutiu duramente com o presidenciável Paulo Maluf, cuja carreira foi ligada a setores conservadores. Num dado momento do debate este chamou Leonel Brizola de desequilibrado. Logo em seguida, diante dos convidados, os que assistiam o debate, que "apoiariam" em peso o presidenciável do Partido Democrático Social (PDS), na ótica de Leonel Brizola, respondeu chamando-os de "filhotes da ditadura" e completou dizendo que estes todos engordaram na ditadura. O apelido de "filhote da ditadura" acabou por acompanhar Paulo Maluf por muitos anos.
 
Ao ser indagado, maldosamente, por uma repórter da TV Globo se teria fugido para o Uruguai vestido de mulher, Leonel Brizola respondeu "Sim, tua mãe me emprestou as calcinhas!". No programa "Show de Calouros", de Silvio Santos, respondendo à mesma pergunta feita então por Sérgio MallandroLeonel Brizola, um tanto aborrecido, respondeu que na verdade fugiu para o Uruguai vestido em farda militar.
 
Ao ser indagado sobre apoiar Lula no segundo turno, Leonel Brizola disse: "Cá para nós: um político de antigamente, o senador Pinheiro Machado, disse que a política é a arte de engolir sapos. Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos…" Essa declaração causou revolta na campanha de Lula, que passou a ser conhecido, ironicamente, como "Sapo Barbudo".

Declarações Polêmicas: Lula e Alcoolismo
 
A última polêmica em que Leonel Brizola se envolveu foi por ocasião de entrevista ao jornalista estadunidense Larry Rohter, correspondente do The New York Times, na qual mencionou o suposto "alto consumo habitual de bebidas alcoólicas" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na matéria jornalística, o jornalista utilizou a declaração de Leonel Brizola, entre outras fontes, para fundamentar uma acusação de alcoolismo contra o presidente Lula.
 
Desafetos Políticos
 
César Maia: Assessor direto de Leonel Brizola em suas campanhas, César Maiarompeu com Leonel Brizola ao apoiar publicamente o plano econômico deFernando Collor em 1990, quando era o nome mais cotado para concorrer ao governo do estado do Rio de Janeiro. Migrou, na época para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e hoje está no Democratas (DEM).
 
Marcello Alencar: Aliado de Leonel Brizola, prefeito do Rio de Janeiro indicado por ele em 1983, apoiado por ele nas eleições de 1988 e um de seus possíveis sucessores na liderança do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Marcello Alencar começou um rompimento com Leonel Brizola em 1992, quando era prefeito do Rio de Janeiro, e discordou de sua posição em escolher Cidinha Campos como candidata a prefeita. Marcello Alencar queria indicar seu colaborador Luiz Paulo Corrêa da Rocha e foi impedido. Migrou então para oPartido da Social Democracia Brasileira (PSDB) levando seu grupo político que estava dentro da legenda pedetista.
 
Anthony Garotinho: Político de Campos, cidade do interior do estado. Garotinho, apontado como um dos possíveis sucessores de Leonel Brizola, rompeu com este em 2000 quando era governador. Se desligou do Partido Democrático Trabalhista (PDT, foi para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, em seguida, para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Atualmente está noPartido da República (PR). Antes de sua morte, Leonel Brizola e Garotinhoreconciliaram-se.
 
Outros Desafetos de Brizola: Saturnino BragaJaime LernerAgnaldo Timóteo e Dante de Oliveira.
 
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Jogo do Bicho e o Crime Organizado
 
Quando governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola foi acusado de ter ligações com os contraventores do jogo do bicho e de ser omisso no combate ao tráfico de drogas.
 
Segundo seus críticos, o governo do pedetista teria sido fundamental para a consolidação do crime organizado no Rio de Janeiro. Essa percepção acontecia porque Leonel Brizola adotou uma linha de ação na qual a polícia só poderia fazer incursões em favelas baseadas no respeito aos direitos humanos, fato que perdura até hoje, com a forte intervenção de ONGs ligadas aos direitos humanos nas políticas de segurança pública do Brasil, em contraposição ao que era considerado por ele como arbitrariedade do Estado.
 
A política do confronto armado, adotada pelos seus antecessores Chagas FreitasMoreira Franco, foi abolida, desta forma o crime organizado cresceu e se fortaleceu. Este fato passou para a opinião pública a impressão de permissividade e colaboracionismo com a ilegalidade.
 
Os brizolistas o defendem lembrando que já no início de 1981 a imprensa dava conta da existência de uma guerra civil no Rio de Janeiro. Informação esta de caráter duvidoso, pois boa parte dos noticiários policiais são de cunho sensacionalista.
 
