História de Família (Memórias)
 
BeneditoBeneditoJoséJoséBenedito. Eram três os benditos filhos de minha avó Maria e meu avô Chico Caetano,sendo que dois eram gêmeos, três que se foram bem antes que eu viesse e por isso, só por isso não fazem parte da minha existência. E como se não bastasse houve um quarto Benedito, que chegou aos sessenta fez uma festa e me convidou e logo depois se mandou para a companhia dos outros abençoados filhos de meus avós. E havia também um José, o dos cabelos de fogo que também se foi, mas antes já tinha ido sua rubra cabeleira e que nunca mais desceu a rua de nossas casas e a gente sabia que ele estava passando, pois estava assobiando e que um dia me deu um presente que deixei perder e até hoje procuro esse presente como se achando o presente o achasse também. E houve outro de cabelos de fogo, que logo chegando o avô se foi e ele que seria o último foi o primeiro dos adultos a partir também deixando em mim um susto tão grande que mal posso dizer que me recuperei. Recebeu o nome do pai e porque era pequenino o nome no diminutivo ficou. E havia o mais velho de todos os meninos que ainda bem jovem teve que ajudar a mãe a fazer os outros crescerem como gente de bem, mas que também cedo se foi seguindo o canto das sereias e deixando tantos órfãos em Ithaca, os próprios filhos, os irmãos e os sobrinhos, até o povo da cidade que viam nele a figura de um pai, líder que era. Sua Penélope segue esperando, mas essa Penélope vai ter que desistir, pois para onde ele foi não tem volta e ele teve que continuar sua odisséia sem ele. E havia uma mulher que não só era uma mulher de verdade, mais que tudo uma mãe de verdade, perdida nas brumas da morte do filho não deu conta de ficar por aqui e se foi também e hoje certamente faz festa de família no céu, para a qual certamente convida todos da nossa grei, meu pai, meus irmãos, meu sobrinho liberto, parentes de sangue ou não.
 
E eis que os que foram doze, contando os três que nem conheci, só suas curiosas histórias onomásticas, e eis que dos que foram doze só quatro restaram, os sobreviventes: Clarita e Zenita, as duas mais velhas, as duas viúvas, minha tia madrinha, minha mãe. E ainda meu tio Mané, um homem tão lindo que joga por fora a teoria de minha mãe, de que velho é feio, pois ele não é e na minha visão, nem velho parece, tão bonito é para os olhos de todos. E dos quatro a caçula, a tia que nunca chamei de tia porque era menina quando eu nasci. Maria Aparecida, a Cida, a que honrando o nome foi se casar em Aparecida do Norte, talvez para dar sorte, pois isso ela tem, amada que é.

(Este texto certamente fará parte de meu livro de memórias, cujo nome será Uma casa na frente do rio, um rio no fundo da casa, texto já publicado aqui, também classificado como Biografia)