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ABEL FERREIRA - Músico - Coromandel - MG - Aquario

ABEL FERREIRA
(65 anos)
Instrumentista, Arranjador e Compositor

* Coromandel, MG (15/02/1915)
+ Rio de Janeiro, RJ (13/04/1980)

Foi autodidata, e não apenas na música, pois a família impediu seus estudos, obrigando-o a trabalhar desde pequeno em diversos ofícios. Tanto a escolaridade quanto a educação musical vieram às escondidas. O aprendizado da música nasceu do estímulo de escutar a banda filarmônica de sua cidade.

Há registros de que aos cinco anos tocava gaita e aos sete flauta de bambu. Aos 12 anos, depois de ter-se iniciado por conta própria em teoria musical através de um método da década de 1920 chamado "Artinha", experimentou pela primeira vez uma clarineta de 13 chaves, sob a orientação de um obscuro professor de Coro Mandel, de nome Hipácio Gomes.

"Esparramei os dedos do menino no instrumento", comentou Hipácio Gomes, 30 anos mais tarde. Abel Ferreira não teve nenhum outro professor de música, nem antes, nem depois.

O contato com o saxofone veio aos 15 anos de idade. Conta-se que, sabendo da existência de um sax alto numa outra cidade de Minas Gerais, Abel Ferreira viajou horas de trem apenas para conhecer o instrumento, que nunca havia visto. Aprendeu sozinho. Embora intuitivo, Abel tinha ouvido absoluto e aprendeu a escrever música, dominava a teoria musical, fazia arranjos e tocava piano.

O fato é que Abel trouxe a música dentro de si e dela não mais se separou. Nem de seu instrumento, o clarinete, que carregava para todo lado, lembrando os tempos de moleque em que desmontava peça por peça para tê-lo sempre nos bolsos.
Aos doze estreou na banda de sua cidade e mais tarde começou a se destacar nas orquestras que tocava.

Aos 17 mudou-se para Belo Horizonte e passou a tocar sax alto e tenor, apresentando-se na Rádio Guarani. Tendo passado por Belo Horizonte e Uberaba, foi aconselhado depois pelo maestro Gaó a seguir para São Paulo, onde conseguiu finalmente se profissionalizar.

Em 1935 foi para São Paulo, ingressando na orquestra de Maurício Cascapera. Em seguida mudou-se para Uberaba, onde se tornou diretor artístico da emissora de rádio local. Nessa época participou de um show em Poços de Caldas, em que acompanhou as irmãs Carmen Miranda e Aurora Miranda.

De volta a Belo Horizonte, tocou em 1937 com J. França e Sua Banda. Com o mesmo grupo apresentou-se em São Paulo, em 1940, e mais tarde com Pinheirinho e seu Regional, na Rádio Tupi paulistana. Gravou suas primeiras composições, o choro Chorando Baixinho, em solo de clarineta, e a valsa Vânia, em solo de saxofone, em 1942, na Columbia de São Paulo, com o acompanhamento de Pinheirinho e seu Regional.

No ano seguinte foi para o Rio de Janeiro onde passou a tocar com Ferreira Filho e sua Orquestra, no Cassino da Urca, lançando em 1944 uma nova gravação de suas primeiras composições, dessa vez com Claudionor Cruz e seu Regional. Em 1945 e 1946 tocou, respectivamente, nas orquestras de Vicente Paiva e Benê Nunes, apresentando-se em cassinos e na Rádio Globo. Fez duetos memoráveis com Zé da Velha e com Pixinguinha, com quem gravou Ingênuo em 1958.

Com esses conjuntos musicais, e com o seu grupo, formado em 1947, acompanhou vários cantores importantes da época, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba e outros.

Em 1949 ingressou na Rádio Nacional, onde passou a se apresentar como líder da Turma do Sereno. Tocou no mesmo ano com Ruy Rey e sua Orquestra, gravando na Todamérica seu choro Acariciando (com Lourival Faisal). Com Paulo Tapajós, seu companheiro na Rádio Nacional, formou em 1952 a Escola de Ritmos, que viajou por todo o Brasil.

Viajou em 1957 com seu conjunto em tournée por Portugal e em 1958 integrou o grupo Os Brasileiros, do qual também participavam Shuca, Trio Irakitan, Dimas, Pernambuco e o maestro Guio de Morais, em excursão de divulgação de música brasileira em vários países europeus, gravando ainda o Long Play Os Brasileiros na Europa. Viajou pelos Estados Unidos, inclusive Hawaii, com o pianista Benê Nunes, em 1960, e pela Argentina com Waldir Azevedo, em 1961.

