Meu pai me ensinou
Meu pai me ensinou
Meu pai era músico e minha mãe adorava fazer suas tarefas domésticas cantarolando, por isso passei minha primeira infância bem antenada no quesito música e assim como minha mãe, eu era uma caixinha de música ambulante.
Meu pai gostava de fazer seresta com os amigos músicos, era a turma dele, né?
Naquela época os artista gostavam da boemia e meu pai não fugia à regra, muito embora, e aqui merece uma explicação para evitar mal-entendido, apesar dele se dedicar à música (tocava Piston - Trompete, foi autor de algumas letras/músicas de ser registrado na Ordem dos Músicos do Brasil, em Salvador, suas músicas tinham registro de direito autoral, mas esse assunto vai ser retomado num outro capítulo), também trabalhava num escritório - trabalho burocrático - era tipo, guarda-livros, assim era chamado o profissional que trabalhava com contabilidade, numa empresa americana, logo, a boemia era só e apenas nos fins de semana possíveis.
Meu pai adorava nos ensinar (a mim e a minhas irmãs), tudo quanto fosse possível uma criança aprender e entre essas "tantas" coisas, eu me lembro da primeira música que aprendi a cantar com ele, era assim:
Timidez 🎶
"Há muito tempo que eu
Estou amando você,
Porém me falta coragem
Pra declarar-me porque
Você é tão retraída,
E eu retraído sou
Por isso nenhum de nós
Ainda se declarou.
No dia em que eu
Perder a timidez,
Direi ao seu ouvido de uma vez,
Não há pintor que retrate
O seu encanto porque,
A natureza gastou
Quanto tinha de belo,
Em você."
(Composição de Adelino Moreira - lançado em 1959 por Gilberto Milfont).
Como se hoje fosse, me recordo a fisionomia do meu pai me ensinando a letra dessa música, que hoje considero dífícil para uma criança aprender, naquela época, com tão pouca idade.
Foi o primeiro passo! Eu aprendi as músicas da época e botava a boca no mundo! Às vezes eu me empolgava tanto que me atrapalhava na letra, tipo: "meu coração caiu de cima do armário!" Era "meu violão" e minhas irmãs caiam na gargalhada! Era até divertido! Haha!
Guardo muitas e boas lembranças da pessoa fantástica e do músico vanguardista que foi meu pai. A música na minha vida é como se fosse o alimento da minha alma.
Mas confesso que não consigo mais aprender essas músicas cantadas atualmente, porque as letras, na sua maioria não me agradam.
Música é uma coisa ligada a sentimento. Vez em quanto um amigo/a me manda alguma música dizendo: "ouvi essa música e me lembrei de ti." rs
Mas curiosamente quando estudante eu não gostava da matéria música, a professora era bem chatinha, ela nem fazia questão de disfarçar sua antipatia por mim e eu tomei ranço dela, de forma que não me interessava a técnica de solfejo que ela ensinava, apenas cumpria tabela pela nota, sem interesse algum. Hoje eu me recordo da fisionomia dela com sentimento de carinho.
Enfim, eu costumo ligar pessoas, momentos, lugares, situações à música. Ela é intrinsecamente ligada a minha espiritualidade. Não à toa meditar com música é deixar não apenas os ouvidos, mas todo o corpo e alma escutarem.
Fathma Oliveira