É fato, entretanto, que a TV Globo passou a destacar muito mais o problema da criminalidade no Rio de Janeiro durante o governo Leonel Brizola, ignorando problemas idênticos em outros estados, como São Paulo e Bahia, governada na época por Antônio Carlos Magalhães, amigo pessoal de Roberto Marinho, dono das Organizações Globo. Isso criou uma falsa imagem que o Rio de Janeiro era a cidade "mais violenta do mundo", prejudicando o turismo carioca e favorecendo o turismo baiano.
 
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Enriquecimento
 
Em 2001, a revista Veja veiculou matéria em que apontava que Leonel Brizola teria quadruplicado o seu patrimônio após a volta do exílio. A matéria foi, supostamente, "baseada" em documentos cedidos pelo próprio filho deLeonel BrizolaJosé Vicente.
 
De acordo com a revista, os documentos cedidos por José Vicente apontavam que o patrimônio de Leonel Brizolaaumentara em 10,7 milhões de reais. O que, segundo a revista, seria incompatível com os rendimentos oriundos do seu salário de governador. Em 1983, às vésperas de assumir seu mandato como governador do Estado do Rio de Janeiro, possuía um patrimônio de quatro milhões e meio de reais. Ao morrer, seus bens somavam pelo menos quinze milhões. De acordo com Leonel Brizola, seu patrimônio teria sido herança de sua falecida mulher, Neusa, irmã do presidente João Goulart. Segundo ele, o patrimônio é resultado de investimentos feitos com estes recursos herdados e de rendimentos provenientes de suas fazendas.
 
Leonel Brizola não foi acusado formalmente ou judicialmente de enriquecimento ilícito. Ele contestou a reportagem de Veja em um direito de resposta inserido na edição subsequente da revista. A reportagem que revelava a evolução patrimonial de Leonel Brizola foi objeto de protestos na Câmara dos Deputados (20 discursos) e no Senado Federal (18 discursos).
 
Em 2000, José Vicente havia brigado com o pai e se desfiliado do Partido Democrático Trabalhista (PDT), indo para o Partido dos Trabalhadores (PT). Numa manobra política, José Vicente foi nomeado Diretor das Loterias do Estado, contra a vontade de seu pai. Como o cargo exigia a graduação em nível superior, o Partido dos Trabalhadores mandou para a Assembleia Legislativa um projeto de lei modificando este critério, para poder nomear José Vicente. Na ocasião Leonel Brizola desabafou dizendo que José Vicente não era mais seu filho e sim filho político do governador Olívio DutraLeonel Brizola atribuiu a veiculação da reportagem ao Partido dos Trabalhadores gaúcho e ameaçou processar a revistaVeja, o Partido dos Trabalhadores e o próprio filho. Na ocasião, Leonel Brizolaainda acusou José Vicente de abusar da bebida.
 
Até o seu falecimento, Leonel Brizola nunca chegou a processar a revista. Seu filho, José Vicente, durante o velório do pai, declarou que tinha havido a reconciliação dos dois alguns dias antes do falecimento.
 
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Falecimento
 
Seis dias antes de morrer, Leonel Brizola chegou à sua residência no Rio de Janeiro, vindo de sua fazenda no Uruguai, com infecção intestinal e forte gripe. Apresentava febre e vômitos e estava bastante debilitado. Apesar de acamado, continuou a receber visitas de políticos, entre os quais Anthony Garotinho e sua filha Clarissa Mateus, além de seus afilhados políticos Carlos LupiJorge Roberto Silveira e de seu ex-rival Moreira Franco.
 
Sua situação piorou ainda mais três dias depois. Depois de muita resistência,Leonel Brizola concordou em ir a um hospital nas proximidades. Uma tomografia dos pulmões mostrou Infecção Respiratória (pneumonia). Feita ultra-sonografia do coração, nada de anormal foi encontrado.
 
Leonel Brizola estava entrando no elevador para deixar o hospital quando, segundo seu médico particular, apresentou um edema no pulmão, significando graveInsuficiência Cardíaca. Novos exames confirmaram Infarto Agudo do Miocárdio. Brizola morreu às 21:20 hs do dia 21 de junho de 2004.
 
Seu funeral foi marcado por ampla cobertura das redes de televisão. O presidenteLula, ex-aliado e à época adversário, decretou luto oficial de três dias por ocasião de seu falecimento, e compareceu ao seu velório no Palácio Guanabara.
 
Depois de ainda ter sido velado em Porto Alegre, Leonel Brizola foi sepultado em São Borja, na fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, onde também se encontram os túmulos de Getúlio Vargas e João Goulart.
 
Vida Pessoal
 
Leonel Brizola foi casado com Neusa Goulart, falecida em 1993, com que teve uma filha, Neusinha Brizola, falecida em 2011, e dois filhos, José Vicente Brizola, ex-deputado federal e falecido em 2012, e João Otávio.
 
Nos últimos dez anos de vida, sua companheira foi Marília Martins Pinheiro.