Voltou à Europa em 1964-1965, gravando nesse último ano o disco Abel Ferreira e Sua Turma. Visitou a União Soviética e outros países europeus em 1968.

Na década de 1970, principalmente a partir do lançamento do Long Play Pra Seu Governo, de Beth Carvalho, na gravadora Tapecar, tornou-se um dos músicos mais requisitados em gravações e shows, como acompanhante, no sax e na clarineta.

Legítimo herdeiro da categoria do clarinetista Luís Americano, aposentou-se no rádio em 1971, tendo durante esses anos composto vários choros que se incorporaram aos clássicos instrumentais:Doce Melodia é um exemplo.

Com a redescoberta do choro e a criação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro, em meados de 1975, voltou à atividade, passando a apresentar-se, ao lado de Raul de Barros e Copinha em vários shows de teatro.

Nas contas do próprio Abel Ferreira, compôs mais de cinquenta músicas, entre elas Acariciando, Luar de Coromandel e Chorinho do Suvaco de Cobra. Viajou o mundo todo e até seus últimos anos de vida continuou soprando o instrumento, em shows com Copinha e Raul de Barros.

Quando morreu, em 1980, era considerado o mestre maior da clarineta brasileira. Luís Americano, desaparecido 20 anos antes, havia deixado poucas gravações de boa qualidade, e no final da vida o vigor de seu sopro já não era o mesmo. Abel era soberano, e encantou jovens platéias pelo Brasil quando excursionou, junto com Ademilde Fonseca, no Projeto Pixinguinha, em 1976.

Tão importante quanto o intérprete é o Abel compositor. Algumas de suas invenções, muitas vezes transpassadas por uma melancolia que lhes imprime um caráter intimista, tornaram-se clássicos. Acariciando, Doce Melodia, Levanta Poeira, Chorinho do Sovaco de Cobra e, principalmente, Chorando Baixinho, são melodias de tal forma identificadas com a alma musical brasileira que não há quem não se encante ao ouvi-las, pela enésima vez, numa roda de choro.

Abel tem algumas gravações lançadas em CD, onde se encontram diversas versões de seus maiores sucessos. Brasil, Sax e Clarineta (Discos Marcus Pereira), de 1976, tornou-se um de seus trabalhos mais premiados. Há também gravações coletivas antológicas, com Arthur Moreira Lima e o Época de Ouro, e o excelente Chorando na Praça com Paulo Moura, Copinha, Zé da Velha, Joel Nascimento e Waldir Azevedo.

Abel Ferreira, mineiro de alma derramada como o luar de sua Coromandel, que homenageou numa valsa, é daqueles transmitem a boa sensação de permanência da música brasileira. Chorando baixinho, para sempre.

Discografia

1942 - Chorando Baixinho / Vânia (Columbia)
1943 - Haroldo no Choro / Sururu no Galinheiro (Columbia)
1950 - Polquinha Mineira / Doce Melodia (Todamerica)
1951 - Galo Garnizé / Chorinho ao Luar (Todamérica)
1951 - Minha Vida / Balança Mas Não Cai (Todamérica)
1951 - Baião no Deserto / Chorinho do Bruno (Continental)
1952 - Sonho Negro / Tristesse - Opus 10 nº 3 (Todamérica)
1952 - Indiferença / Mexidinho (Todamérica)
1953 - Uma Noite em São Borja / Baiãozinho Bom
1953 - Louco de Amor / Chorando Baixinho (Todamérica)
1953 - O Avião / Melancolia (Todamérica)
1954 - Menezes no Choro / Sai da Frente (Todamérica)
1954 - Jantar Dançante (Copacabana)
1955 - Constantemente / Acariciando (Todamérica)
1955 - No Tempo do Cabaré (Copacabana)
1956 - Doce Mentira / Barco Veleiro (Continental)
1956 - Aquela Noite / Imperial (Continental)
1956 - Coração em Férias / Saudade Gostosa (Todamérica)
1958 - Jantar Dançante - Abel Ferreira e seu Conjunto (Copacabana)
1959 - Recado / Lamento (Copacabana)
1962 - Chorando Baixinho - Abel Ferreira e seu Conjunto (Odeon)
1964 - Abel Ferreira e a Turma do Sereno (Odeon)
1976 - Brasil, Sax e Clarineta (Discos Marcus Pereira)
1977 - Choro na Praça
1977 - Abel Ferreira e Filhos (Discos Marcus Pereira)
1978 - Abel Ferreira e seu Conjunto (RGE)
1979 - Chorando Baixinho - Um Encontro Histórico