Garôto
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ANÍBAL AUGUSTO SARDINHA
(39 anos)
Compositor e Violonista
* São Paulo, SP (29/06/1915)
+ Rio de Janeiro, RJ (03/05/1955)
CANCER
 
Anibal Augusto Sardinha, mais conhecido como Garôto, era filho dos imigrantes Portugueses, Antônio Augusto Sardinha e Adosinda dos Anjos Sardinha. Nasceu no centro de São Paulo em 28 de junho de 1915.
 
Garoto começou a trabalhar desde cedo. Aos 11 anos, já era ajudante de uma loja de música no Bras. Neste mesmo ano, ganhou de seu irmão seu primeiro instrumento,
um Banjo. Pode-se dizer que naquele dia, Garôto iniciou sua carreira. Alguns meses depois, já estava tocando no "Regional dos Irmãos Armani", e começou a ser chamado de "O Moleque do Banjo" e posteriormente "Garôto".
 
Em uma entrevista para o jornal Correio Paulistano, de Dezembro de 1949, Garôto relembra:
 
"Em 1929, no Palácio das Industrias, tive minha primeira oportunidade, tocando com Canhoto, Zezinho e Mota, para um programa da General Motors. Éramos um grupo grande. Tempos depois, formamos uma Orquestra, com uniforme, gravatinha preta e calça de flanela, e depois comecei a tocar sozinho, e com o falecido Pinheirinho Barreto e Aluisio Silva formamos um novo grupo. Foi quando gravamos "Zombando da Morte", um samba que se tornou muito popular."
 
Em 1927, a vitrola chegou ao Brasil, e provavelmente Garôto fez sua primeira gravação em 1929 com Paraguassu (seu tutor na época). Daí em diante, Garôto começou a trabalhar intensamente, tocando por todo o Estado de São Paulo em todo o tipo de ocasião.
 
Mas São Paulo ficou pequeno para seu talento, e foi para o Rio de Janeiro em 1938 com o firme propósito de dar nova direção à sua carreira. Não imaginava que sua estadia no Rio seria breve, mas muito intensa.
 
Começou a trabalhar na Rádio Mayrink Veiga, que tinha um elenco de grandes estrelas, como Carmen Miranda e Laurindo de Almeida. Com Laurindo, formaram o duo de ritmo sincopado, e o grupo "Cordas Quentes".
 
O duo participou de várias sessões de gravação, para Henricão, Carmen Costa, Jararaca e Zé Formiga, Alvarenga e Ranchinho, Dorival Caymmi, Ary Barroso e Carmen Miranda, para citar alguns.
 
No final de 1939, a grande surpresa: os Estados Unidos, a convite de Carmem Miranda.
 
Êle aceitou o convite, e em 18 de outubro de 1939 embarcou no navio Uruguay para os Estados Unidos, para uma estadia que entre outras coisas rendeu-lhe o título de
"O homem dos dedos de ouro", dado pelo organista Jesse Crawford.
 
Se tornou uma atração extra. Enquanto Carmen atraía para si grandes platéias, ávidas para descobrir o que é que a Baiana tem, que as outras mulheres não têm, uma
platéia diferente composta de grandes nomes do Jazz e seus adeptos, compareciam aos shows, maravilhados pelo músico jovem e virtuoso vindo de uma terra distante.
 
Êle não simplesmente acompanhava Carmen Miranda. Sua habilidade no instrumento, e seu estilo pessoal ao interpretar as Marchas e Sambas que Carmen cantava, era o bastanta para projetá-lo. Duke Ellington e Art Tatum eram, entre outros, assíduos na platéia.
 
Quando os shows de Carmen Miranda terminavam, Garôto se apresentava sozinho, para uma platéia ávida para tomar conhecimento daquela nova concepção que ele estava introduzindo no mundo da música.
 
Após oito meses trabalhando para Carmen Miranda, em diversas cidades
americanas, Broadway, filmes e até tocando para o Presidente Roosevelt na Casa Branca, Garôto voltou ao Rio, para começar
a jornada mais longa de sua vida, que durou quinze anos.
 
Nos últimos quinze anos de sua vida, Garôto trabalhou muito, em sessões de gravação,
fazendo concertos, e compondo algumas das mais lindas canções, choros esambas que os Brasileiros jamais tinham ouvido, algumas vendendo mais de um milhão de cópias.
 
Com sua maneira de interpretar o Samba e o Choro ao violão e de compor, Garôto foi o homem que deu novo rumo à Música Popular Brasileira, infuenciando alguns dos maiores nomes da nova geração, indicando o caminho que levou a alguns anos depois à chamada Bossa Nova.
 
Conta Waldemar Henrique, que viveu e compreendeu muito bem aquela época:
 
"Não foi uma transformação. Foi um grande período de gestação, conscientização, compositores lúcidos que estavam à procura da modernidade, quebra de regras,
influências, lutando contra a pobreza e o preconceito.
 
Desde Pixinguinha (Carinhoso), Ary Barroso (Faceira) Dorival Caymmi (Dora), Garôto (Duas Contas), Dolores Duran (Por Causa de Você), a "coisa" estava sendo criada, as flores brotando no jardim maravilhoso que hoje apreciamos.
 
O verdadeiro mestre, o guia modesto, a figura forte que preparou a concepção da Bossa Nova foi Garôto.
 
Ao redor de seu violão maravilhoso, estavam Radames Gnatali, Chiquinho
e alguns meninos, que "garimpavam" noite e dia; João Donato, João Gilberto, Tom Jobim, Ed Lincoln, Vandré, Luíz Bonfá, Luiz Eça e Dolores Duran.
 
Mais tarde, Tom Jobim se juntou a dois excelentes poetas, Ismael Neto, do Pará, e Vinicius de Moraes, levando a Música Brasileira à escalada magistral que Garôto não viu, porque a morte veio buscá-lo.
 
Faleceu em 1955 de Ataque Cardíaco, quando planejava uma excursão à Europa. Sem dúvida, um dos grandes instrumentistas brasileiros, deixou para o violão composições da maior relevância do ponto de vista musical e técnico, aliando à harmonização sofisticada e de extremo bom gosto, uma linha melódica de contornos modernos e tipicamente brasileiros, sempre com grande musicalidade e beleza.
 
Em 1993, a produtora Brasileira "Projeto Memória Brasileira", patrocinada por Violões Di Giorgio, lançou um CD, com as únicas gravações feitas por Garôto tocando sozinho, e nunca antes lançadas. É o único registro de seu talento.

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