ORLANDO SILVA - Cantor - RJ - Libra
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* Rio de Janeiro, RJ (03/10/1915)
+ Rio de Janeiro, RJ (07/08/1978)
(62 anos)
Cantor

Orlando Garcia da Silva nasceu em 1915, no Engenho de Dentro, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, e foi criado nas camadas mais humildes do subúrbio carioca.

Sua casa respirava música popular. Seu pai, ferroviário, era ótimo violonista, tendo tocado com Pixinguinha. Mas morreu quando ele tinha apenas três anos, vítima da Gripe Espanhola, em 1918. Sua mãe, lavadeira, casou-se de novo - com um guarda municipal, com quem teve quatro filhos (além dos três do primeiro casamento).

A infância e a adolescência de Orlando Silva foram sacrificadas. Muito cedo - logo após o primeiro ano do primeiro grau - ele viu-se obrigado a parar de estudar, indo trabalhar para ajudar no sustento da casa. Foi carregador de marmitas, estafeta, operário numa fábrica de cerâmica, aprendiz de sapateiro e trocador de ônibus.

Quando tinha 16 anos de idade, seu padrasto morreu louco e aconteceu o mais trágico de sua vida. Ele tentou tomar um bonde em movimento e sofreu um acidente - a roda pegou seu pé esquerdo - que lhe custou a amputação de alguns dedos. Permaneceu quatro meses internado numa enfermaria, onde, para aliviá-lo das fortes dores, os médicos lhe aplicaram morfina. Orlando ficou com um defeito para o resto da vida, o de puxar da perna.

Moço introvertido, ele só superava a timidez quando cantava - em festinhas e rodas de amigos. A idéia de cantar profissionalmente veio depois do acidente. Era uma saída, para quem tinha o seu problema físico. De início, ele foi ser trocador de ônibus, onde podia trabalhar sentado e onde cantarolava: assim, logo se tornou conhecido de muitos passageiros, que passaram a incentivá-lo a tentar a carreira artística.

Mulato claro, trajando-se modestamente, o tipo exato do carioca suburbano da época, ele fazia "o modelo do antimodelo de artista e de grande ídolo, ainda mais puxando de uma perna", nas palavras de seu biógrafo Jonas Vieira. Por isso mesmo, os diretores de rádios negaram-lhe crédito naqueles tempos.

O compositor e grande boêmio carioca Bororó foi quem se dispôs a ouvi-lo cantar atentamente. Em seguida, tomou a iniciativa de apresentá-lo ao cantor Francisco Alves, insistindo para que este o escutasse.

Francisco Alves o lançou no programa que tinha na rádio Cajuti, em 1934, e o ajudou no início de carreira, instruindo-o na forma de usar o microfone e na condução dos negócios.

Quis também lhe dar o nome artístico de Orlando Navarro. Com isso o jovem cantor não concordou, acatando, sim, a sugestão de Orestes Barbosa, de se chamar simplesmente Orlando Silva.

Orlando Silva foi o primeiro grande ídolo de massas que apareceu no Brasil. Nos anos do auge de sua trajetória, nenhum outro artista obteve tanta popularidade quanto ele no país. Suas apresentações ao ar livre atraíam então imensas concentrações de pessoas, daí ele ter recebido o epíteto de "O Cantor das Multidões".

Seu sucesso nessa fase - segunda metade da década de 30, primeira da seguinte - já foi comparado ao que Frank Sinatra teve, mas somente alguns anos depois, nos Estados Unidos. Moças e mulheres gritavam e desmaiavam à sua aparição, correndo atrás dele para agarrá-lo ou rasgar-lhe a roupa.

Nesse sentido, no contexto nacional, ele precedeu também, em quase trinta anos, a Roberto Carlos.

Mesmo com tanto êxito, Orlando Silva nunca abriu mão da qualidade do trabalho, a começar do repertório que gravou e cantou.

O ponto alto da sua carreira e da sua voz coincidiu com o tempo de contratado pela RCA Victor (hoje BMG), de 1935 a 1942. Mais ou menos a partir de 1945, porém, a voz começou a dar mostras de um problema que afetou a sua sonoridade cristalina, seu timbre perfeito e os seus agudos suavíssimos.

Orlando Silva se tornou o primeiro nome consagrado da música brasileira que sucumbiu ao uso de drogas pesadas. A sua ascensão meteórica teve um relativo ostracismo subsequente; da glória, consolidada pela paixão das massas, ele quase conheceu a obscuridade. Foi portanto uma trajetória tormentosa - e uma existência atribulada - a sua.

Apesar do problema vocal, sua interpretação se manteve a mesma até o fim de sua carreira, nos anos 70: excelente. Embora alguns (jornalistas sobretudo) considerem vertiginoso o declínio de sua voz, para outros (artistas principalmente), nenhum outro cantor do passado se comparou a ele mesmo em sua fase decadente.

Orlando Silva sofreu um AVC Isquêmico.

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