CORTINAS TRANSPARENTES
CORTINAS TRANSPARENTES
A silhueta estampada na janela
Revelava uma figura esguia.
Por detrás da cortina transparente
Quase ocultava um medo aparente.
Os fantasmas que rondavam seu jardim
Solicitavam uma solidão,
Uma metamorfose facial
Para camuflar a magia da noite.
O pessegueiro antigo defronte a casa,
Lançava na lua
Um espectro delirante,
Deixando no clima gélido
A sensação de fuga.
O ar quente que saia da sua boca
Impregnavam na janela
O desenho do tecido,
Que dançavam leve
Sob a brisa insistente.
Nada se revelava
Para que se fosse solucionado.
O medo, a angustia, a depressão
Eram sintomas que ficavam suspensos.
Nada entrava e nada saía.
Era um confronto de pouco movimento,
Onde a espera de uma incerteza
Seria o elemento surpresa descoberto.
Noite após noite o combate acontecia.
De um lado, a figura atrás das cortinas transparentes,
Do outro, expressões tomavam corpo
Onde o enredo seguia sem um final feliz.
Nem a morte seria o ideal,
Pois ao idealizar o fim
Seria o começo de um novo diário,
E escrever novas linhas
Deixar-na-iam exposta.
As vezes uma tez e um par de olhos
Transpassavam o bloqueio das cortinas.
Olhares curiosos procuravam nesse gesto
Uma saída, uma invasão.
Sozinha no andar superior,
As escadas rangiam sob a mudança do tempo.
Era o único barulho seco,
Que identificava movimento.
A cama levemente desarrumada
Destruía a sensação de aconchego.
Sobre a escrivaninha, envelope de carta,
Uma folha em branco somente com inicio de data
Indicava que houve uma vontade
De mandar uma mensagem pra alguém.
Não havia uma desordem no quarto
Que indicasse um desespero,
Mas uma solidão imperava.
Talvez se fosse mais transparente
Como essas cortinas,
Talvez conseguisse desvendar
O que corria no seu coração.
Pelo menos as cortinas são transparentes,
O muro a sua volta não é tão alto
E a porta de saída não está tão longe ou trancada.
Cortinas transparentes...
Revelem-se!
Di Camargo, 03/05/2012